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Casos mais graves terão prioridade no transplante de fígado
São Paulo - A ordem da fila de espera para transplante de fígado no País deixará de obedecer ao critério cronológico e passará a funcionar pelo critério de gravidade. Quando houver um órgão disponível, os pacientes que terão prioridade serão aqueles que apresentarem o quadro clínico mais grave e não mais os que entraram na fila primeiro - como ocorre desde 1998. A decisão foi tomada quinta-feira, na última reunião da Câmara Técnica do Fígado, montada pelo Ministério da Saúde, e deverá entrar em vigor nos próximos dois meses.
O ponto-chave para a mudança foi o resultado de uma pesquisa feita pelo ministério, segundo a qual 61% dos pacientes na fila não têm indicação para receber o transplante. São pessoas com quadro clínico muito precoce, para as quais a cirurgia seria mais perigosa do que a própria doença. "Passa a prevalecer o critério de expectativa de vida do paciente", confirmou o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, Roberto Schlindwein. "Os primeiros a serem atendidos serão aqueles com maior risco de morte, como ocorre em qualquer pronto-socorro. É o mais racional e mais ético a se fazer."
A fila por um fígado hoje tem cerca de 6 mil pessoas, com espera que pode chegar a dois ou três anos. Sem os 61% que não precisam do transplante, esse número cai para cerca de 2.300. "Pela situação atual há uma tendência de incluir pacientes na lista que estão em situação muito precoce. Isso faz com que a lista seja aumentada artificialmente e prejudica os pacientes mais graves", disse Schlindwein. "É uma situação insustentável, que precisa ser mudada o mais rápido possível." No outro extremo, há 1% de pacientes em estado muito grave, mas que já passaram do tempo de receber o transplante e poderiam sair da fila.
Exame de sangue - A ordem passará a ser determinada por um exame de sangue chamado Meld, usado nos EUA, que permite determinar o risco de morte do paciente num prazo de três meses. O resultado é um número de 6 a 40, do menor risco ao mais grave. Pelo sistema aprovado, pacientes com Meld acima de 35 terão prioridade para transplante, seguidos pelos pacientes com Meld entre 25 e 35, e assim por diante. De 15 para baixo, o transplante deixa de ser recomendado (situação de 61% da lista atual).
Os pacientes, então, passarão por testes periódicos e seu lugar na fila será determinado com base nesses resultados. A Câmara Técnica do Fígado, formada por sete médicos especialistas, foi criada no ano passado para aconselhar o ministério nessa questão. A votação final foi de 5 a 2 pela mudança. Apesar de ter caráter apenas consultivo, Schlindwein garantiu que a decisão será acatada pela pasta, que deverá baixar portaria oficializando a alteração.
A Associação Brasileira dos Transplantados de Fígado e Portadores de Doenças Hepáticas (Transpática) comemorou a decisão. "Tem muita gente na fila sem indicação tirando o lugar de quem realmente precisa ser transplantado e acaba morrendo", disse o presidente do grupo, Sidnei Moura Nehme. Em 1998, ele recebeu o primeiro transplante inter vivos no mundo, de fígado e rim. O doador foi o filho, que deu 65% do fígado e o rim esquerdo para salvar o pai. "Não usei nenhum serviço público, mas percebi que havia muitos erros e resolvi montar a associação."
Uma das possíveis beneficiadas com o novo critério é a paciente Eliana Lopes Jimenes, de 39 anos, que sofre de cirrose biliar e está no número 729 da lista. Ela já foi salva por um transplante em 1993, mas a doença voltou no ano passado. "Olho para o futuro com um ponto de interrogação", diz. "Tenho certeza de que não agüento mais dois anos."
Para o médico Sérgio Mies, um dos pioneiros do transplante de fígado no Brasil e chefe da Unidade de Fígado do Hospital Albert Einstein, a mudança da lista poderá ter "conseqüências desastrosas". Segundo ele, o novo critério poderá resultar no mau aproveitamento dos órgãos. "Se você operar apenas os mais graves, você está colocando os poucos fígados disponíveis em pessoas que têm poucas chances de sobrevivência", explica Mies, que foi um dos votos vencidos na reunião. "Quanto mais grave o paciente, maior a possibilidade de ele morrer depois do transplante."
Não que os casos graves não devam ser operados, ressalta. O ideal, segundo Sérgio Mies, seria que o Meld fosse usado como critério para entrada na lista - restrita a pacientes com resultado acima de 15. Uma vez na fila, entretanto, continuaria valendo o critério de cronologia. "Assim você exclui os 61% e coloca apenas aqueles que realmente precisam de cirurgia."
Hoje, no Estado de São Paulo, onde são realizados 50% dos transplantes de fígado do País, apenas 8% dos pacientes da lista (cerca de 250) são operados por ano. A fila tem mais de 3 mil pessoas e quase 60% delas morrem antes de conseguir um transplante. E, dentre aqueles que conseguem um órgão, 35% morrem em até um ano após a cirurgia. "Essa mortalidade vai aumentar muito (com o novo critério)", avalia Mies. Ele acredita que a seleção cronológica garante mais transparência ao sistema. "Ninguém passa na frente, nem o presidente da República."
