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Domingo - 06 de Março de 2005 às 19:57
Por: Alecy Alves

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Aos 102 anos, pode-se afirmar que o tempo, e Deus, é claro, foi e está sendo de uma bondade infinita com dona Verônica Maria da Silva. Não apenas por preservar sua saúde e seus sentidos, com exceção da voz, mas por fazê-la uma pessoa alegre, de bem com a vida, como diriam os mais jovens.

De uma família muito pobre, neta de escravos, dona Verônica nasceu num sítio da zona rural de Alto Paraguai, em 7 de abril de 1903. Não foi alfabetizada, mas começou a trabalhar cedo na cozinha dos outros.

Teve duas filhas com as quais só viera a conviver em definitivo 50 anos mais tarde. Mas hoje tem 13 netos, 25 bisnetos e sete tataranetos. E mora atualmente com a filha Maria José da Silva, de 63 anos, no bairro Quilombo, em Cuiabá.

Como símbolo de luta, e em nome de todas as mulheres, o Diário escolheu dona Verônia Silva para homenagear as mato-grossenses no Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, próxima terça-feira. Esta data é dedicada às mulheres em homenagem às 129 operárias da indústria têxtil que morreram queimadas dentro da fábrica Cotton em Massachusetts, estado americano, em 8 de março de 1857.

Encantadora. É assim que todos definem Dona Verônica. Vaidosa, gosta de ver as unhas pintadas e com um esmalte de cor mais forte para ter minúsculas flores destacadas nas unhas. Também gosta de fazer seus próprios vestidos, todos, é claro, com dois bolsos na frente para que possa carregar a gaita de boca e o novelo de linha de costura.

De tão antiga, ninguém na família sabe há quantos anos dona Verônica carrega no bolso, ou no fundo do pequeno e inseparável baú, aquela gaita de boca. É com esse instrumento musical que ela se diverte e torna ainda mais agradável sua companhia.

A costura, outro gosto dela, é detalhada. Essa centenária mulher corta o tecido sem usar fita métrica e quando costura cabe em seu corpo como se tivesse sido feito sob medida. Óculos, esse acessório indispensável na vida da maioria dos idosos, jamais fez parte da rotina dessa vovó. Com uma visão privilegiada, ela põe a linha na agulha e impressiona todos, desde a filha a quem chega na casa e a vê costurando.

Há quem atribua o vigor de dona Verônica ao hábito de tomar guaraná em pó todos os dias. Mas esse costume moderno de comprar o produto em pó ou em cápsula não a tem como adepta. Dona Verônica gosta de ter o bastão de guaraná ao seu alcance para ralar e tomar o pó fresquinho.

Há muitos anos - a filha Maria José da Silva, de 63 anos, não sabe precisar quantos - dona Verônica parou de falar. Ela nunca teve o domínio da fala, assim como nunca se soube as causas de seus problemas de dicção, mas isso não a fez menos entendida. Seus sentimentos parecem transparentes na expressão dos olhos, da boca e nos gestos das mãos.

Ninguém jamais entendeu, mas dona Verônica não gosta de ser fotografada. E não é preciso disparar flash de luzes, os protestos surgem logo que ela vê uma máquina com lente apontada na sua direção. Isso acontece na celebração de seus aniversários, nos finais de ano e nas reuniões de amigos na casa onde mora com a filha Maria José.




Fonte: Diário de Cuiabá

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