RS 3 e Série 1 M nasceram um para o outro, embora sejam completamente diferentes. No Audi o motor é um 2.5 turbo de cinco cilindros, as trocas de marcha são feitas por um câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas e a tração é integral. Já o BMW segue outra receita: motor 3.0 biturbo de seis cilindros em linha, câmbio manual de seis marchas e tração traseira. Um tem quatro portas e o outro, duas. Escolher entre um e outro, no entanto, não é tão fácil quanto descrevê-los.
O pesadelo de ter que decidir qual comprar, no entanto, perturba poucas mentes. Neste ano, o Série 1 M teve apenas 16 compradores, enquanto o RS 3, lançado por aqui em março, foi escolhido por 13 clientes. Considerando as vendas desde que chegou por aqui, em novembro de 2011, o BMW soma 47 emplacamentos. Os tímidos números, obviamente, refletem o preço que ambos cobram pela potência e exclusividade extras: o Audi sai por R$ 299 mil, enquanto o Série 1 M não sai da loja por menos de R$ 268,6 mil.
No Audi, mais praticidade e versatilidade graças às portas traseiras (Foto: Caio Kenji / G1)
Segurando a ansiedade
Cada vez que entram ou saem do RS 3, motorista e passageio dianteiro driblam a elevada aba lateral do assento do banco semi-concha. Se é bom ou ruim se acomodar ali, depende do humor de cada dia: pode ser desconfortável (e até irritante) quando a única coisa que se quer é ir até o supermercado, ou pode preparar o espírito dos ocupantes para a diversão que está por vir, quando a ideia é acelerar (onde, ninguém precisa saber). Até nos ombros os bancos esportivos abraçam mais quem vai à frente, e sempre há a sensação de estar preso ao banco – o que é recomendável num carro cuja especialidade é fazer curvas.
Nisso, o Série 1 M é mais confortável, mas menos charmoso. O interior do BMW segue a mesma sobriedade dos demais carros da marca – a única concessão são as costuras cor de laranja nos bancos, painel, painéis de portas e alavanca do câmbio. Em ergonomia, fundamental para uma tocada esportiva, ambos são exemplares. Mais preciso o BMW, com alavanca do câmbio e pedal da embreagem exatamente onde deveriam estar. Já o Audi tem painel de instrumentos mais vistoso e volante de pegada mais anatômica e sugestiva, graças à base achatada. Mas, no manuseio dos instrumentos, o BMW leva frugal vantagem pela simplicidade.
Acabamento é impecável em ambos, mas Audi entrega mais requinte (Foto: Caio Kenji / G1)
O acabamento dos dois compactos segue o perfeccionismo alemão, sem o menor resquício de economia de couro, alumínio escovado (mais abundante no RS 3) ou camurça, que reveste as portas e a parte superior do painel do 1 M. Mas, novamente, os dois são diferentes: o BMW é sisudo, seco, claramente intencionado para focar o motorista na dirigibilidade, e não em luxos internos; enquanto a cabine do Audi é mais rica em detalhes e esforçada em sempre lembrar os ocupantes de que aquele é, indiscutivelmente, um carro premium. É uma sensação prazerosa estar a bordo de ambos.
BMW é mais sisudo, mas em ergonomia impecável (Foto: Caio Kenji / G1)
Raridade x eficácia
A configuração dos motores é totalmente distinta, mas ambos chegam a números de potência e desempenho bem similares: 340 cavalos no RS 3, os mesmos 340 cv para o Série 1 M e aceleração de 4,5 e 4,9 segundos, respectivamente. A velocidade máxima, nos dois, fica em suficientes 250 km/h. O torque de ambos fica em respeitáveis 45,9 kgfm, mas no BMW ele salta para 51 kgfm quando se pisa até o fim no acelerador.