O ponto-chave para a mudança foi o resultado de uma pesquisa feita pelo ministério, segundo a qual 61% dos pacientes na fila não têm indicação para receber o transplante. São pessoas com quadro clínico muito precoce, para as quais a cirurgia seria mais perigosa do que a própria doença. "Passa a prevalecer o critério de expectativa de vida do paciente", confirmou o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, Roberto Schlindwein. "Os primeiros a serem atendidos serão aqueles com maior risco de morte, como ocorre em qualquer pronto-socorro. É o mais racional e mais ético a se fazer."
A fila por um fígado hoje tem cerca de 6 mil pessoas, com espera que pode chegar a dois ou três anos. Sem os 61% que não precisam do transplante, esse número cai para cerca de 2.300. "Pela situação atual há uma tendência de incluir pacientes na lista que estão em situação muito precoce. Isso faz com que a lista seja aumentada artificialmente e prejudica os pacientes mais graves", disse Schlindwein. "É uma situação insustentável, que precisa ser mudada o mais rápido possível." No outro extremo, há 1% de pacientes em estado muito grave, mas que já passaram do tempo de receber o transplante e poderiam sair da fila.
Exame de sangue - A ordem passará a ser determinada por um exame de sangue chamado Meld, usado nos EUA, que permite determinar o risco de morte do paciente num prazo de três meses. O resultado é um número de 6 a 40, do menor risco ao mais grave. Pelo sistema aprovado, pacientes com Meld acima de 35 terão prioridade para transplante, seguidos pelos pacientes com Meld entre 25 e 35, e assim por diante. De 15 para baixo, o transplante deixa de ser recomendado (situação de 61% da lista atual).
Os pacientes, então, passarão por testes periódicos e seu lugar na fila será determinado com base nesses resultados. A Câmara Técnica do Fígado, formada por sete médicos especialistas, foi criada no ano passado para aconselhar o ministério nessa questão. A votação final foi de 5 a 2 pela mudança. Apesar de ter caráter apenas consultivo, Schlindwein garantiu que a decisão será acatada pela pasta, que deverá baixar portaria oficializando a alteração.
A Associação Brasileira dos Transplantados de Fígado e Portadores de Doenças Hepáticas (Transpática) comemorou a decisão. "Tem muita gente na fila sem indicação tirando o lugar de quem realmente precisa ser transplantado e acaba morrendo", disse o presidente do grupo, Sidnei Moura Nehme. Em 1998, ele recebeu o primeiro transplante inter vivos no mundo, de fígado e rim. O doador foi o filho, que deu 65% do fígado e o rim esquerdo para salvar o pai. "Não usei nenhum serviço público, mas percebi que havia muitos erros e resolvi montar a associação."
Uma das possíveis beneficiadas com o novo critério é a paciente Eliana Lopes Jimenes, de 39 anos, que sofre de cirrose biliar e está no número 729 da lista. Ela já foi salva por um transplante em 1993, mas a doença voltou no ano passado. "Olho para o futuro com um ponto de interrogação", diz. "Tenho certeza de que não agüento mais dois anos."
Para o médico Sérgio Mies, um dos pioneiros do transplante de fígado no Brasil e chefe da Unidade de Fígado do Hospital Albert Einstein, a mudança da lista poderá ter "conseqüências desastrosas". Segundo ele, o novo critério poderá resultar no mau aproveitamento dos órgãos. "Se você operar apenas os mais graves, você está colocando os poucos fígados disponíveis em pessoas que têm poucas chances de sobrevivência", explica Mies, que foi um dos votos vencidos na reunião. "Quanto mais grave o paciente, maior a possibilidade de ele morrer depois do transplante."
Não que os casos graves não devam ser operados, ressalta. O ideal, segundo Sérgio Mies, seria que o Meld fosse usado como critério para entrada na lista - restrita a pacientes com resultado acima de 15. Uma vez na fila, entretanto, continuaria valendo o critério de cronologia. "Assim você exclui os 61% e coloca apenas aqueles que realmente precisam de cirurgia."
Hoje, no Estado de São Paulo, onde são realizados 50% dos transplantes de fígado do País, apenas 8% dos pacientes da lista (cerca de 250) são operados por ano. A fila tem mais de 3 mil pessoas e quase 60% delas morrem antes de conseguir um transplante. E, dentre aqueles que conseguem um órgão, 35% morrem em até um ano após a cirurgia. "Essa mortalidade vai aumentar muito (com o novo critério)", avalia Mies. Ele acredita que a seleção cronológica garante mais transparência ao sistema. "Ninguém passa na frente, nem o presidente da República."
Fonte:
Agência Estado
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/351605/visualizar/
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