Atividade industrial diminui mas empresas continuam contratando, aponta pesquisa da CNI
O Indicador Industrial sustenta que a perda de intensidade da atividade industrial não impediu que a indústria opere com alto índice de utilização da capacidade instalada. Em março, a indústria operou com 83,2% da capacidade instalada. Neste início de ano, confirmam os dados, as industrias operam, em média, com 81,9% de aproveitamento do parque fabril, patamar superior aos 80,5% em igual período de 2004.
Um dado positivo revelado pela pesquisa é que o emprego industrial cresceu no último trimestre, seguindo uma tendência registrada há 18 meses. No entanto, ressalva o documento, o ritmo de expansão também perde intensidade. Em março, o emprego na indústria aumentou 0,20% diante de fevereiro. Na comparação com 2004 as variações ainda são "muito positivas" com expansão de 6,92% no primeiro trimestre do ano, em relação a igual período de 2004. O coordenador da Unidade de Política Econômica, Flávio Castelo Branco, explica que é verdade que o mercado de trabalho continua com variáveis positivas e o empresariado parece continuar otimista em relação a 2005, "mas, perda de ritmo é flagrante".
Segundo ele, uma característica do mercado de trabalho é ter uma reação mais defasada com relação às mudanças no ritmo da atividade. "Se no início o que se pensava era uma acomodação mais transitória do ritmo da atividade, e que o aumento da taxa de juros seria de menor intensidade e iria durar menos tempo, ela se prolongou por mais tempo e aumentou a intensidade", afirmou Castelo Branco. Ele, explica que isso pode estar contaminando as expectativas futuras do empresário. "O índice de confiança do empresário caiu e isso pode estar significando menores intenções de contratação também no futuro", alertou.
A pesquisa da CNI também aponta elevação da massa de salários pagos no setor industrial. Neste primeiro trimestre, os salários elevaram-se 0,81%, em comparação com o último trimestre de 2004. Conforme o constatado, na comparação desse primeiro trimestre com igual período de 2004, "o indicador de salários pagos ainda exibe a forte expansão de 9,12%".
O levantamento apontou que as taxas de juros vêm reduzindo a demanda e isso é preocupante. "O aumento dos juros encarece o crédito, desestimula os investimentos e com isso reduz a demanda doméstica por itens produzidos pela indústria". Castelo Branco vê um cenário de incertezas para o segundo semestre. "As razões que levaram a essa redução da atividade industrial nos últimos meses perduram: elevada taxa de juros e nenhuma sinalização da sua redução num horizonte próximo; a valorização do câmbio se intensifica: o dólar está a baixo de R$ 2,50 e isso é um fator de redução de vendas das empresas que exportam".
O técnico criticou a taxa de juros como único meio de controle da inflação. Para ele, quando se eleva a taxa de juros se contrai a demanda privada. Sugere que talvez fosse a hora de se buscar também uma contribuição da demanda pública. "Uma contribuição no que diz respeito aos gastos públicos para reduzir a demanda total e, portanto, manter a inflação mais sob controle". Por outro lado, admite que o impacto da alta dos juros é pequeno no que diz respeito a preços contratados, os chamados preços administrados ou indexados, que continuam sendo corrigidos pela inflação passada. "Isso significa um enrijecimento muito forte do patamar da inflação", observa.
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