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Internacional
Quarta - 09 de Março de 2005 às 18:50
Por: Carlos Alberto Quiroga

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A confirmação do presidente Carlos Mesa, que pôs fim na noite de terça a uma crise institucional na Bolívia, não evitou o surgimento na quarta-feira de novos protestos nem a formação de uma grande frente antigoverno, composta de organizações sindicais e políticas.

O Movimento ao Socialismo (MAS), do líder dos produtores de coca Evo Morales, que não assinou o acordo negociado com Mesa com o Congresso como condição para que continuasse na Presidência, cumpriu sua promessa de radicalização ao criar na quarta-feira um "pacto operário-sindical" de oposição.

Enquanto isso, a cidade de Santa Cruz de la Sierra, submetida desde a semana passada a um bloqueio de estradas por camponeses que exigem maior participação nos lucros do petróleo, amanheceu paralisada pelo bloqueio de praças e avenidas patrocinado pelos responsáveis pelo transporte urbano, que exigem a elevação das tarifas.

Mesa, que saiu politicamente fortalecido da crise de 48 horas que criou com seu pedido de renúncia, minimizou os novos protestos e disse que não tem medo porque "uns 99 por cento dos bolivianos são contra os bloqueios".

Apesar disso, e em linha com outros analistas locais, o influente defensor público Waldo Albarracín advertiu que o acordo de Mesa com o Congresso "é insuficiente para garantir a estabilidade porque exclui muitos setores importantes."

Ele e as também respeitadas Conferência Episcopal Boliviana e Assembléia de Direitos Humanos disseram em uma declaração que trabalharão para que setores populares, como os sindicatos urbanos e rurais e as organizações indígenas, sejam levados em conta pelo poder político.

"A rejeição (do Congresso) à renúncia do presidente Carlos Mesa não resolve os problemas profundos do país", disse o vice-presidente da conferência episcopal, Edmundo Abastoflor, segundo a agência católica ANF.

Para o analista político Jorge Lazarte, o acordo de Mesa com o Congresso "nasceu manco porque não contém o MAS". "Isso afeta o valor do pacto e dificulta sua extensão a outros setores da sociedade."

O MAS, que realiza bloqueios desde a semana passada na principal estrada do país, disse que a exigência principal da "mobilização popular" é uma lei que garanta ao Estado boliviano pelo menos 50 por cento do valor da produção de gás natural e petróleo, atualmente controlada por multinacionais.

O MAS fechou a aliança opositora com a Central Operária Boliviana (COB), a Confederação dos Camponeses, um partido de esquerda de El Alto e com vários líderes camponeses locais.

"Vamos à luta frontal contra o governo Mesa", disse Morales ao assinar o pacto, afirmando que vai manter os bloqueios.

"O presidente mentiu para o povo boliviano. O problema não são os bloqueios, e sim a lei de hidrocarbonetos que Mesa quer impor a favor das multinacionais, e pelas quais fez a chantagem de sua renúncia."

Os hidrocarbonetos bolivianos estão nas mãos de estrangeiros desde sua privatização, realizada em 1996 pelo primeiro governo de Gonzalo Sánchez de Lozada.

Em outubro de 2003, sangrentos conflitos sociais obrigaram Sánchez de Lozada a renunciar de seu segundo mandato. Foi sucedido por Mesa, seu vice, que desde então governa sem respaldo parlamentar formal.





Fonte: Reuters

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