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Sábado - 16 de Abril de 2005 às 13:33

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“O trabalho escravo é uma realidade no Brasil, não podemos negar isso. Hoje, 117 anos depois da abolição da escravatura, o país possui 25 mil pessoas trabalhando em regime de escravidão e Mato Grosso contribui com 20% do número nacional”. A afirmação foi feita pelo Frei Xavier Plassat, coordenador nacional da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Segundo Passat, é preciso mudar esta realidade, conscientizar a sociedade e punir efetivamente os responsáveis pelo trabalho escravo com cadeia e confisco de terra.

As informações foram prestadas no “Encontro Cidadania sim. Trabalho escravo não” que termina hoje, 16, no auditório da Unemat, em Sinop. Na abertura do evento, ontem, 15, pela manhã, estiveram presentes, além do Frei Plassat, o representante da Comissão de Direitos Humanos João Busato; o historiador da UFMT, Vitali Joanani Neto; a representante da Delegacia Regional do Trabalho/MT, Bárbara Luz Gurgel Marques; o coordenador regional da Unemat/Sinop, Aumeri Carlos Bampi, a professora da Unemat/Sinop, Maria Ivonete de Souza e o Bispo Dom Gentio de Lázaro. No auditório, participantes de Sinop, Juara, Sorriso e região.

Bussato disse que apesar da Constituição afirmar que somos todos iguais, atualmente uns são menos iguais que os outros. Aumeri Bampi deixou claro que esta é uma luta nacional e que a universidade tem que ser parceira na construção de uma nova realidade. “Todos têm que ajudar a acabar com estes vampiros que através da exploração do trabalho escravo sugam não o sangue mas a vida, a essência humana”.

O professor Vitali Neto lembrou que a escravidão no Brasil começou nos séculos 15 e 16. “Naquela época a igreja era favorável à escravidão. Eles acreditavam que a África era o inferno e que a escravidão era uma boa forma para catequizar os negros. Muitos relatos de religiosos mostram que a Igreja viam a escravidão como o purgatório necessário para que os negros pagassem pelos pecados até então cometidos”, disse Vitali.

O professor também mostrou que a abolição foi uma necessidade e não uma boa ação do governo brasileiro. “ A elite passou a contar com várias opções de mão de obra. Além dos negros, existiam também os brancos pobres, os mestiços, mulatos, índios e imigrantes, ou seja, a exploração continuou existindo e persiste até hoje com pessoas que trabalham sem regras, sem direitos, sem dignidade”.

Vitali finalizou sua palestra com depoimentos de pessoas vítimas de trabalho escravo em fazendas, madeireiras e carvoarias espalhadas por todo país. O historiador alertou que atualmente a Lei não permite o trabalho escravo, mas se o estado não tem condições e força para impedir o descumprimento, a legislação vira letra morta. “Nós passamos a ver o trabalho escravo, a troca de trabalho por roupa e comida como algo natural, mas temos que mudar e lutar pelos direitos e pela dignidade destas pessoas”.

com maior incidência de trabalho escravo. O dado foi apresentado pelo Frei Xavier Plassat. “É impossível não ver o trabalho escravo no Brasil, todos os dias a imprensa nos mostra casos envolvendo pessoas de todos os jeitos, de idosos a crianças, homens e mulheres, brancos e negros”, disse o Frei que ressaltou que a fiscalização contra o trabalho escravo no país tem diminuído. “Em 2003 foi bom, em 2004 diminuiu e agora em 2005 tem sido quase zero, não podemos deixar isso acontecer”.

Frei Xavier mostrou que a maioria das pessoas que trabalha em regime de escravidão são do nordeste, vivem na mais completa pobreza e vêm nas promessas do gato (figura central do processo, o agenciador entre o trabalhador e o dono da terra) a esperança de uma vida melhor. São pessoas que entram neste processo por causa do dinheiro e se prendem em um ciclo de dívida impagáveis que os prendem ao trabalho. “Pior que não conseguir trabalho é não conseguir sair dele”, completou.





Fonte: 24Horas News

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