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Internacional
Quinta - 07 de Abril de 2005 às 23:55
Por: Tom Heneghan

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Nem todos os papas gozam do descanso eterno de que merecem. Ao contrário das gigantescas homenagens e da pompa que cercam o adeus a João Paulo 2o., o mundo já assistiu a brigas, saques e constrangedoras disputas de poder após a morte de pontífices anteriores.

Em 897, o corpo do papa Formoso chegou a ser exumado após vários meses, levado a julgamento em suas vestes papais e depois despido e atirado no rio Tibre. Seu sucessor, que convocou o tribunal, foi posteriormente deposto e estrangulado na prisão.

O velório de Pio 12, em 1958, foi tranquilo, mas não menos bizarro, devido ao forte odor que se desprendia de seu corpo em decomposição, resultado de um embalsamamento mal feito.

Em seu recente livro "Herdeiros do Pescador", sobre os 263 sucessores de São Pedro, o historiador John-Peter Pham disse que os altos e baixos do Vaticano mostram que o papado também é uma atividade demasiado humana. "Os herdeiros do pescador foram homens, sujeitos a toda a grandeza e a toda a miséria da condição humana", escreveu ele.

Maracutaias na época da "sede vacante" (o interregno entre os papas) eram mais frequentes há alguns séculos, quando o pontífice era um líder político influente no que hoje é a Itália e na Europa como um todo.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os nobres romanos competiam para ter um papa na família. Para isso, subornavam ou coagiam os cardeais e sitiavam a basílica no momento da votação.

Quando Gregório 2o. morreu, em 731, uma multidão de romanos escolheu um padre durante a procissão fúnebre e proclamou que ele seria Gregório 3o..

O mais comum, porém, é que a turba se vingasse de papas odiados. Em 824, Pascoal 1o. não pôde ser sepultado na basílica de São Pedro, porque a multidão impediu a passagem do cortejo.

Seis anos mais tarde, quando Adriano 3o. foi aparentemente assassinado em uma abadia perto de Módena, os monges do lugar se apossaram de todos os seus pertences, enquanto os romanos, descontrolados, saqueavam a basílica de Latrão.

A luta pelo trono pontifício foi se acirrando ao longo dos séculos. Em 996, Otto 3o., chefe do Sacro Império Romano-Germânico, impôs o primeiro papa alemão, Gregório 5o.. Sentindo-se esnobada, a nobreza romana realizou um golpe contra ele meses mais tarde.

Gregório 5o. acabou voltando, e seu rival foi cegado, mutilado e levado pelas ruas, montado de costas sobre um burro.

ELEITORADO PROTEGIDO

A tradição de eleger os papas a portas fechadas começou em 1198, não para garantir o sigilo, como hoje, mas para proteger os cardeais da agressividade dos romanos.

Nos séculos que se seguiram, o papado se tornou uma instituição monárquica, menos sujeita aos humores da população e dos nobres da cidade.

O drama então passou a ocorrer dentro dos conclaves, onde os imperadores e reis europeus manobravam nos bastidores para eleger seus favoritos.

Depois da Revolução Francesa, tropas francesas sequestraram dois papas. Pio 6o. morreu na França em 1799, e seu sucessor, Pio 7o., foi mantido prisioneiro perto de Paris entre 1812 e 1814.

Mas os romanos não se tornaram mais corteses. Sentiram-se tão frustrados com a intransigência de Pio 9o. que, três anos após o fim de seu longo pontificado (1846-1878), tentaram jogar o corpo dele no Tibre, quando o caixão foi transferido de um túmulo provisório no Vaticano para outra basílica romana.

O momento da morte do papa pode influenciar o conclave. Quando Pio 11, crítico do nazismo, morreu, apenas sete meses antes do começo da Segunda Guerra Mundial (1939), os cardeais escolheram o antigo núncio (embaixador pontifício) em Berlim, Eugenio Pacelli. Pio 12, como escolheu ser chamado, é criticado até hoje por não ter se manifestado contra Hitler.

O recente avanço das comunicações transformou a morte e os funerais dos últimos papas em eventos mundiais. E, numa época em que as viagens aéreas deixaram tudo mais perto, todos os cardeais da Igreja podem chegar a Roma a tempo de formar a longa fila de barretes vermelhos que acompanhará





Fonte: Reuters

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