ONGs fazem campanhas de educação sexual, apesar da Igreja se opor
Nos últimos dias, várias destas organizações deixaram claro suas posições nas Nações Unidas, onde representantes de cerca de cem governos analisam os progressos alcançados em prol da mulher na última década.
Na América Latina, as mulheres enfrentam grandes obstáculos para exercer seus direitos, especialmente devido aos preconceitos provocados por tradições machistas e religiosas, que afetam principalmente as mais pobres.
Isso se reflete na falta de educação sexual recebida pelas mulheres, o que faz aumentar na região o número de gravidez não desejada (50% entre as menores de 20 anos, segundo a organização privada Population Reference Bureau), assim como os casos de aids e mortes por abortos mal praticados.
"As mulheres novas, muitas das vezes, não estão em igualdade de poder em suas relações sexuais, e portanto, não podem exigir que seus parceiros usem preservativos", afirmou à EFE Esther Vicente, da Associação Porto-riquenha Pró-bem-estar da Família.
Essa associação há mais de 40 anos tenta conscientizar a população porto-riquenha sobre a necessidade de fazer um planejamento familiar, além de ajuda mulheres pobres a pagar o aborto.
Na ilha caribenha, onde o aborto é legal em todas as circunstâncias, a interrupção da gravidez pode custar entre 600 e 900 dólares.
Em Porto Rico e em outras partes da América Latina, as organizações devem lutar para combater preconceitos sociais machistas profundamente arraigados, nos quais a mulher é vista "apenas como um ser sexual, sem capacidade de tomar decisões", segundo Esther Vicente.
Pior situação é a da Costa Rica, um Estado católico no qual a religião tem uma grande influência na sociedade, além de um poder político em determinados setores, como a educação nas escolas.
A informação é de Adriana Maroto, uma das responsáveis pela Associação Demográfica Costarriquenha, que oferece assistência às mulheres até na interrupção da gravidez, quando a lei permite.
No entanto, estes casos são extremamente complicados na Costa Rica, onde o aborto só é permitido quando a vida da mãe corre perigo, o que não acontece, por exemplo, quando o feto tem má formação, afirmou.
Além das gravidezes não desejadas e o baixo uso de preservativo na América Latina, as organizações devem lutar contra outros problemas, como a violência sexual, o aumento da aids (especialmente no Caribe) e a falta de reformas legais.
"Até pouco tempo, na América Latina se acreditava que a violência contra a mulher deveria ficar entre quatro paredes, que não deveria ser denunciada. Agora, já é considerada um problema social", afirmou Carmen Barroso, diretora regional da Internacional Planned Parenthood Federation.
Além disso, as organizações devem participar de fóruns, como o que é realizado nas Nações Unidas, para evitar que a atenção mundial atraída por outros países, principalmente os africanos, faça com que os problemas da América Latina caiam no esquecimento.
Esther Vicente destacou que, durante muitos anos, os países latino-americanos olhavam para os EUA como um exemplo de avanço em matéria de direitos sexuais e reprodutivos.
No entanto, os retrocessos registrados nos últimos anos fizeram as atenções se voltarem para a Europa, especialmente para a Espanha, por causa dos avanços que o atual governo socialista do país conquistou em matéria de direitos matrimoniais, acrescentou a porto-riquenha.
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