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Cidades/Geral
Domingo - 06 de Março de 2005 às 19:03

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O trabalho social sempre fez parte da vida da educadora Cleonice Terezinha Fernandes. “Eu acho que tenho uma dívida com as minhas origens. Sou negra e vim de uma família paupérrima do Paraná. Tenho obrigação moral de fazer algo pelas pessoas”, diz.

O engajamento no trabalho com portadores de deficiência começou por acaso. Em 1981, Cleonice dava aulas em uma escola experimental no Paraná que atendia filhos de mulheres prostituídas. O projeto recebia incentivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef.

Um dia, um grupo de cegos, coordenado por uma professora, foi visitar a escola. “Segundo ela, fui a primeira pessoa que não tratou os cegos com piedade. Eu cheguei e perguntei “como é que cego estuda?”, assim, na maior naturalidade. Ela me disse que era com o braile e começou a explicar”, conta.

A partir daí, a educadora se envolveu ainda mais com a matemática e conheceu o soroban, um instrumento milenar usado para ensinar cálculo a portadores de deficiência visual. É uma espécie de ábaco cheio de bolinhas. Foi inventado há mais de 5000 anos pelos romanos e introduzido no Brasil pelos japoneses.

Desde 2001, Cleonice faz parte da 1ª Comissão Brasileira de Estudos e Pesquisas de Soroban, ligada ao Ministério da Educação (Mec). O grupo produziu as Diretrizes Nacionais para Uso e Ensino de Soroban no Brasil, uma espécie de orientação metodológica sobre como ensinar seguindo esta técnica. Nos últimos dois anos, deu aulas para cegos no Centro de Apoio Pedagógico (CAP).

“Eu sou super agitada, não vou dar conta de ficar só nesse trabalho e ainda mais sem minha família”, justifica-se. Ela fez planos para as horas de folga no Timor Leste.

Fará pesquisas em etnomatemática, uma vertente da ciência que estuda a raiz cultural da matemática. “Vou ver como constroem a oca, qual é a geometria que usam”, conta. O incentivo? A Capes se comprometeu a publicar todos os trabalhos que os professores produzirem no Timor.

E tem mais: a educadora quer registrar os mitos e lendas das histórias infantis dos timorenses. “Que tipo de historinhas eles contam para as crianças para falar de morte, luto, como lidam com a puberdade...”, explica.




Fonte: Diário de Cuiabá

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