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Quarta - 12 de Dezembro de 2012 às 16:13
Por: CAROLINA HOLLAND

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Jardel Patricio Arruda
Moradores e forças de segurança entram em confronto na segunda-feira, primeiro dia da desocupação
Moradores e forças de segurança entram em confronto na segunda-feira, primeiro dia da desocupação

Uma gravação feita durante reunião realizada no dia 20 de junho de 1992, no Distrito de Estrela do Araguaia, no Vale do Araguaia (Nordeste de Mato Grosso), revela que líderes locais sabiam que a polêmica área de Suiá-Missú era uma reserva indígena.O áudio aponta, ainda, que a ocupação foi incentivada pelo então prefeito de Alto Boa Vista, José Antônio de Almeida, o “Baú”.

A gravação, feita pela Rádio Mundial FM, que acompanhou o encontro, mostra detalhes da discussão e foi entregue ao Ministério Público Federal em Mato Grosso. O MidiaNews teve acesso a uma cópia do áudio.

O então prefeito teria obtido o aval e o respaldo do Governo do Estado, que, na época, era comandado pelo hoje senador Jayme Campos (DEM).

O distrito, hoje conhecido como Posto da Mata, localizado dentro da terra indígena de Marãiwatsédé, tem 165 mil hectares e foi reconhecido pela Justiça como território xavante. É uma das áreas que terão que passar pelo processo de desocupação da região, iniciado na segunda-feira (10).

No encontro, os participantes deixaram claro que a ocupação seria feita para evitar que os índios retomassem a área, e que a volta deles não seria aceita pelos posseiros. E distribuíram mapas indicando quais lugares poderiam ser invadidos.

Uma semana antes, durante a Eco 92, no Rio de Janeiro, a Agip (multinacional italiana) se comprometeu a devolver a área da Fazenda Suiá-Missú (Liquifarm Agropecuária Suiá-Missú), um dos maiores latifúndios do mundo, aos xavantes.

Participaram do encontro, que teve o objetivo de “organizar” o movimento, além de Báu, o então vereador e candidato a prefeito de Alto Boa Vista, Mazim Kalil, Renato Grillo, à época gerente da Agip no Brasil, o advogado Ivair Matias, Filemon Limoeiro, atual prefeito de São Félix do Araguaia, e posseiros.

Um dos primeiros a falar na reunião foi Mazim Kalil, o Mazinho, que disse que a área, que já tinha sido da Itália, agora era dos brasileiros e que, se os índios tivessem que voltar para suas terras, teriam que "tomar todo o Brasil”. Imagem cedida pelo MPF

“Como é que vai colocar índio no meio do povo? O índio... tem que colocar ele no habitat natural....Então, isso é ilusão de algumas pessoas que querem fazer de nós, o povo da região, nós, os brasileiros, de bobos. Achando que aqui só tem índio também, beiço furado, que vai deixar talvez gringo chegar e ficar mandando no que é nosso”, disse.

Ao assumir o microfone na reunião, o então prefeito “Baú", disse que, quando surgiram os primeiros comentários sobre a possiblidade da volta dos xavantes para a região, "todo o povo ficou muito preocupado”.

O prefeito citou ainda o apoio do Governo do Estado à invasão da propriedade e se esquivou de ser o mentor da ocupação.

“Nós não somos mentores de invasão de propriedade (...). Se a população achou por bem tomar conta dessas terras, em vez de dá-las pros índios, nós temos que dar esse respaldo. Esta área ainda não foi passada a escritura para os índios. Nós já conversamos com o governador: o governador dará todo respaldo ao povo”, disse.

Baú também declarou, durante o encontro, que esperava que todos os posseiros tivessem sucesso em “não aceitar o retorno dos índios”.

“Nós realmente não queremos índios aqui porque senão iria desvalorizar a região”, afirmou.

O advogado Ivair Matias também deixou claro seu posicionamento contrário à volta dos xavantes à terra. “Isso é um movimento irreversível! Aqueles que têm alguma esperança de ver concretizada essa reserva, pode tirar o cavalinho da chuva”, disse.

No encontro, Filemon também se disse desfavorável à ocupação indígena. “Chegou um ponto... ou nós ou eles. E preferimos ser nós, porque temos o direito. Ia ser jogado nas mãos dos índios! Um direito que não sei onde acharam!”

Ele também sugeriu que os índios fossem levados pra outro lugar, para não “atrapalhar a região”.

“Tem um monte de país que não tem índio. Pode levar metade! Leva pra lá! Não vem jogar em nós não. Atrapalhar um município recém-criado aqui, se colocar índios aqui, acaba!," disse

Mapa

No mesmo dia da reunião, Mazinho distribuiu mapas da fazenda Liquifarm Agropecuária Suiá-Missú, que indicavam as áreas que poderiam ser invadidas pelos posseiros e as que deveriam ser “respeitadas”.

“Nessa negociação que nós fizemos com a fazenda, eles pediram para não mexer aqui nessa terra. Aqui é um outro título, que tem uns três proprietários – aqui é tudo da Liquigás, mas empresas diferentes e eles querem manter as coisas deles. Então, nós devemos respeitar porque eles não vão mexer com vocês! Já conversamos com o governador, o governador também não vai mandar Polícia. Não tem nada, podem ficar tranquilos”, afirmou.






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