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Internacional
Quarta - 20 de Abril de 2005 às 18:55

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O controle do arsenal nuclear russo se transformou no principal assunto do diálogo entre Rússia e EUA, e nesta quarta-feira as relações entre os dois países voltaram a se complicar por causa de declarações desencontradas da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e do ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov.

Ontem, depois de uma conturbada chegada a Moscou em meio a um falso alerta de bomba em seu hotel, a secretária de Estado abordou com Ivanov assuntos relativos à não-proliferação de armas e materiais nucleares, e a destruição dos mísseis obsoletos russos.

Hoje, Rice anunciou que "foi possível facilitar o acesso" às instalações nucleares russas dentro da iniciativa dos EUA de financiar a segurança dos arsenais atômicos da Rússia, mas sempre sob supervisão americana.

"As inspeções não são uma ameaça para a soberania da Rússia, é um assunto de cooperação, porque ninguém quer que as armas nucleares caiam em mãos erradas", alegou Rice, em entrevista à rádio "Eco de Moscou".

Essa declaração de Rice gerou uma resposta imediata do ministro da Defesa russo, que, desde Belarus, disse que "não se falou em permitir o acesso de inspetores norte-americanos às instalações militares russas".

A Chancelaria russa declarou que "carecem de fundamento as especulações no sentido de que está sendo preparado um acordo que prevê um controle internacional das instalações nucleares da Rússia"; e que "nada disso se negocia nem pode ser negociado" com os EUA.

Segundo o jornal digital Grani.ru, essa postura se deve, por um lado, ao fato de o Kremlin estar comprometido com seu novo discurso "patriótico" e temer ser acusado de "trair os interesses nacionais".

Além disso, o governo russo não quer perder a imagem de interlocutor válido do Ocidente e o grande investimento proposto pelos EUA.

Em jogo estão nada menos que 5 bilhões de dólares, soma equiparável ao orçamento anual do Ministério da Defesa russo.

Washington oferece o dinheiro para ser usado em programas de desarmamento, mas para isso quer se assegurar do controle das despesas e dos resultados.

Os EUA já não se dão por satisfeitos com os dados repassados por Moscou e pedem o acesso de seus inspetores a 20 arsenais russos onde estão armazenadas as ogivas nucleares dos mísseis estratégicos e as cargas das bombas atômicas táticas.

A Rússia se mostra indignada por semelhante controle por parte da potência que há duas décadas era sua maior inimiga na Guerra Fria e que agora pretende dominar o mundo. No entanto, Moscou é consciente de que não tem meios próprios para cumprir seus compromissos de desarmamento e que o ansiado dinheiro não chegará sem confiança mútua.

Durante as manobras em agosto passado, o próprio Ivanov convidou cerca de 50 militares da Otan para uma das instalações nucleares secretas no mar de Barents, onde explicou a eles detalhes do sistema de vigilância do general Igor Valynkin, responsável pela segurança de arsenais atômicos.

A questão da segurança dos arsenais atômicos russos, para evitar que caiam nas mãos de terroristas, ocupou um lugar importante na cúpula entre os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, realizada em fevereiro, em Bratislava.

Na ocasião, houve acordos para aumentar a cooperação na segurança das instalações e materiais nucleares, além de no controle de mísseis portáteis terra-ar.

Hoje, Rice disse que "ainda resta trabalho a ser feito, em particular nas questões de responsabilidade jurídica". A secretária americana disse ter esperança de que seja alcançado um "maior progresso" na próxima cúpula Bush-Putin, dia 9 de maio, em Moscou.

Ivanov disse que, na cúpula em Bratislava, Bush e Putin concordaram em acertar os detalhes do texto de um convênio de cooperação em segurança nuclear para o dia 30 de junho deste ano.

"Segundo os acordos das partes, esse trabalho corre a cargo da Rosatom (a Agência de Energia Atômica da Rússia) e o ministério de Energia dos EUA, assim como das estruturas militares de ambos os países nos aspectos que lhes correspondem", disse Ivanov.

O ministro acrescentou que esperam em breve a visita de representantes do Pentágono e do ministério de Energia dos EUA a Moscou, para "acertar esse documento", mas insistiu que os acordos de Bratislava não previam "visitas às instalações nucleares" russas.





Fonte: EFE

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