Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Terça - 19 de Abril de 2005 às 03:44
Por: Clarissa Thomé

    Imprimir


Rio de Janeiro - O delegado Rui Barboza de Souza abriu inquérito nesta segunda-feira para apurar responsabilidades pela morte de um bebê e a contaminação de outros quatro por uma bactéria ainda não identificada. Os recém-nascidos estavam internados na Maternidade Leila Diniz, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. As contaminações começaram no início de abril. A família do bebê Cauê D´Ávila Silva, morto aos seis dias, decidiu processar o hospital. Menos de um ano atrás, outros três bebês morreram de infecção depois que a Unidade de Terapia Intensiva foi inundada por esgoto.

Bruna D´Ávila, de 19 anos, contou que Cauê nasceu prematuro de oito meses, com 2,6 quilos e 48 centímetros, em 31 de março. Ele ficou internado em observação. No dia 3, o menino passou por exames e estava prestes a ir para a enfermaria, quando a pediatra percebeu que a criança estava um pouco inchada. Nos dias seguintes, Cauê teve sangramentos no pulmão e no estômago e paralisação dos rins. Morreu por "infecção perinatal, prematuridade, insuficiência renal aguda", informa o atestado de óbito.

"Não peguei meu filho no colo e até agora não me explicaram a causa da morte. É um trauma muito grande", disse Bruna. Ela decidiu guardar o enxoval do seu filho. "Vou engravidar de novo, mas quero passar bem longe da Leila Diniz", disse. Hoje, o pai dela, Jorge D´Ávilla, esteve na 32.ª Delegacia de Polícia para registrar ocorrência. A oficial de cartório Raquel de Araújo informou que nos próximos dias médicos, enfermeiros e a direção da maternidade serão intimados para depor.

Na maternidade, as mães que ainda têm filhos internados pela contaminação estão revoltadas. "Os médicos não informam nada, são grosseiros. As enfermeiras passam mais tempo conversando do que cuidando dos bebês", queixou-se Jordana Pereira da Silva, de 18 anos, mãe de Kelvin, de 41 dias. O menino está internado desde que nasceu, por conta de um desconforto respiratório.

Em 13 de abril, Jordana estranhou os novos procedimentos para ver o filho. Foi obrigada a colocar touca, luvas e máscara. Depois de insistir, foi informada por uma enfermeira que seu filho estava com "uma bactéria". "Meu filho já ia ter alta. O que eu mais queria era tirar meu filho daqui, levar para um hospital decente. Da outra vez, foi o esgoto. Qual vai ser a desculpa agora?".

Esgoto - Nesta terça-feira, o presidente da comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, Paulo Pinheiro (PT) esteve na maternidade. Ele disse que, em maio passado, a UTI (15 leitos) e a Unidade Intermediária (5 leitos) foram inundadas pelo esgoto que reflui da favela vizinha. Uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público fechou os leitos e determinou que fossem feitas obras para evitar que os esgoto invadisse a instituição.

As obras estão paralisadas. "O que existe hoje são cinco leitos de UTI adaptados num espaço pequeno. Há alto risco de contaminação", disse o deputado, que enviou ofício para o MP, pedindo novas providências.

A direção da maternidade não recebeu a reportagem. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde nega que Cauê tenha sido vítima da bactéria, apesar de o menino não ter sido necropsiado. "A maternidade registrou quatro casos (de contaminação), desde o dia 08/04/05, ocorridos na UTI neonatal. Nenhuma morte ocorreu por causa desta infecção", diz o texto.

Ainda de acordo com a secretaria, um dos bebês contaminados recebeu alta. Amostras de sangue estão sendo analisadas Fundação Oswaldo Cruz.




Fonte: Agência Estado

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/345482/visualizar/