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Nacional
Sábado - 05 de Março de 2005 às 08:04
Por: Janaine Lage

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O ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, negou hoje ter relatado ao presidente Luiz Inácio da Lula Silva casos de corrupção e de uma suposta falência do banco estatal, após depor durante quatros horas no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro.

Lessa foi convocado para prestar esclarecimento sobre a venda da Eletropaulo para a empresa americana AES, em 1998. O negócio é alvo de ação civil pública por improbidade administrativa.

Desde que Lula declarou que teria evitado divulgar supostos casos de corrupção ocorridos durante o governo FHC, relatados a ele por um "alto companheiro", especula-se que o informante teria sido Carlos Lessa.

O ex-presidente do BNDES, porém, disse não ter certeza de ser o companheiro a quem Lula se referia. Lessa afirmou ter sido companheiro de governo do presidente Lula, mas não de partido.

"Nunca disse que o BNDES estava em situação falimentar. O BNDES tem risco soberano. Se ele estivesse nessa situação, o Tesouro e a República também estariam quebrados."

Varredura

Lessa negou ainda ter verificado qualquer sinal de corrupção no banco enquanto ocupou a presidência da instituição.

Ele informou que durante o período que ocupou a presidência do banco realizava varredura semanais para verificar se havia sinais de grampos telefônicos ou nos computadores, mas que nunca encontrou nada.

"Se tivesse identificado sinais de corrupção, teria instalado uma sindicância."

Ele reafirmou, entretanto, ter informado ao presidente Lula que o BNDES havia perdido o caráter desenvolvimentista e se tornado um banco de negócios na década de 90.

Ele disse ter relatado ao presidente também sobre a existência de esqueletos que obrigariam o banco a se capitalizar.

"Palocci nunca deu os recursos para a capitalização [do banco]. Não terminamos com prejuízo porque renegociamos com a AES."

Segundo Lessa, a inadimplência de US$ 1,2 bilhões da AES obrigou o BNDES a criar provisões, seguindo as regras do CMN (Conselho Monetário Nacional), que reduziram o patrimônio de referência e limitaram os empréstimos da instituição.

Para Lessa, a renegociação com a AES foi a melhor escolha, já que uma ação de contencioso dura em média sete anos.

Além disso, ele destacou a importância da Eletropaulo como maior distribuidora de energia elétrica do país.

"O tribunal de contas aplaudiu o que o BNDES fez."

Lessa fez questão de afirmar que o presidente Lula nunca o orientou a ignorar casos de corrupção ou irregularidades no banco.

"Em nenhum momento Lula me sugeriu que jogasse poeira para baixo do tapete. Nunca o presidente insinuou algo que fosse contra a minha consciência."

Apesar de não ter encontrado casos de corrupção, Lessa afirmou que os contratos ligados aos processos de privatização fragilizavam o banco durante as negociações.

No caso da AES, o mutuário e a controladora da empresa eram das Ilhas Cayman. Segundo ele, a controladora não tinha qualquer compromisso com o banco.

"Isto significava entrar num contencioso, sem que nada repercutisse sobre a AES."

Lessa afirmou não ter conversado com Lula depois das declarações feitas no Espírito Santo.

O ex-presidente do BNDES compareceu ao Ministério Público acompanhado do diretor da Área de Recuperação de Crédito do banco, Roberto Timótheo da Costa.




Fonte: Folha de São Paulo

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