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Quarta - 13 de Abril de 2005 às 14:13

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Quando o juiz Rodney Melville decretou a proibição de câmeras durante o julgamento de Michael Jackson, ele não deve ter imaginado que estava criando o cenário para o estabelecimento de duas versões bastante distintas do caso: a dos tribunais e a da imprensa. A mídia americana ¿ e internacional ¿ vem produzindo uma das coberturas mais parciais dos últimos tempos, algo que começa a ser denunciado por jornalistas e veículos isolados.

Por conta de horários de fechamento de edições de jornais e da concorrência entre veículos online, agências de notícias e correspondentes têm escrito matérias baseadas apenas nos procedimentos iniciais de cada dia ¿ o que não inclui a interrogação feita pela equipe de defesa.

Assim, a grande maioria das reportagens publicadas nas últimas semanas tem incluído apenas informações de um dos lados da história. Ao serem analisadas junto às transcrições completas de cada dia, as manchetes internacionais raramente refletem os momentos mais cruciais do julgamento.

No caso Michael Jackson, o interrogatório da defesa tem importância especial justamente pelo fato de que muitas das testemunhas convocadas pela promotoria têm um longo histórico de tentativas de extorsão e outras atividades que ferem suas reputações.

Para o colunista Roger Friedman, da FoxNews, a parcialidade não é fenômeno exclusivo da internet ou dos veículos impressos: as acusações da promotoria têm servido como base para inúmeros programas de entrevistas em canais como a Court TV e emissoras de rádio em todo o país ¿ sem nenhum balanço ou informação levantada pela defesa.

O próprio jornalista já descobriu várias evidências que confirmam que boa parte das testemunhas convocadas para falar sobre "casos anteriores" de abuso sexual por parte de Jackson já recebeu dinheiro de tablóides como o National Enquirer ou se prontificou a mentir em algum momento, em troca de pagamentos.

Há poucos dias, ele desencavou uma série de fitas feitas por um jornalista do "Enquirer", que seria uma das provas de que o tablóide passou mais de uma década oferecendo "muito dinheiro" para qualquer pessoa que pudesse provar que o cantor abusou de alguma criança ¿ mas nunca conseguiu nada substancial, apenas rumores.

Outro jornalista que vem denunciando a parcialidade da imprensa é Matt Drudge (aquele que desencavou o caso Monica Lewinsky). Ele também tem falado sobre o fato de que testemunhas que confessam ter mentido em depoimentos anteriores - feitos sob juramento - dificilmente vão ter complicações legais. "Que tipo de Justiça é esta, em que você pode inventar qualquer coisa sobre uma pessoa?", perguntou Drudge em seu programa de rádio na emissora ABC há poucos dias.

Curiosamente, o programa que tinha tudo para ser o mais "tabloidesco" de todos tem mostrado um bom balanço. A cobertura diária do canal por assinatura E! Entertainment, com direito a encenações dos principais momentos na corte com um sósia do pop star, tem dado o mesmo destaque para o interrogatório da defesa e da promotoria. Cada tópico - inclusive o histórico das testemunhas ¿ é discutido por um casal de advogados e uma promotora.

Se a imprensa mostra que já condenou Michael Jackson, resta saber qual o efeito que a cobertura jornalística vem tendo nos 12 jurados do caso. No programa do E! é possível imaginar pelo menos um pouco da reação do júri, que dá risadas depois de comentários que parecem muito exagerados, por exemplo. De acordo com Friedman, vários deles reagem com expressões faciais quando as testemunhas acabam admitindo, no interrogatório da defesa, que mentiram ou aceitaram pagamentos. Talvez a presença de câmeras no tribunal pudesse ter deixado o julgamento menos vulnerável a interpretações parciais por parte da imprensa.





Fonte: Planet Pop

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