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Internacional
Quarta - 02 de Março de 2005 às 10:55
Por: Miguel F. Rovira

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A violência que envolve o sul da Tailândia há mais de um ano e que causou cerca de 700 mortes conseguiu dividir pela primera vez muçulmanos e budistas, após vários séculos de história de rebeliões separatistas.

Uma das primeiras coisas que chamam a atenção ao entrar no sul da Tailândia por sua fronteira com a Malásia é um grande muro publicitário com uma mensagem que diz: "Bem-vindo à Tailândia. A Terra dos Sorrisos".

A mensagem deixa de ser convincente poucos metros adiante, quando começam a aparecer as primeiras patrulhas armadas de soldados e que, sem nenhum sorriso, param as pessoas nos estritos controles de segurança.

A tensa atmosfera vivida na região, que compreende as províncias de Pattani, Narathiwat e Yala, é conseqüência da onda de ataques perpetrados pelos militantes do movimento separatista muçulmano e da dura resposta por parte das forças de segurança.

É raro passar um dia sem que os insurgentes islâmicos cometam um novo assassinato ou sem que os soldados invadam um lar para deter um suspeito, que será conduzido a uma base militar para ser interrogado.

"Sem os soldados vivíamos melhor, acho que sua presença deixa os separatistas nervosos. Entre uns e outros terminaram com a paz e com a tranqüilidade", disse o tailandês Saleh, de 33 anos, funcionário da companhia nacional de telefones.

Na rua principal da cidade de Pattani, ninguém prestava atenção à grande mancha de sangue que havia no asfalto, sobre o qual poucas horas antes morreu um funcionário atingido por dois tiros à queima-roupa efetuados por dois supostos insurgentes.

Outras três pessoas, todas elas empregadas da Administração, foram assassinadas a tiros em diferentes ações realizadas ontem pelos rebeldes em Pattani, cidade onde residem cerca de 40 mil pessoas.

As ações dos rebeldes e das forças de segurança estão destruindo a relativamente harmoniosa relação que existia entre a comunidade muçulmana, maiojoritária na região, e a budista, com a qual convive há séculos.

"Agora acontece que os budistas suspeitam de nossos vizinhos muçulmanos e eles suspeitam de nós", diz Surasak, proprietário de uma loja em Pattani.

Desde que ressurgiu a violência, freqüentemente as vítimas foram budistas, entre elas monges, professores, merceeiros e funcionários, mas também cerca de 200 muçulmanos morreram em confrontos armados ou sob a custódia dos soldados, incluindo 75 detidos que morreram asfixiados quando eram transferidos em caminhões militares.

Segundo fontes locais, o receio entre as duas comunidades também aumenta à medida que o movimento separatista e as forças de segurança recrutam um número cada vez maior de confidentes entre a população civil a fim de obter informação sobre o inimigo. Na Tailândia, os budistas representam a maioria da população, enquanto cerca de 5% dos 63 milhões de habitantes do país seguem o islamismo e, dessa percentagem, mais da metade vive nas três províncias do sul.

Em muitos povoados da região, as casas dos muçulmanos e budistas estão misturadas. O mesmo ocorre com as mesquitas e os templos budistas. A camaradagem entre as duas comunidades, no entanto, se evapora à medida que um culpa o outro pela rápida deterioração da convivência

"A situação está chegando a um ponto insustentável", disse Losuh, um muçulmano de 49 anos e administrador-chefe do povoado de Ban Yho, na província de Narathiwat.

Os muçulmanos dessa região de fraca economia dominada pelos budistas reclamam da marginalização e denunciam que o governo central tenta apagar sua cultura e história. A Tailândia anexou o sultanato de Pattani em 1909.





Fonte: EFE

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