Gado morto no sertão cearense. (Foto: Omar Jacob/Especial para o Terra)
A pior estiagem desde 1983 que atinge o Ceará este ano já representa uma angústia aos criadores de gado do interior do Estado. Em regiões afastadas dos centros urbanos, no sertão cearense muitas cabeças não têm resistido a seca e morrido na beira das estradas.
"Os açudes "tão" tudo seco, já não "presta" mais nem pros animais beberem" diz o criador Francisco Airton Araújo, que trabalha em um assentamento do Incra na zona rural de Madalena, o município que registrou a menor chuva de todo o Estado - apenas 144 milímetros em 2012, seis vezes menos do que a média para a região.
De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), 49 reservatórios (conhecidos como açudes no Nordeste) estão com menos de 30% da capacidade e apenas o açude Gavião, que abastece a região metropolitana da capital registra um nível superior aos 90%.
A Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme) também divulgou que a umidade do ar no semi-árido tem se aproximado dos 30%, o que, somado a temperaturas quase sempre acima dos 40°C, acelera ainda mais a evaporação da água.
Encontrar água potável para beber e para as tarefas domésticas tem sido tarefa difícil no sertão do Ceará. Os trabalhadores rurais reclamam que a operação Carro Pipa do governo federal é suficiente apenas para consumo dos humanos e que falta água para os animais.
"A gente é obrigado a comprar a "carrada" d"água a R$ 180 as vezes, porque senão os bichos morrem" diz Francisco Airton, que também é presidente da Associação de Moradores da localidade de Pau Ferro, zona rural de Madalena.
No sertão, a criação de gado bovino funciona como uma espécie de poupança para os agricultores, mas sem água, o investimento tem se perdido. "Tem gente que já "tá" indo embora, vendeu o que tinha a preço de banana, porque "tá" vendo a hora de tudo se acabar" conta o criador Luis Farias Feijão.
Os jovens também têm abandonado cada vez mais as comunidades rurais no interior do Ceará. "Você "tá" vendo algum jovem aí?" perguntou o agricultor Manuel Gonçalves Sobrinho. "Não tem não. Antes tinha jovem aqui de juntar com as mãos. Agora foram "tudo simbora". Não tem condição de viver aqui mais não" respondeu ele próprio. Ele mora na comunidade Bonifácio, na zona rural de Tauá, sertão dos Inhamuns cearense.
Um levantamento do Censo realizado pelo IBGE mostra que entre 2000 e 2010 o número de jovens de até 19 anos no município de Tauá caiu 14%. "O homem do campo quando põe o filho "pra" estudar, é "pra" ele ir em busca de coisa melhor. Longe daqui. Aqui tá ruim demais, né?" argumenta José Marcondes Loiola, que trabalha como agricultor na mesma região.
A sobrevivência de muitas dessas famílias no sertão nordestino tem se dado graças a programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e aos de compensação pelas perdas na lavoura, como o Bolsa Estiagem e o Garantia Safra. Os recursos para contrarar carros pipa, além dos enviados pelo Exército vêm daí.
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