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Fora da ficção, detalhes também solucionam crimes
Sangue, esperma, ossadas, impressões digitais, drogas, restos de comida, balas de revólver, fios de cabelo, unhas: assim como nos seriados americanos da linha de C.S.I: Crime Scene Investigation, Crossing Jordan e Lei & Ordem, os peritos brasileiros também analisam este tipo de pista para tentar ajudar a polícia nas investigações dos crimes. Entretanto, a realidade no País é bem diferente da apresentada na televisão.
Os exames são parecidos, mas a principal diferença é o tempo do resultado final da análise. "É necessário preparar a amostra antes de colocá-la em contato com os aparelhos de investigação. Há toda uma metodologia para fazer isso que demora horas", explica Fábio Pereira das Neves Leite, chefe do Laboratório de Perícias do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, considerado um dos melhores do Brasil.
Espectador assumido da série C.S.I, que traz as aventuras do investigador Gil Grissom e sua equipe, Leite aponta situações impossíveis de serem encontradas na realidade. "Assisti a um episódio do C.S.I em que, através do exame da larva de um inseto, era possível extrair o DNA da pessoa picada por ele. Isso é completamente impossível", conta. De acordo com Leite, o tempo para a identificação de um DNA é de aproximadamente uma semana.
Conforme o diretor da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) Roosevelt Leadebal Júnior, este "boom" de seriados sobre investigações estimula o brasileiro a querer uma polícia como a apresentada na televisão. "O cidadão está cobrando", diz. O diretor avalia que as séries "quase sempre são bem fundamentadas" e enfatizam a importância de uma prova técnica.
Leite destaca como um dos defeitos dos seriados a simplificação dos exames, que seriam muito mais complexos. Outro aspecto negativo é que, conta Leite, os criminosos acabam aprendendo as técnicas utilizadas pelos peritos durante as investigações. Como exemplos de "lições" para os bandidos, ele cita a utilização de luvas para não deixar impressões digitais e a queima de corpos após a realização do crime.
Investigação no local do crime
Outra diferença da ficção para a realidade é a participação dos peritos nas investigações no local do crime. No mundo real, o trabalho de perícia é realizado dentro do laboratório, onde ocorre a análise dos vestígios para a formação de um laudo. No local do crime, o trabalho é feito pelo Departamento de Criminalística, que examina o local, faz o levantamento da cena encontrada, avalia os corpos e coleta resíduos biológicos (sangue, esperma, etc) e drogas.
Apesar de realizarem investigações semelhantes, Leite salienta que, ao contrário dos seriados, que "investigam qualquer coisa", os peritos dão prioridade para crimes de "importância para as famílias", como estupro e homicídio. "Já fizemos a análise de sangue no vidro após o roubo de um som de carro, mas isso não é comum", explica.
Outro ponto que impede a realização de um número maior de exames é o custo. Só no Rio Grande do Sul, há 200 exames de DNA esperando para serem feitos. Cada análise custa R$ 400,00 para o Estado, mas há casos em que o procedimento deve ser repetido duas ou três vezes.
Seriados: o lado bom da ficção
O lado positivo dessa história, de acordo com Leite, é que as séries americanas dão um grande valor à atividade pericial, que ganha prestígio para a resolução dos crimes. O chefe de laboratório acredita que cada vez mais delegados, juízes e jurados levam em conta o trabalho realizado pelos peritos. "Com as provas técnicas a chance de errar ou condenar alguém inocente é muito menor", afirma Leite.
Um aumento crescente na procura pelo concurso de perito é uma das provas do prestígio da profissão, que aumentou, segundo Leadebal Júnior, "pela influência do seriado". O diretor da APCF elogia também a formação dos peritos brasileiros da Polícia Federal. De acordo com ele, 32% dos peritos possuem mestrado ou doutorado, e 30% têm especialização.
Perícia brasileira passa por processo de modernização
O Brasil ainda está muito atrás dos Estados Unidos, local onde são produzidos a maioria dos seriados, em relação a equipamentos, mas passa atualmente por um processo de modernização. As perícias da Polícia Civil de estados como São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul são consideradas referências no Brasil. O Norte é a região menos equipada do País. Há locais onde a situação é considerada problemática: o Espírito Santo, por exemplo, possui apenas um pequeno microscópio para a avaliação de documentos; no Amapá não há peritos trabalhando.
De acordo com Leadebal Júnior, a perícia da Polícia Federal está passando por um processo de modernização, com a aquisição de vários equipamentos. O novo prédio do Instituto Nacional de Criminalística, com 10 mil m², cuja inauguração está prevista para o próximo dia 28, em Brasília, deverá ser referência na América Latina. O local terá laboratórios avançados de balística, DNA e engenharia legal. "Nós vamos ter todos os exames", garante Leadebal Júnior.
