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Internacional
Quinta - 07 de Abril de 2005 às 09:42

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O papa João Paulo II elevou muito o nível de sua sucessão, tanto por sua missão pastoral como por seu nível intelectual e acadêmico, como testemunha a marca deixada na Universidade da Cracóvia, castigada pela ação devastadora do nazismo e do stalinismo.

Para os cracovianos, que nesta quinta-feira à noite se despedirão do papa na mesma esplanada que, em 2002, recebeu dois milhões e meio de pessoas durante a última visita papal a essa cidade, o trabalho de Karol Wojtyla não pode ser abrangido nem sequer no nome de João Paulo II "O Grande" com que entrará para a História.

O Pontífice já foi, muito antes de arcebispo da cidade e papa, uma figura cuja trajetória ilustra como poucas a luta contra as transformações da recente história da Polônia.

A Universidade Jagellonica da Cracóvia, a segunda mais antiga da Europa, com mais de 600 anos, lembra a passagem por suas salas de João Paulo II, seu mais ilustre ex-aluno e "defensor" das perseguições das duas ditaduras do século XX.

Em 1938, com 18 anos, Karol Wojtyla matriculou-se em Filologia Polonesa "um ano antes de os nazistas ocuparem a Polônia e arrasarem sua universidade", explicou à EFE Jalek Proszowsky, ex-aluno dessa faculdade e hoje colaborador do santuário da Virgem Negra, padroeira do país, em Jasna Gora, Czestochowa.

Em 6 de novembro daquele ano, os nazistas convidaram os docentes para uma leitura diante de seus militares, o que se tratava de uma emboscada que terminou com a detenção pela Gestapo de 183 professores e alunos. Muitos deles acabaram em Dachau ou Auschwitz.

"Fecharam as universidades, a vida acadêmica foi suspensa e o que mais ou menos continuou funcionando foi destruído ou depredado durante a ocupação", acrescenta Proszowsky.

Como tantos outros, Wojtyla foi fichado pela Gestapo.



Matriculou-se numa universidade clandestina, na qual estudava teologia à noite, enquanto de dia trabalhava numa pedreira e na fábrica de soda cáustica Solvay.

Três anos depois da libertação, já como sacerdote, formou-se como professor na Faculdade de Teologia de Jagellonica. Desde então, alternou seus trabalhos como vigário de uma paróquia cracoviana com os de conselheiro de estudantes e graduados da universidade estatal da cidade.

"Mas depois da devastação nazista veio a segunda ocupação, a stalinista, uma nova praga sobre a vida universitária", explica Proszowsky, originário de Silésia.

Wojtyla, que entre 1954 e 1958 foi professor de Ética na Universidade Católica de Lublin, voltou à Cracóvia naquele ano como bispo auxiliar dessa arquidiocese, disposto, entre outras coisas, a reanimar a maltratada vida acadêmica.

Ele foi "o guia espiritual da vida estudantil", lembra um amigo do papa e professor de História da Arte Jacek Wozsniakowski, além de companheiro do Pontífice em seus tempos na oposição. Nos anos 60 eram organizados encontros mensais dos estudantes com Wojtyla, nomeado arcebispo da Cracóvia em 1962 e, cinco anos mais tarde, cardeal.

"Seu nível acadêmico e sua crescente relevância no Vaticano deram à universidade um impulso que, nesses anos, dificilmente poderia alcançar de outro modo", afirma Proszowsky. A Universidade Jagelloniana, fundada em 1364, é a "mãe" da rica vida acadêmica da Cracóvia, uma cidade que tem 14 escolas superiores e nas quais estudam 120 mil universitários.

Wojtyla, doutor honoris causa da Universidade da Cracóvia, receberá hoje à noite a despedida de seus concidadãos na esplanada Blonie, onde foi celebrada a mais multitudinária missa na Europa, em 2002.

A cerimônia será precedida pela denominada Marcha Branca, uma procissão de paroquianos vestidos de branco, vizinhos da Cracóvia, entre os que "certamente" - afirma Wozsniakowski - estará presente o mundo acadêmico e universitário da cidade.





Fonte: EFE

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