Novo período do Protocolo de Kyoto e fundo de investimento continuam sem consenso
Brasil e Noruega vão tentar conciliar impasses com ministros na COP
DOHA - As negociações climáticas na Conferência das Partes em Doha entraram nesta segunda-feira em sua etapa final com os principais pontos que precisam ser resolvidos ainda abertos, o que deixa sua solução para os ministros de Estado, que começam a se reunir a partir desta terça-feira, 4. Na tentativa de facilitar esse processo, o presidente da COP, Abdullah Bin Hamad Al-Attiyah, convocou o Brasil e a Noruega a fazer consultas com os ministros a fim de tentar desentravar os trabalhos.
Seguem dúvidas, por exemplo, sobre por quanto tempo o novo período do protocolo deve ficar em atividade, se até 2017 ou até 2020, mas principalmente o que será feito com o chamado "hot air" - uma espécie de poupança de emissões reduzidas que países como Rússia e Polônia têm por terem diminuído mais do que precisavam e querem agora carregar para as novas metas.
No caso da Rússia a coisa é ainda mais complicada porque o país não quer se comprometer mais com Kyoto, mas quer continuar usando os chamados mecanismos de flexibilidade do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, negociando créditos. "Apesar de não quererem metas quantificáveis mandatórias de redução, eles querem comprar créditos. Essa é uma conversa de alta sensibilidade política e tem de ser resolvidas até o final dessa semana", diz.
Ao colocar o Brasil na jogada, que nas últimas COPs tem sempre desempenhado papel de destaque ao resolver os impasses, e Noruega, que vai seguir em Kyoto e é um país que tem dado ajuda financeira para ações de redução de emissões, o presidente da COP pode ter enfim atuado para mediar os conflitos.
Um pouco mais cedo, a comissária do clima da União Europeia, Connie Hedegaard, tentou minimizar o problema do "hot air", que vem sendo considerado uma ameaça para a continuidade do Protocolo de Kyoto. "Há uma questão, estamos lidando com ela. Temos de entender que há a formalidade e há a realidade. A realidade é que já está na lei da União Europeia que a partir de 1.º de janeiro de 2013, quem não estiver no segundo período de compromisso não poderá usar isso para negociar."
Financiamento
Assim como aconteceu em outras COPs e também na Rio+20, a questão do financiamento de países desenvolvidos para ações de mitigação e adaptação segue como um problema. Agora em 2012 termina um período de compromisso rápido, iniciado em 2010, que implicava num investimento total de US$ 30 bilhões. As nações ricas estão dizendo que cumpriram, mas ainda está sendo avaliado se realmente se tratou de dinheiro novo ou de reempacotado, como alega a ONG Oxfam.
Para o ano que vem teria de ser iniciado um novo compromisso, que deve resultar num financiamento de até US$ 100 bilhões em 2020. Em Doha, era de se esperar que fosse ao menos desenhado um mapa do caminho para atingir esse resultado, com a verba sendo distribuída ao longo dos anos.
No final da semana passada, os países do G-77 (que reúne desde Brasil, Índia e China a nações bem menos desenvolvidas e os estados-ilha) sugeriu que US$ 60 bilhões sejam entregues até 2015, mas tanto União Europeia como Estados Unidos, apesar de se dizerem comprometidos com a meta, não parecem dispostos a anunciar nenhuma novidade. "Estamos comprometidos em mobilizar um fundo para 2020", se limitou a dizer o chefe das negociações americanas, Todd Stern.
A repórter viaja a convite da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC)
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