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Saúde
Quinta - 24 de Março de 2005 às 09:33
Por: Fábio Calvetti

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São Paulo - No Brasil, 92.472 pessoas têm tuberculose, e o número de casos está estabilizado num patamar elevado, acima de 80 mil por ano. Os dados colocam o Brasil no grupo das 22 nações que concentram mais de 80% dos tuberculosos do mundo, embora o país esteja em 85º lugar por incidência proporcional. Em razão da importância da doença, que nunca foi extinta embora tenha cura, o Brasil tem sua própria data de atividades de conscientização, o dia 17 de novembro. Hoje, dia 24 de março, entretanto, comemora-se o Dia Mundial de Combate à Tuberculose.

Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou um pacote de medidas para combater a doença. Em entrevista à Agência Brasil, o Secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa, fala sobre o quadro nacional da doença e o programa apresentado pelo governo.

Agência Brasil - O Brasil tem cerca de 92 mil casos de tuberculose e 6 mil pessoas mortas pela doença todos os anos.

Jarbas Barbosa - Tuberculose, sem dúvida nenhuma, é um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. Nós temos esse quantitativo de mais de 90 mil casos novos detectados no ano passado. É um problema hoje nas grandes cidades brasileiras, particularmente, em pessoas com menor grau de instrução, pessoas mais pobres, migrantes, principalmente homens entre 20 e 39 anos. Muitas vezes com a associação de outros problemas como alcoolismo, uso de drogas constitui-se um grupo muito vulnerável à tuberculose. Por isso, o Ministério da Saúde vem fazendo um esforço desde 2003 para que o Sistema Único de Saúde (SUS) ofereça uma resposta mais adequada, detectando mais casos e interrompendo o ciclo de transmissão.

ABr - Como está a evolução da doença? Ela tem aumentado nos últimos anos?

Barbosa - A tuberculose está estabilizada no Brasil, mas ela está estabilizada em um patamar muito alto. Nós tivemos um crescimento a partir dos anos 80 em alguns países do mundo por conta da associação da Aids e da tuberculose. Isso ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Aqui no Brasil, ela está estabilizada, mas ainda é um número muito alto. Nós achamos que, com o esforço que vem sendo realizado, o Brasil conseguirá nos próximos anos iniciar um processo sustentável de redução no número de casos. Para isso, bastam duas ações relativamente simples: aproveitar bem a infra-estrutura já disponível no Brasil para descentralizar o diagnóstico e o tratamento, para que ambos estejam o mais próximo possível das pessoas que necessitam.

Uma pessoa não pode ir a um posto e ser transferida para o outro lado da cidade, tomar dois ônibus, esperar em uma fila para receber o diagnóstico do tratamento de tuberculose. A pessoa que é diagnosticada mais cedo e começa o tratamento, praticamente pára de transmitir tuberculose. Nós fazemos um benefício para aquela pessoa e para a própria comunidade. A segunda ação é para que quem inicia o tratamento o faça de maneira completa durante seis meses e assim fique completamente curado.

ABr - Qual é a meta do governo para o combate à tuberculose?

Barbosa - A nossa meta é baseada em indicadores internacionais de detectar, pelo menos, 70% dos casos previstos. Essa meta nós já estamos cumprindo com facilidade, detectamos mais de 80% dos casos. Uma segunda meta é fazer com que 85% das pessoas diagnosticadas concluam o tratamento. Esse indicador ainda está baixo, nós começamos com 71% em 2003, aumentamos para pelo menos 75% em 2004 e queremos chegar até 2006 a esses 85% de sucesso de tratamento. Se nós conseguirmos isso, naturalmente, nos anos seguintes teremos uma redução no número de casos e no número de mortes.

ABr - O governo repassou cerca de R$ 1,6 milhão para os municípios prioritários na luta contra a tuberculose. Em qual região estão esses municípios prioritários?

Barbosa - Esses municípios estão espalhados pelo Brasil inteiro. Tuberculose é um problema de toda grande cidade brasileira, mesmo em capitais com um elevado nível de vida. Tem incidências altíssimas em Porto Alegre, Florianópolis, Itajaí, Rio de Janeiro. Tuberculose é hoje um problema distribuído por todo o Brasil e concentrado, principalmente, nas grandes cidades e especialmente na periferia dessas grandes cidades.

ABr - Os recursos aplicados no combate à tuberculose são suficientes?

Barbosa - O país aumentou muito os recursos destinados à tuberculose. Isso propiciou um enorme processo de capacitação dos profissionais de saúde para que a descentralização possa ocorrer de fato. No ano passado, nós fizemos a primeira campanha de televisão desde 1998 e estamos repetindo agora. Estamos seguros de que esses recursos irão propiciar um desenvolvimento muito maior de ações do que nós tivemos no passado no país.

ABr - Segundo a Pastoral do Imigrante, em São Paulo, há um grande número de casos de tuberculose entre imigrantes, principalmente os bolivianos, devido às condições precárias de trabalho. Muitas vezes essas pessoas entraram no país de forma clandestina. Elas recebem assistência médica mesmo estando ilegais?

Barbosa - O Sistema Único de Saúde não discrimina ninguém. Qualquer pessoa que procura o posto vai receber o diagnóstico e o tratamento sem nenhuma averiguação sobre sua condição legal.

ABr - Quais são as pessoas que mais correm risco de contrair a tuberculose?

Barbosa - Nós temos muito mais casos de tuberculose em homens do que em mulheres. Além disso, os migrantes, as populações pobres e as populações de periferia são as mais acometidas. Geralmente, essas pessoas vivem em situação de ajuntamento, três, quatro famílias, às vezes, repartindo o mesmo ambiente. A tuberculose é transmitida de uma pessoa para outra e o ambiente de confinamento facilita a transmissão. Nas favelas, nos cortiços, na periferia das cidades, essas pessoas são mais vulneráveis. É importante, no entanto, deixar claro que tuberculose tem cura. A pessoa, quando começa a tomar o tratamento, praticamente pára de imediato a possibilidade da transmissão. Tuberculose não é motivo para vergonha, para estigmatizar ninguém. Qualquer pessoa que apresenta tosse há mais de três semanas pode estar com ela, ou seja, precisa procurar o centro de saúde, fazer o diagnóstico e completar o tratamento.

ABr - Qual a situação do país quanto aos medicamentos usados no tratamento?

Barbosa - Os medicamentos da tuberculose são fabricados no Brasil com matéria-prima importada. O Ministério da Saúde desde o ano passado implantou de uma forma pioneira o controle de qualidade de todos medicamentos produzidos no Brasil. Para que a gente assegure que o paciente, além de receber o medicamento gratuito, receba um medicamento efetivamente capaz de curar e de cumprir todos requerimentos internacionais de qualidade.





Fonte: Agência Brasil

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