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Internacional
Sábado - 16 de Abril de 2005 às 10:50

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Há 30 anos, em 17 de abril de 1975, as tropas do Khmer Vermelho entraram vitoriosas na capital cambojana Phnom Penh, iniciado um regime de quatro anos que deixaria uma marca sangrenta na história do Camboja: 1,7 milhão de mortos.

Enquanto os sobreviventes de um dos mais violentos genocídios da história recente se preparam para lembrar a data, alguns dos ex-dirigentes do Khmer Vermelho agora mostram seu remorso.

O ex-ministro de Relações Exteriores daquele regime Ieng Sary disse à EFE que "17 de abril não é um bom dia". Desde a década passada, Sary vive como um homem livre após desertar e se render ao governo em troca de uma anistia.

"Acho que deveríamos passar por cima disso (daquele regime), pois atualmente é mais um dia ruim do que um bom dia", disse Sary.

Este comentário aparece diante do início cada vez mais próximo do tribunal internacional que, organizado pela ONU e pelo Camboja, julgará os ex-dirigentes dessa organização de orientação maoísta por seus crimes contra a humanidade.

Embora seja o trigésimo aniversário, os atos comemorativos que estão sendo preparados são parecidos aos dos outros anos, com novos pedidos por justiça para os sobreviventes e as pessoas que morreram por causa de fome, doenças, trabalhos forçados, torturas e execuções decretadas pelo Khmer Vermelho.

Muitos cambojanos ainda tentam entender o que aconteceu há três décadas, e as cicatrizes nessa empobrecida nação asiática ainda não foram fechadas.

Naquele dia há 30 anos, as tropas vitoriosas de Pol Pot, o "irmão número um", entraram na capital com ordens imediatas para eliminar da sociedade os inimigos da revolução, como os burgueses, e estabelecer um regime socialista agrário.

A moeda e os mercados foram abolidos com o início do programa do Khmer Vermelho, que pretendia levar o país até o Ano Zero, uma utopia agrária sem classes sociais.

Pol Pot morreu há sete anos e apenas dois membros do Khmer Vermelho continuam presos, o general Ta Mok - "O carniceiro" - e Kang Khek Iev, diretor do centro de detenção de Toul Sleng, em Phnom Penh.

Os outros comandantes do grupo extremista envelhecem em liberdade em seus povoados de origem.

Mas nem todos os cambojanos compartilham a idéia de que "o que passou, passou".

"Minha esposa está entre os desaparecidos. Quero fazer a eles (aos líderes do Khmer Vermelho) esse relato e quero um julgamento que dê justiça ao povo e principalmente a minha esposa", disse à EFE Bu Meng, de 64 anos, uma das sete pessoas que passaram por Toul Sleng e continuam vivas.

Atualmente, Meng mora no povoado de Koh Thom, a cerca de 70 quilômetros ao sul da capital, e não tem a mesma opinião de Sary porque ele não consegue esquecer sua mulher.

Meng também não entende por que ele e sua esposa foram detidos em Toul Sleng, onde 10.000 pessoas desapareceram ou foram executadas no "campo da morte" de Choueng Ek, próximo ao centro de detenção.

"Em 17 de abril, pensei que a vitória do Khmer Vermelho traria paz para a população, mas foi uma época terrível", disse Meng.

Outro sobrevivente de Toul Sleng, Chhum Mey, também quer justiça e disse que, para ele, este aniversário vai ser igual aos outros se não significar que o julgamento dos khmeres vermelhos está próximo.

"É muito difícil dizer algo de 30 anos atrás, porque nada aconteceu. Vou esperar e ver. Se acontecer um julgamento de verdade e houver justiça, isso será bom", disse Mey.

"Lembro de naquele dia ter visto a entrada do Khmer Vermelho em Phnom Penh com bandeiras brancas de paz. Não pensei que transformariam o dia da vitória em um dia de finados", disse Mey, ex-mecânico, profissão que o ajudou a sobreviver porque fazia a manutenção da frota de veículos dos novos governantes.





Fonte: EFE

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