Só que sair da imobilidade com o RS 3 não é tão estimulante quanto com o 1 M, e por um simples motivo. Infelizmente, é cada vez mais raro pisar na embreagem de carros brutais como esses, engatar primeira marcha e ir embora. Isso porque câmbios manuais são coisa do passado. Atualmente, a tendência são esportivos com transmissão automatizada de dupla embreagem. Quase todas as marcas premium já têm o seu. A Lamborghini, por exemplo, declarou há cerca de um ano que apenas 2% dos clientes optam pela transmissão manual, o que a encorajaria a encerrar a oferta desse tipo de transmissão. É o fim dos tempos...
No BMW, o peso do pedal da embreagem é simplesmente perfeito, assim como o engate: preciso e seco, sem ser áspero. Seja qual for a intensidade da violência aplicada nas trocas de marcha, ele obedece prontamente. Já no Audi a coisa é menos envolvente: coloca-se a alavanca no D e segue-se viagem, como se faz em qualquer automático...
Mas, obviamente, não se trata de qualquer automático, e sim do espetacular S-Tronic, automatizado de dupla embreagem e sete marchas, que segundo a Audi realiza trocas em 0,2 segundo. É difícil calcular o que se pode fazer nesse minúsculo espaço de tempo, mas é certo que, no que diz respeito a mudanças de marchas, nenhum câmbio comprometido com prazer ao dirigir será mais rápido. Mais veloz que isso só se não houvesse trocas, e quem faz isso são as transmissões continuamente variáveis (CVT), totalmente desconectadas com qualquer sensação parecida com prazer e deleite.
Desempenho
A primeira acelerada com o BMW assusta: o turbo sopra forte já nas rotações mais baixas, e o motorista é levado a trocar de marchas freneticamente – uma mistura de euforia, prazer e medo logo toma conta do(s) ocupantes(s). Nas saídas de curvas, o compacto não hesita em abanar a traseira, e logo percebe-se o estrago que seria feito caso os controles de estabilidade e tração estivessem desligados. É preciso muito treino e intimidade com o carro pra seu ímpeto. E se a primeira acelerada com o Série 1 M assusta, todas as outras seguintes também.
elocidade máxima é limitada em 250 km/h (Foto: Caio Kenji / G1)
Carros tão diferentes também se comportam de maneira distinta. Com tração traseira, o Série 1 M atrai os mais puristas, que com toda razão defendem que carros com essa configuração são mais divertidos ao volante. Mas, infelizmente, fazer curvas de lado, com a traseira escorregando, é uma prática não permitida nas ruas, e isso torna o uso pleno desse BMW restrito a autódromos e pistas particulares.
Já o Audi, com sua tração integral, torna possível aliar velocidades e curvas que não se conheciam até então. É possível sentir todo o carro grudado no chão, e para melhorar a dinâmica os pneus de trás são mais estreitos (225/35 contra 235/35 do eixo dianteiro). Isso faz com que a dianteira aponte melhor para a parte de interna da curva. A direção, que aponta quase instantaneamente para onde o motorista vira, é um sabor a mais na condução. Isso vale pros dois. Com o Launch Control acionado, a expressão “perder o fôlego” ganha a mais realista das demonstrações.
Conclusão
A diferença construtiva de ambos poderia sugerir maiores níveis de diversão a favor do BMW, ou mais precisão dinâmica jogando do lado do Audi. Mas não é bem assim: completamente distintos tecnicamente, os dois apresentam praticamente os mesmos (elevados) níveis de alegria ao volante, desempenho, esportividade, conforto e status. Páreo para o BMW em quesitos emotivos, o Audi apela para fatores racionais, como versatilidade e praticidade, para ser mais merecedor da fábula que custa: recebe os ocupantes de trás com melhor acesso e mais espaço, carrega mais bagagem e, dono de um câmbio de funcionamento brilhante, muda de personalidade no mesmo instante em que mudam os desejos do seu dono.
Páreo para o BMW em quesitos emotivos, o Audi leva o comparativo por ser mais prático e versátil (Foto: Caio Kenji / G1)
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