Sociedade carrega fobia da falta de sexo, diz vidente
Se praticássemos na medida em que ele é mostrado, estaríamos numa luxúria que deixaria Sodoma e Gomorra envergonhadas. Há muita tensão em torno do tema, instruções de especialistas (e isso existe é?), lista de deveres, cronogramas a serem cumpridos, discussão de restrições. O sexo invadiu todos os domínios e ninguém mais pode ficar tranquilo.
Há um século, um casal heterossexual estável, com valores cosmopolitas, que fizesse sexo quatro vezes por mês podia sentir ansiedade por isso. Preocupados pensando que estavam se exaurindo com esse comportamento exagerado. Hoje, se não tiver muitos encontros íntimos, você é visto como o exemplo de uma pessoa sozinha, marcada pela tristeza.
Nossa sociedade, momento específico de história em que estamos vivendo, entende como patologia não fazer muito sexo. Nossa geração carrega uma espécie de fobia da falta de sexo. Como se fosse vital e indispensável acumular experiências eróticas e sensuais em grande quantidade.
Trata-se de fonte de ignorância, culpa e frustração. As pessoas, contaminadas pelo momento cultural que vivem, realmente acreditam nessas coisas. Crença esquisita que acaba escravizando e limitando um alargamento das possibilidades de vida plena. Ironicamente parece que, hoje em dia, o pecado mudou de direção, é não se entregar de cabeça na "fusão de deleite e enlevo", "fluxo de sensações supremas". Triste equívoco.
Devemos dar uma olhada na Revolução Sexual. Funcionou? Daquele jeito incrível que prometia? Diversão ou sofrimento? Será que acabou coagindo as mulheres a fazerem sexo para não parecerem conservadoras? Acabou coagindo os homens a fazerem sexo para não parecerem reprimidos? Fechou uma armadilha que colocou homens e mulheres diante da questão impossível de estar à altura da nova liberdade e de todo o prazer que deviam estar tendo?
O melhor termômetro para a questão é a televisão. O número de cenas sexuais cresce a cada ano. Um personagem que menciona estar sem fazer sexo a algum tempo ¿ digamos, seis meses ¿, recebe dos que estão à sua volta piadas, vitupérios e números de telefone de possíveis parceiros. É difícil imaginar que na vida real as pessoas acompanhem o ritmo do sexo visto nos filmes ou seriados.
O que temos aqui resumidamente? Uma sociedade que acredita na sexualidade como propiciadora de sublime felicidade e, justamente, por supervaloriza-la, acaba tornando-a força de coação. Precisamos valorizar mais a educação sentimental, o caminho que amarra espírito e corpo para desfrute do viver, em bases possíveis e humanas, acima das ilusões exasperantes que nos são impostas.
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