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Sábado - 07 de Maio de 2005 às 22:14

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A atriz Miriam Freeland não hesita em afirmar que a polêmica Patrícia Galvão, a Pagu, que ela interpretou, há mais de um ano, em Um Só Coração, da Globo, mudou a sua vida. No campo profissional, ela acredita que o seu desempenho na minissérie de Maria Adelaide Amaral foi determinante para lhe abrir novas portas.

Como, por exemplo, a da Record, que a convidou para interpretar Mila, uma das protagonistas de Essas Mulheres, de Marcílio Moraes. Já no âmbito pessoal, viver a musa da ala radical do Modernismo lhe ajudou a se tornar uma mulher mais ousada, destemida, audaciosa. Caso contrário, dificilmente aceitaria o convite da Record para trocar de cidade e morar, mesmo que provisoriamente, em São Paulo.

"A Pagu bagunçou a minha vida. Ela me ensinou, por exemplo, a não ser tão legal o tempo todo. Afinal, a gente vai sempre desagradar alguém. Tenho de ser legal é comigo mesma", frisa.

Aos 26 anos, Miriam Freeland continua a sua sina de só fazer personagens de época. A Mila Duarte, de Essas Mulheres, é a quarta consecutiva. Com uma diferença. Ao contrário das duas primeiras ¿ a Candoca de O Cravo e a Rosa e a Beatriz de Esperança ¿ a protagonista do romance Diva, escrito por José de Alencar em 1864, não possui a mesma candura e passividade das anteriores.

Muito pelo contrário. Ela é tida como louca pela mãe, interpretada por Ana Beatriz Nogueira, justamente por questionar os valores morais impostos às mulheres de sua época. Nesse sentido, Mila faz lembrar uma certa ativista política que chegou a ser presa diversas vezes por pertencer ao Partido Comunista Brasileiro.

"Optei pela sutileza na hora da composição. Seria mais fácil fazer a Mila queimando sutiãs em praça pública. Mas preferi fazê-la doce, ingênua, pura. Por isso mesmo, estaria blasfemando se dissesse que ela chega perto da Pagu em termos de ousadia e inteligência", compara.

O convite para interpretar a Mila de Essas Mulheres partiu de Herval Rossano, quando ele ainda era o diretor responsável pela nova novela da Record. Juntos, os dois trabalharam num episódio do Você Decide, na Globo. "O convite me pegou de surpresa. Não tinha a menor noção do sucesso que A Escrava Isaura estava fazendo. Mesmo assim, resolvi aceitar", lembra.

Na mesma hora, a atriz percorreu os sebos do Rio de Janeiro atrás de um que tivesse os três romances que inspiraram a novela de Marcílio Moraes: Senhora, Lucíola e Diva. "Como eu sei que curiosidade mata, comecei logo pelo Diva. Engoli o livro em poucas horas", exagera.

Quando soube que Flávio Colatrello havia assumido o lugar que fora de Herval Rossano na direção geral de Essas Mulheres, tomou um susto. Na dúvida, pensou em ligar para ele e se apresentar ao novo diretor.

Não foi preciso. "No mesmo dia, ele me ligou, dizendo que sempre quis trabalhar comigo. Disse também que a personagem era a minha cara. Felizmente, a transição foi tranqüila, carinhosa", suspira, aliviada.

Apesar do pouco tempo de gravação, Miriam já começou a sentir na pele "a dor e a delícia" de interpretar a primeira protagonista da carreira. "Estou gravando muito, furiosamente. Sábado, domingo, feriado. Tomara que o ritmo normalize logo!", torce ela.

A lamentar mesmo só a distância da filha, a pequena Maria Helena, de 6 anos. Para aplacar a saudade, pretende levá-la, de 15 em 15 dias, para São Paulo. Outra saudade que Miriam admite estar sentindo é a de atuar numa trama moderna, contemporânea.

A última de que participou foi Caça Talentos, novelinha infanto-juvenil protagonizada por Angélica e exibida em 1997. Embora reconheça que tenha "cara de camafeu", teme ficar rotulada como "a boa moça que só saber fazer o tipo risonho e bem-comportado".

"Nunca fui de escolher o caminho mais fácil. O meu caminho é sólido porque escolho bem o que faço. Quando vejo, estou sempre fazendo um trabalho melhor que o anterior ou, pelo menos, à altura dele", avalia, orgulhosa.

No túnel do tempo

Miriam Freeland fez muito elenco de apoio na Globo até despontar como a doce Candoca em O Cravo e a Rosa, a primeira novela de época da carreira. Nesse meio tempo, chegou a fazer duas novelas na Band, O Campeão e Perdidos de Amor, produzidas pela independente TV Plus.

Na volta à Globo, em 1997, trabalhou por três anos em Caça Talentos até ser convidada por Walter Avancini para O Cravo e a Rosa, de Walcyr Carrasco. "Este foi o melhor caminho que eu poderia seguir. Se tivesse estourado de repente, talvez não chegasse onde cheguei", frisa.

A primeira novela das oito do currículo de Miriam Freeland veio em 2002, quando ela foi chamada por Luiz Fernando Carvalho para dar vida à professorinha Beatriz na trama de Benedito Ruy Barbosa. Foram quase oito anos, entre os 23 de vida, que a atriz dedicou até ganhar um papel de destaque numa produção da Globo.

"Quando estreei no horário das oito, já tinha maturidade suficiente para não me deslumbrar com o sucesso. O mundo sorri para você. Certos colegas acham que isso é eterno, mas não é. Por isso, curto o momento", pondera.

Apesar de discreto, o papel de Beatriz de Esperança chamou a atenção do diretor Carlos Manga que convidou Miriam para interpretar Patrícia Galvão, a Pagu, em Um Só Coração. "Foi a primeira vez, em dez anos de carreira, que ganhei um papel sem precisar fazer testes", gaba-se ela.

O personagem suscitou elogios da autora Maria Adelaide Amaral, que sublinhou o desempenho de Miriam em entrevista ao Programa do Jô, mas mereceu também críticas de parte da imprensa, que classificou de "over" a atuação da moça.

"Sei que, na época, incomodei para caramba. Mas, em se tratando de Pagu, não podia ser diferente. Ela também era assim: ou amam ou odeiam", observa.

Instantâneas

A carreira artística de Miriam Pacheco Freeland começou cedo. Aos 4 anos, ela já estudava balé clássico e, aos 9, colocou na cabeça que queria ser atriz. A "estréia" nos palcos aconteceu aos 11 anos, quando estrelou o espetáculo Passo a Paço, de Maria Clara Machado, que contava a história do Paço Imperial, no Centro do Rio.

Na televisão, Miriam Freeland debutou na carreira fazendo figuração em novelas como A Viagem, de Ivani Ribeiro, e Cara e Coroa, de Antônio Calmon.

O fascínio de Miriam Freeland por Patrícia Galvão foi tanto que a atriz fez questão de consultar livros antigos da escritora, fazer amizade com os seus filhos e, principalmente, visitar a cadeia de Santos, onde Pagu esteve presa no tempo da ditadura.





Fonte: TV Press

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