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Internacional
Quarta - 20 de Abril de 2005 às 20:20

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Os principais cardeais da ala mais liberal da Igreja Católica preferiram apoiar a candidatura do alemão Joseph Ratzinger em vez de produzir um impasse no conclave, afirmam especialistas em Vaticano da Itália.

Segundo o vaticanista Marco Politi, do jornal La Repubblica, teria sido o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão e símbolo dos progressistas no conclave, quem convenceu seus aliados a votar em Ratzinger.

Esta decisão teria sido tomada depois de ter verificado que o apoio ao cardeal alemão era muito amplo.

Também teria sido decisivo, segundo os analistas, o apoio que Ratzinger recebeu dos grandes eleitores Angelo Sodano, Camillo Ruini e Giovanni Battista Re.

Apoio

Segundo o vaticanista Andrea Tornielli, os grandes eleitores italianos, inicialmente contrários ao cardeal alemão, decidiram apoiá-lo "em vez de criar uma situação de impasse ou tentar um compromisso com candidatos de mediação".

Antes do conclave, previa-se que, em caso de divisão dos 115 cardeais entre a ala liberal e conservadora nas primeiras votações, a tendência seria a busca de candidatos moderados capazes de gerar consenso.

O nome do arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, era citado como uma das opções nessa eventualidade, que não chegou a acontecer.

Na opinião de Politi, foi muito importante, para a eleição do novo papa, a campanha eleitoral feita pela Opus Dei, com o especialista de textos legislativos Julian Herranz.

Tiveram papel importante também alguns cardeais latino-americanos da cúria, como os colombianos Alfonso Lopes Trujillo, ex-prefeito do conselho para a família, e Dario Castrillon Hoyos ¿ ex-responsável pela congregação do clero.

Plebiscito

Para Andrea Tornielli, o papa Bento XVI teria sido eleito numa espécie de plebiscito. O sucessor de João Paulo II, eleito na terça-feira, teria recebido muito mais do que os 77 votos previstos pelo sistema do conclave, que prevê a vitória daquele que conseguir obter apoio de dois terços dos 115 cardeais.

Os cardeais que estiveram no conclave, vinculados pelo juramento de manter segredo sobre tudo o que diz respeito à eleição do papa sob pena de serem excomungados, não fazem comentários explícitos.

Todos, por ora, concordam em dizer que não houve divisões no colégio cardinalício durante as eleições.

A votação durou pouco. Foram necessários apenas quatro escrutínios, um dos conclaves mais rápidos da história. Isto, na opinião dos observadores, é sinal que não houve tanta discordância ou debate em torno do nome de Joseph Ratzinger.

Doutrina do medo

De acordo com a análise de Tornielli, a eleição de Ratzinger indica que os receios que ele expressou no sermão de início do conclave convenceram os eleitores.

Na missa de segunda-feira de manhã, o cardeal Ratzinger alertou para os perigos do relativismo e das novas ideologias e doutrinas.

Segundo ele, elas representam uma ameaça à fé. É da mesma opinião o analista Giovanni Avena. Ele disse à BBC Brasil que Ratzinger assustou o colégio cardinalício.

Em sua opinião, o atual pontífice passou a idéia de que sem ele e sem o poder doutrinal, a igreja poderia correr riscos de extinção.

"João Paulo II começou seu pontificado dizendo 'não tenham medo' e Bento XVI começou assustando", comentou.

Para alguns analistas, o próprio papa João Paulo II poderia ter indicado seu colaborador mais próximo como a pessoa mais apropriada para continuar seu pontificado.

A decisão de ter confiado a Ratzinger a leitura da mensagem da via sacra durante a Páscoa, pouco antes de morrer, é vista como uma espécie de sinal nesse sentido.

Naquela ocasião, o atual papa Bento XVI alertou para a "sujeira" que existiria no interior da Igreja, que chegou a definir como "um barco que está prestes a afundar".





Fonte: BBC Brasil

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