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Condoleezza chega para discutir Cuba, Venezuela, Alca e ONU
Brasília - A secretária de Estado, Condoleezza Rice, chega hoje a Brasília para uma visita oficial da qual não sairá sem tocar o tema mais delicado do diálogo Brasil-Estados Unidos. Trata-se da falta de coincidência e de sintonia nas posições dos dois países sobre questões regionais - a influência da Venezuela na região, Cuba e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) - e sobre temas globais, como a polêmica reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
A passagem de Rice pelo Brasil lhe fornecerá os elementos necessários para a confirmação ou não da primeira visita do presidente George W. Bush ao País, programada para novembro deste ano. A visita de Rice foi acertada no seu primeiro dia à frente do Departamento de Estado. Em um telefonema ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em 28 de janeiro, Rice combinou com o colega reuniões nos Estados Unidos e no Brasil, sem marcar datas.
O convite foi reforçado na visita do ministro da Casa Civil, José Dirceu, em Washington, em março passado. O encontro acabou agendado para um momento em que acumulam divergências entre Washington e Brasília. Apesar dos avanços na órbita bilateral desde o primeiro encontro de trabalho entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, em junho de 2003, aumentaram os descompassos nos temas regionais e globais desde o início de 2004.
Nos encontros que terá na tarde de hoje com o ministro Amorim e com o presidente Lula, Rice deverá repassar os temas um a um, mesmo os que não são de sua esfera de ação, como a Alca. Faltando 14 dias da reunião de cúpula da América do Sul e dos Países Árabes, em Brasília, Rice deverá ouvir do governo brasileiro sua justificativa para o evento. Seus interlocutores deverão insistir que se trata de uma aproximação entre regiões voltada para o universo econômico e comercial. Apesar de seu forte componente político, não haverá declarações críticas contra Israel e a política americana para o Oriente Médio. De qualquer maneira, interessa ao Brasil evitar atritos com os Estados Unidos nessa esfera, apesar de ter negado a Washington a possibilidade de enviar um observador.
O governo brasileiro deverá abordar dois pontos estratégicos, intimamente interligados, nas conversas com Rice. O primeiro foi o abandono do Haiti pelos países desenvolvidos, que empurraram o Brasil a liderar as tropas da ONU. Entre eles, os Estados Unidos. O segundo tópico será a pretensão do governo brasileiro de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, ao final de uma possível reforma da instituição.
Em março passado, em sua visita a Tóquio, Rice anunciou o apoio dos Estados Unidos à mesma ambição do Japão. Poucos dias depois, em visita ao Brasil, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, afirmou que caberia a sua colega do Departamento de Estado tratar do assunto. Mas antecipou que Bush não havia ainda se decidido sobre o assunto.
Aos Estados Unidos interessam especialmente, neste momento, tratar das pendências hemisféricas. Nesse sentido, espera-se que Rice enfatize a avaliação de Washington sobre a interferência "nociva" do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, nas frágeis Democracias da região e sobre sua política interna autoritária. Apesar dos dois respaldos políticos do presidente Lula a seu colega Chávez, desde o início de março, e da aliança estratégica Brasil-Venezuela, os Estados Unidos reconhecem a influência moderadora de Brasília sobre Caracas. Porém, pressionam por uma posição mais dura do governo brasileiro, como líder regional.
As relações de cooperação do Brasil, sob o governo Lula, com Cuba será outro ponto de antagonismo. Para enfrentar essa discussão, Rice trouxe consigo o secretário-adjunto de Estado para Assuntos de Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, um ácido crítico do regime de Fidel Castro. Mas, assim como no caso da Venezuela, o governo brasileiro tenderá a manter suas posições em favor do aprofundamento das relações com Havana e contra a política de embargo mantida pelos Estados Unidos àquele país.
Apesar dos desencontros, o Brasil e os Estados Unidos conseguiram manter um diálogo fluído e aprofundado na esfera bilateral. Os grupos criados para tratar da cooperação e da solução de controvérsias nas áreas de energia, agricultura e crescimento econômico avançam, conforme informou o Itamaraty. Nos últimos dois meses, sete ministros brasileiros viajaram aos Estados Unidos para se encontrar com seus pares. Entretanto, as caravanas de brasileiros que tentam ingressar ilegalmente nos Estados Unidos reacenderam o imbróglio na área consular.
No encontro bilateral entre os dois presidentes em Monterrey (México), Lula apresentou a Bush um projeto para a eliminação da necessidade de visto para o ingresso de brasileiros nos Estados Unidos e de americanos no Brasil. O presidente americano prometeu estudar a proposta. Na época, o governo americano havia imposto um controle severo sobre os brasileiros nos aeroportos, segundo a lógica da segurança nacional. Hoje, Rice desembarca no Brasil há poucos dias da captura de 232 brasileiros indocumentados em solo americano, e de mais 58, que foram detidos ainda no México quando se preparavam para a travessia - um sinal de que a proposta brasileira deverá continuar engavetado por muito tempo.
