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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Sábado - 23 de Abril de 2005 às 14:33

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No mesmo dia em que a mídia italiana disse que a Igreja Católica estuda a possibilidade de rever questões como os "direitos" dos divorciados, o Vaticano sob Bento 16 respondeu ontem pela primeira vez sobre um tema polêmico, sem a surpresa que marcou os primeiros pronunciamentos conciliatórios do pontífice com fama de inflexível e conservador.

Atacou a lei que autoriza o casamento homossexual, que está avançando no Parlamento da Espanha, um dos últimos bastiões católicos da Europa. Segundo nota do "Diário Oficial" do Vaticano, o "L'Osservatore Romano", a lei "suscita alarme não apenas nas comunidades católicas, mas em amplos setores da sociedade".

O jornal reiterou posições já conhecidas da igreja, dizendo que a lei aprovada pela Câmara dos Deputados espanhola "destrói a essência e identidade" da união matrimonial. Foi o primeiro sinal de que nem tudo é abertura e mudança de opinião no pontificado de Bento 16, que como cardeal Joseph Ratzinger criticou duramente o casamento homossexual.

Sua posição já havia sido reforçada numa entrevista do cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, presidente do Conselho Pontifício para a Família. Ele havia dito que a lei era resultado de uma "estranha idéia de modernidade".

Em mais um movimento interpretado como o pagamento da conta pelo acordo que elegeu Ratzinger papa, ficou público ontem que a igreja poderá rever a questão de os casais divorciados não poderem receber os sacramentos -ou seja, não podem, por exemplo, comungar na Eucaristia nem casar "na igreja" novamente.

A discussão estaria parada na mesa de Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão que regula todas as decisões da igreja relacionadas ao que pode e não pode fazer um católico. O cargo está vago, já que o cardeal virou papa. Foi divulgada pelo jornal italiano "La Repubblica" e nem confirmada, nem negada pelo Vaticano.

Dois cardeais ouvidos ontem confirmaram que o debate existe de fato.

O jornal também afirmou sem detalhes que a igreja poderá aumentar a idade para a aposentadoria dos cardeais, de 75 para 80 anos, e ainda elaborar uma nova definição sobre atributos divinos de Jesus Cristo que facilite, teologicamente, a aproximação entre a Igreja Católica e as denominações protestantes e ortodoxas, esse um passo histórico se confirmado.

É preciso fazer uma ressalva sobre esses dados. Circulam em Roma diversas versões sobre o que aconteceu no conclave desta semana, e as mais correntes dizem que Ratzinger teria tido menos votos que o arcebispo emérito de Milão, Carlo Maria Martini, um nome de peso intelectual e idade semelhantes às do alemão. Como Martini, um líder liberal, tem saúde frágil, teria havido um acerto informal para a eleição do conservador Ratzinger.

Nesse acordo, seriam incorporados ao papado de Bento 16 vários elementos que ele combateu como chefe da congregação, como o estímulo ao debate na igreja, a participação ampliada dos bispos em decisões colegiadas e liberalização de costumes. Favorece a teoria do grande acordo o fato de que a questão dos divorciados foi motivo de uma famosa carta-manifesto em 1993 de prelados alemães, incluindo os hoje cardeais Walter Kasper e Karl Lehmann. No ano seguinte, Ratzinger reagiu negativamente. Em 1999, bispos italianos fizeram apelo similar.

Mas como ninguém de fato estava dentro do conclave além dos 115 cardeais, é preciso levar em conta que essa versão de um Ratzinger governando com a faca no pescoço pode estar sendo vazada pelos derrotados -em especial os italianos, que esperavam voltar ao trono de São Pedro após a interrupção de um reinado de 456 anos pelo polonês João Paulo 2º.

Ontem, por exemplo, o diário italiano "La Stampa" trouxe uma outra história, de que um documento secreto elaborado por Ratzinger apontando vários problemas na igreja teria impressionado os cardeais e favorecido sua eleição. O papel, diz o jornal, apontaria com detalhes falhas na observação do celibato, na manutenção do segredo de confissão e até malversação de dinheiro de fiéis. O Vaticano não comentou.

Na questão dos divorciados, uma das mais "pé no chão" que as paróquias enfrentam, a mudança seria uma resposta "a uma questão dolorosa à que a igreja está atenta", nas palavras do cardeal Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo. "Não tenho uma posição que não seja a da igreja, mas esse é um problema que enfrentamos todo dia no Brasil", afirmou.

D. Cláudio faz parte da congregação que estaria estudando o caso, mas disse não saber nada sobre o assunto. "Nós temos segredos lá também", disfarçou.



Bento 16 será entronizado na missa de amanhã na praça de São Pedro. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, representará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia, acompanhado de sua mulher, Vera Maria, e da embaixadora do Brasil no Vaticano, Vera Lúcia Crivano Machado.





Fonte: 24 Horas News

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