Assad anuncia retirada gradual de todas suas tropas do Líbano
Em um discurso incomum ante a Assembléia Popular (Parlamento) de seu país, Assad disse que em uma primeira fase, os 14.000 soldados sírios no Líbano serão enviados ao Vale de Bekaa, no leste libanês, e dali "irão se retirar à fronteira sírio-libanesa".
Também disse que chegou a um acordo com o presidente libanês, Émile Lahoud, para que durante esta mesma semana (que começa no sábado no mundo árabe) responsáveis dos dois países se reúnam para preparar a saída dos militares sírios, enviados ao Líbano há três décadas.
Assad destacou que tomou esta decisão em cumprimento do acordo de Taif, que pôs fim à guerra civil libanesa (1975-90), e da resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em setembro passado, que exige que a Síria ponha fim à sua presença militar no Líbano e deixe de interferir nos assuntos internos do país vizinho.
O líder sírio não deu hoje, no entanto, nenhuma data para o início da retirada, que - afirmou- "serve aos interesses da Síria".
"Quando termine (a retirada, os sírios) já terão cumprido com suas obrigações com relação ao acordo de Taif e aos requerimentos da resolução 1559", acrescentou Assad, que ressaltou que, de qualquer maneira, a retirada "não significa o fim do papel sírio no Líbano"
Em seu discurso, que durou uma hora e foi interrompido várias vezes pelos aplausos dos parlamentares, Assad não se referiu aos serviços secretos sírios presentes no Líbano, cuja saída também é exigida pela oposição libanesa e pela resolução 1559 da ONU.
O presidente sírio reafirmou que Damasco não é contra a resolução da ONU, já que "o lugar natural das tropas sírias é o território da Síria", mas criticou o fato de a decisão internacional "incluir pontos negativos, como o da resistência".
Assad se referia ao grupo libanês xiita Hisbolá, apoiado por Síria e Irã, e que é a única milícia que continua armada no Líbano, para combater Israel nas fazendas de Cheba, na fronteira entre Síria, Líbano e Israel, e reclamadas por Beirute.
O líder sírio insistiu que sua decisão não responde à pressão internacional, que foi crescendo desde o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, e lembrou que desde 2000 a Síria "retirou mais de 63% de suas tropas", enviadas pela primeira vez ao Líbano em 1976, sob um mandato da Liga Árabe.
Assad se referiu ao atentado que no último dia 14 de fevereiro matou Hariri e 15 de seus acompanhantes em Beirute, o qualificando como "crime atroz" e afirmando que descobrir quem foram seus autores "é tão fundamental para a Síria quanto para o Líbano".
Por outro lado, criticou duramente os grupos da oposição libanesa, que, segundo dise, são "comerciantes de soberania". Foi uma referência aos recentes protestos populares logo após o assassinato de Haririm, que exigiam o fim da presença militar e da tutela de Damasco sobre o Líbano.
"Eles (a oposição) não querem a soberania (hegemonia) da Síria sobre o Líbano, mas aceitariam a de qualquer outro país", disse Assad.
Milhares de sírios se reuniram na porta do Parlamento antes e durante o discurso do presidente, transmitido ao vivo por rádio e TV nacionais, para dar apoio a Assad.
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