Atualmente o País conta com 440 peritos somente na Polícia Federal, sendo que mais 500 deverão assumir até 2007. Conforme o diretor da APCF, existem 8 mil pendências de solicitação de laudo para a perícia da Polícia Federal; somente no RS, o IGP tem 200 solicitações do exame de DNA não atendidos. Bem diferente dos seriados, em que todos os casos já foram solucionados em no máximo uma hora, o tempo de duração dos programas.
Espectador assumido da série C.S.I, que traz as aventuras do investigador Gil Grissom e sua equipe, Leite aponta situações impossíveis de serem encontradas na realidade. "Assisti a um episódio do C.S.I em que, através do exame da larva de um inseto, era possível extrair o DNA da pessoa picada por ele. Isso é completamente impossível", conta. De acordo com Leite, o tempo para a identificação de um DNA é de aproximadamente uma semana.
Conforme o diretor da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) Roosevelt Leadebal Júnior, este "boom" de seriados sobre investigações estimula o brasileiro a querer uma polícia como a apresentada na televisão. "O cidadão está cobrando", diz. O diretor avalia que as séries "quase sempre são bem fundamentadas" e enfatizam a importância de uma prova técnica.
Leite destaca como um dos defeitos dos seriados a simplificação dos exames, que seriam muito mais complexos. Outro aspecto negativo é que, conta Leite, os criminosos acabam aprendendo as técnicas utilizadas pelos peritos durante as investigações. Como exemplos de "lições" para os bandidos, ele cita a utilização de luvas para não deixar impressões digitais e a queima de corpos após a realização do crime.
Investigação no local do crime
Outra diferença da ficção para a realidade é a participação dos peritos nas investigações no local do crime. No mundo real, o trabalho de perícia é realizado dentro do laboratório, onde ocorre a análise dos vestígios para a formação de um laudo. No local do crime, o trabalho é feito pelo Departamento de Criminalística, que examina o local, faz o levantamento da cena encontrada, avalia os corpos e coleta resíduos biológicos (sangue, esperma, etc) e drogas.
Apesar de realizarem investigações semelhantes, Leite salienta que, ao contrário dos seriados, que "investigam qualquer coisa", os peritos dão prioridade para crimes de "importância para as famílias", como estupro e homicídio. "Já fizemos a análise de sangue no vidro após o roubo de um som de carro, mas isso não é comum", explica.
Outro ponto que impede a realização de um número maior de exames é o custo. Só no Rio Grande do Sul, há 200 exames de DNA esperando para serem feitos. Cada análise custa R$ 400,00 para o Estado, mas há casos em que o procedimento deve ser repetido duas ou três vezes.
Seriados: o lado bom da ficção
O lado positivo dessa história, de acordo com Leite, é que as séries americanas dão um grande valor à atividade pericial, que ganha prestígio para a resolução dos crimes. O chefe de laboratório acredita que cada vez mais delegados, juízes e jurados levam em conta o trabalho realizado pelos peritos. "Com as provas técnicas a chance de errar ou condenar alguém inocente é muito menor", afirma Leite.
Um aumento crescente na procura pelo concurso de perito é uma das provas do prestígio da profissão, que aumentou, segundo Leadebal Júnior, "pela influência do seriado". O diretor da APCF elogia também a formação dos peritos brasileiros da Polícia Federal. De acordo com ele, 32% dos peritos possuem mestrado ou doutorado, e 30% têm especialização.
Perícia brasileira passa por processo de modernização
O Brasil ainda está muito atrás dos Estados Unidos, local onde são produzidos a maioria dos seriados, em relação a equipamentos, mas passa atualmente por um processo de modernização. As perícias da Polícia Civil de estados como São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul são consideradas referências no Brasil. O Norte é a região menos equipada do País. Há locais onde a situação é considerada problemática: o Espírito Santo, por exemplo, possui apenas um pequeno microscópio para a avaliação de documentos; no Amapá não há peritos trabalhando.
De acordo com Leadebal Júnior, a perícia da Polícia Federal está passando por um processo de modernização, com a aquisição de vários equipamentos. O novo prédio do Instituto Nacional de Criminalística, com 10 mil m², cuja inauguração está prevista para o próximo dia 28, em Brasília, deverá ser referência na América Latina. O local terá laboratórios avançados de balística, DNA e engenharia legal. "Nós vamos ter todos os exames", garante Leadebal Júnior.
Atualmente o País conta com 440 peritos somente na Polícia Federal, sendo que mais 500 deverão assumir até 2007. Conforme o diretor da APCF, existem 8 mil pendências de solicitação de laudo para a perícia da Polícia Federal; somente no RS, o IGP tem 200 solicitações do exame de DNA não atendidos. Bem diferente dos seriados, em que todos os casos já foram solucionados em no máximo uma hora, o tempo de duração dos programas.
Fonte:
Terra
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/353335/visualizar/
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