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Sábado - 05 de Março de 2005 às 14:15
Por: Katherine Funke

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Cerca de 1,5 mil mulheres do Movimento Sem-Terra vão se reunir esta semana na capital baiana

"Não mandávamos nada em casa antes do MST. Lá em casa, só meu pai falava". O depoimento é da baiana de Eunápolis Vera Lúcia Barbosa, 33 anos, atualmente integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). De uma família de 15 irmãos, sendo oito mulheres, aos 15 anos, Vera começou a freqüentar o acampamento Fazenda Bela Vista, em Itamaraju.

Mas não era para militar. "Eu fui com a tarefa de cozinhar para os machos. Chegando lá, extrapolei essa tarefa", diz, com uma gargalhada volumosa. Como Vera, milhares de mulheres do campo começaram a ter consciência social e a desenvolver ações de militância política depois de entrarem no MST. De amanhã até quarta-feira, 1,5 mil delas estarão acampadas no Centro de Convivência da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Ondina.

A abertura do acampamento acontece amanhã, às 15h, com a participação de Isabel Freitas, organizadora da Marcha Mundial de Mulheres. Aliás, o ponto alto da programação será a caminhada do Dia da Mulher, que acontece na tarde de terça-feira enrre o Campo Grande e a Praça Municipal. A caminhada é preparatória para a Marcha Nacional do MST, que começa em 23 de abril e culmina em 1º de maio, em Brasília.

Entre as "companheiras", a mais concorrida com certeza será Diolinda Alves, uma das principais lideranças femininas do MST e militante no Portal do Paranapanema. A mulher de José Rainha chega em Salvador, na segunda-feira à tarde, e fica até quarta-feira. Diolinda serve de exemplo para as militantes de todo o país.

"Ela tem muitas qualidades e uma das principais é que sempre esteve presente nos processos de ocupação", destaca Vera Barbosa. Mulheres que quiserem seguir seu exemplo não se contentam apenas com cuidar da saúde, educação, cozinha e limpeza. Segundo Vera, no MST da Bahia há mulheres "muito combativas, mulheres guerreiras".

Mas, como militantes, elas convivem com a mesma dificuldade de reconhecimento das mulheres em geral. Ainda é ínfimo o número das que ocupam postos de coordenação e a participação majoritária em eventos nacionais continua sendo masculina. "O trabalhador rural é machista. Nosso movimento não foge dos parâmetros considerados `normais´ da sociedade. Mas temos um trabalho constante de formação e já tivemos grandes avanços", analisa Vera.

Programação - No acampamento da capital, as mulheres sem-terra vão dividir experiências pessoais e de militância, participar de 34 oficinas de capacitação, seminários e palestras. A organização e promoção do evento tem parceria do Núcleo de Estudos Interdisciplinares das Mulheres (Neim) e outros laboratórios de pesquisa da Ufba, da Juventude Operária Cristã e Comissão Pastoral da Terra (CPT). Este último organiza a homenagem à irmã Dorothy Stang, que vai acontecer na segunda-feira à noite, no acampamento.

As mulheres sem-terra baianas também vêm para a capital com outro propósito:

cumprir uma ampla agenda de audiências reinvidicatórias com órgãos públicos. Das seis audiências solicitadas, até ontem, apenas duas estavam confirmadas: com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e com o secretário de Saúde do estado, José Rodrigues. A primeira reunião vai servir para discutir pautas de desapropriação de terra e exigir medidas que combatam conflitos agrários. A segunda, para reforçar demandas por postos de saúde, agentes de saúde e capacitação comunitária.





Fonte: Correio da Bahia

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