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Saúde
Domingo - 01 de Maio de 2005 às 13:55
Por: CLÁUDIA COLLUCCI FERNANDA BASS

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O crescente aumento de casos de obesidade infantil no país está criando um cenário preocupante: crianças na fase de crescimento --com até 11 anos-- estão sendo submetidas a cirurgias de redução de estômago para perder peso.

Dois cirurgiões gástricos paulistas dizem ter feito 120 cirurgias bariátricas em crianças e jovens de 11 a 17 anos, a maioria nos últimos dois anos. Não há estatísticas oficiais sobre essa cirurgia na infância nem estudos sobre a segurança da técnica nesse público.

Para pediatras e endocrinologistas ouvidos pela Folha, a cirurgia é "temerária" antes do fim da fase de crescimento --em geral, a partir dos 14 anos nas meninas, e dos 15 anos nos meninos-- porque pode afetar a formação óssea.

Pesquisa da LatinPanel apontou que 35% dos jovens entre 7 e 12 anos estão acima do peso no Brasil. Foram ouvidas 25 mil pessoas. Em São Paulo, o Centro de Adolescência da Unifesp registrou, só em 2004, 8.000 crianças, de 10 a 15 anos, com obesidade infantil --23% do total dessa faixa etária.

Um dos perigos apontados pelos especialistas é o de a cirurgia afetar o processo de crescimento da criança, em razão da deficiência de vitaminas e minerais que pode ser gerada. Também pode haver danos psicológicos.

"Não se imagina isso em uma criança. Por isso nem é discutido entre os pediatras. Dos 16 anos em diante, ainda é uma fase nebulosa. Só uma análise multidisciplinar vai dizer se a cirurgia é realmente a melhor solução", diz a pediatra Angela Spinola de Castro, professora da Unifesp (Universidade Federal de SP) e membro do departamento de endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para o cirurgião Arthur Garrido Júnior, presidente da Federação Internacional de Cirurgias de Obesidade e um dos primeiros a fazer esse tipo de operação no Brasil, não há nada que contra-indique as cirurgias de redução gástricas no público infanto-juvenil. "Mesmo em fase de crescimento, a cirurgia não apresenta maiores riscos quando feita dentro dos critérios e das indicações. O risco maior é a criança continuar obesa e com outras doenças associadas." Garrido afirma que só opera crianças a partir dos 14 anos.

O cirurgião Ricardo Cohen, membro da SBCL (Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica), diz que já operou um adolescente de 11 anos e outro de 12. "Essas crianças estavam doentes e precisavam ser tratadas", diz.

Ele acrescenta que a indicação de cirurgia em crianças com menos de 17 anos só é feita após ao menos um ano e meio de tentativas clínicas de emagrecimento --como reeducação alimentar e atividades físicas-- sem sucesso.

"Acho muito difícil ter se tentado tudo em uma criança na faixa etária de 11 a 14 anos. Esse 'tudo' pode ter sido tudo errado", diz a médica Valéria Guimarães, conselheira da Sociedade Internacional de Endocrinologia.

Newton Tokio Kawahara, cirurgião e sócio-fundador da SBCL, diz que as cirurgias em adolescentes são indicadas nos casos de IMC (índice de massa corpórea) maior que 40 e que tenham outro problema de saúde associado, como diabetes, colesterol alto e hipertensão. "Estudos americanos mostram que a pessoa com IMC superior a 40 tem a expectativa de qualidade de vida piorada. Há cinco anos a indicação cirúrgica era para pessoas de 18 até 60 anos, mas hoje não há mais limites de idade e sim critérios clínicos."

Nem sempre a obesidade associada a fatores de risco é um passe livre para a cirurgia. É fundamental analisar o grau de maturidade do paciente, a capacidade de mudar o estilo de vida e o comportamento da família, diz Garrido.

"A adolescência é uma fase de transição. Por isso avaliar a condição psicológica da criança é muito importante", diz Kawahara.



O pós-operatório em adolescentes exige acompanhamento psicológico e cuidados com a alimentação. O paciente perde até 40% do peso inicial nos primeiros meses, até chegar ao equilíbrio. O risco de morte é de 0,5%.





Fonte: Folha de S.Paulo

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