Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quinta - 17 de Março de 2005 às 18:44
Por: Alan Elsner

    Imprimir


Acompanhados de pizza e refrigerante, meia dúzia de garotos de 13 anos assiste a um vídeo sobre como resistir à pressão dos colegas. Depois, um orientador lhes pergunta como eles poderiam combater a pressão social para iniciar logo sua vida sexual. Mas a maioria dos meninos não está nem aí. Mesmo quando um deles é expulso da classe de uma escola de Maryland, nos EUA, eles continuam se mexendo nas cadeiras, fazendo barulhos e ofendendo o orientador. A sessão termina sem que haja uma discussão de verdade.

Bem-vindos à educação pró-abstinência do ano 2005. Nos últimos cinco anos, o presidente americano, George W. Bush, aumentou em mais de 100% o financiamento para programas como esses, que pregam que a abstinência sexual até o casamento é o único método seguro de evitar a gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e outros problemas.

No Orçamento para o ano fiscal de 2006, divulgado no mês passado, que cortou drasticamente os recursos de centenas de outros programas sociais, Bush propôs aumentar o financiamento do ensino da abstinência de US$ 39 milhões para US$ 206 milhões, chegando a US$ 270 milhões em 2008.

Muita gente afirma que não há nenhuma prova que esses programas tenham alguma influência na redução da atividade sexual dos adolescentes, e que muitas vezes eles dão informações falsas sobre a saúde reprodutiva, que acabam elevando os riscos de gravidez na adolescência e da transmissão de doenças. "Bush pode estar sendo sincero, mas também está querendo mostrar serviço para sua base política e levando mais em conta a ideologia que os fatos", disse Michael McGee, vice-presidente para a educação da Federação de Planejamento Familiar dos EUA.

Efeito inibidor

Segundo McGee, o movimento pró-abstinência teve um efeito inibidor nas salas de aulas americanas, forçando os professores a pararem de citar métodos de contracepção nas aulas de ciência, mesmo quando o currículo exige o ensino do conteúdo. "Basta apenas um pai reclamando para arruinar o programa na escola inteira. Nós temos visto isso de comunidade a comunidade. As escolas querem a todo custo evitar polêmica", disse ele.

As taxas de gravidez na adolescência vêm caindo nos EUA nos últimos anos, numa queda de 28% entre 1990 e 2000, mas ainda são mais que o dobro das taxas da maioria dos países europeus. "Nosso programa começou há 11 anos, por causa da preocupação de que os estudantes só ouviam falar do sexo seguro, e nem se davam conta de que a abstinência era uma opção", disse Jimmy Hester, coordenador da organização True Love Waits (O Amor Verdadeiro Espera), patrocinada por uma editora cristã de Nashville.

Para os críticos do programa, a queda na gravidez adolescente é explicada por um aumento significativo no uso de métodos de contracepção por adolescentes, além da redução de sua atividade sexual.

IMPACTO



Eles afirmam que vários estudos sobre os programas pró-abstinência não conseguiram comprovar um impacto mensurável. Em um dos últimos, realizado no Texas e divulgado no mês passado, adolescentes de 29 escolas se tornaram mais sexualmente ativos depois de participar dos cursos. Um outro estudo, que analisou o material usado pelos programas, descobriu que 80% do currículo continha informação falsa, distorcida ou enganosa.

Foi comum ensinarem que os preservativos não são eficazes na prevenção de doenças e da gravidez, e havia informações falsas sobre o risco de aborto, além de mensagens preconceituosas, afirmou o estudo. Na Pensilvânia, o Estado parou de financiar os programas pró-abstinência por causa de um estudo que mostrava sua ineficácia, mas o governo federal aumentou seu financiamento para compensar, disse o porta-voz do departamento de saúde do Estado, Richard McGarvey.

Em Maryland, os programas são realizados apenas como atividades voluntárias fora do período escolar. No condado de Frederick, ao norte de Washington, os responsáveis se dedicam a atrair garotos entre 13 e 14 anos para as sessões que ocorrem duas vezes por semana. "Levamo-nos para jogar boliche e para nadar, mas também fazemos serviços comunitários e temos aulas", disse Beth Mowrey, que dirige o programa "Guys Only", do condado. "Queremos que os meninos retrasem o início das relações sexuais, e queremos aumentar a comunicação entre pais e filhos a respeito de sexualidade, drogas, álcool e decisões responsáveis", disse ela.

Quando questionados por que tinham se inscrito para o curso, os garotos de New Market disseram que foi para se divertir e para ganhar comida de graça.





Fonte: Reuters

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/352183/visualizar/