A passagem de Rice pelo Brasil lhe fornecerá os elementos necessários para a confirmação ou não da primeira visita do presidente George W. Bush ao País, programada para novembro deste ano. A visita de Rice foi acertada no seu primeiro dia à frente do Departamento de Estado. Em um telefonema ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em 28 de janeiro, Rice combinou com o colega reuniões nos Estados Unidos e no Brasil, sem marcar datas.
O convite foi reforçado na visita do ministro da Casa Civil, José Dirceu, em Washington, em março passado. O encontro acabou agendado para um momento em que acumulam divergências entre Washington e Brasília. Apesar dos avanços na órbita bilateral desde o primeiro encontro de trabalho entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, em junho de 2003, aumentaram os descompassos nos temas regionais e globais desde o início de 2004.
Nos encontros que terá na tarde de hoje com o ministro Amorim e com o presidente Lula, Rice deverá repassar os temas um a um, mesmo os que não são de sua esfera de ação, como a Alca. Faltando 14 dias da reunião de cúpula da América do Sul e dos Países Árabes, em Brasília, Rice deverá ouvir do governo brasileiro sua justificativa para o evento. Seus interlocutores deverão insistir que se trata de uma aproximação entre regiões voltada para o universo econômico e comercial. Apesar de seu forte componente político, não haverá declarações críticas contra Israel e a política americana para o Oriente Médio. De qualquer maneira, interessa ao Brasil evitar atritos com os Estados Unidos nessa esfera, apesar de ter negado a Washington a possibilidade de enviar um observador.
O governo brasileiro deverá abordar dois pontos estratégicos, intimamente interligados, nas conversas com Rice. O primeiro foi o abandono do Haiti pelos países desenvolvidos, que empurraram o Brasil a liderar as tropas da ONU. Entre eles, os Estados Unidos. O segundo tópico será a pretensão do governo brasileiro de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, ao final de uma possível reforma da instituição.
Em março passado, em sua visita a Tóquio, Rice anunciou o apoio dos Estados Unidos à mesma ambição do Japão. Poucos dias depois, em visita ao Brasil, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, afirmou que caberia a sua colega do Departamento de Estado tratar do assunto. Mas antecipou que Bush não havia ainda se decidido sobre o assunto.
Aos Estados Unidos interessam especialmente, neste momento, tratar das pendências hemisféricas. Nesse sentido, espera-se que Rice enfatize a avaliação de Washington sobre a interferência "nociva" do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, nas frágeis Democracias da região e sobre sua política interna autoritária. Apesar dos dois respaldos políticos do presidente Lula a seu colega Chávez, desde o início de março, e da aliança estratégica Brasil-Venezuela, os Estados Unidos reconhecem a influência moderadora de Brasília sobre Caracas. Porém, pressionam por uma posição mais dura do governo brasileiro, como líder regional.
As relações de cooperação do Brasil, sob o governo Lula, com Cuba será outro ponto de antagonismo. Para enfrentar essa discussão, Rice trouxe consigo o secretário-adjunto de Estado para Assuntos de Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, um ácido crítico do regime de Fidel Castro. Mas, assim como no caso da Venezuela, o governo brasileiro tenderá a manter suas posições em favor do aprofundamento das relações com Havana e contra a política de embargo mantida pelos Estados Unidos àquele país.
Apesar dos desencontros, o Brasil e os Estados Unidos conseguiram manter um diálogo fluído e aprofundado na esfera bilateral. Os grupos criados para tratar da cooperação e da solução de controvérsias nas áreas de energia, agricultura e crescimento econômico avançam, conforme informou o Itamaraty. Nos últimos dois meses, sete ministros brasileiros viajaram aos Estados Unidos para se encontrar com seus pares. Entretanto, as caravanas de brasileiros que tentam ingressar ilegalmente nos Estados Unidos reacenderam o imbróglio na área consular.
No encontro bilateral entre os dois presidentes em Monterrey (México), Lula apresentou a Bush um projeto para a eliminação da necessidade de visto para o ingresso de brasileiros nos Estados Unidos e de americanos no Brasil. O presidente americano prometeu estudar a proposta. Na época, o governo americano havia imposto um controle severo sobre os brasileiros nos aeroportos, segundo a lógica da segurança nacional. Hoje, Rice desembarca no Brasil há poucos dias da captura de 232 brasileiros indocumentados em solo americano, e de mais 58, que foram detidos ainda no México quando se preparavam para a travessia - um sinal de que a proposta brasileira deverá continuar engavetado por muito tempo.
Fonte:
Agência Estado
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/343561/visualizar/
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