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Novo governo uruguaio deve abrir economia à participação privada
Os uruguaios adoram o Estado, uma criatura bondosa que é dona de tudo, das linhas telefônicas às refinarias de petróleo, e que produz até seu próprio uísque.
Mas o novo governo de esquerda que assume esta semana não vai dar conta do paternalismo tradicional, e deve abrir a economia à participação privada, de uma maneira que as gerações anteriores de conservadores nunca fariam, afirmam analistas.
"Não vai haver privatizações, mas haverá reformas importantes no Estado. E, de todas as forças políticas, a esquerda deve ser a que terá menor dificuldade para fazer isso", disse Gerardo Caetano, cientista político da Universidade da República.
O novo presidente Tabaré Vazquez tomará posse na terça-feira, no primeiro governo de esquerda em 175 anos no país.
O Estado paternalista do Uruguai tinha o objetivo de ser um "escudo para os pobres", como disse um líder do início do século 20, quando o país era uma nação agrícola próspera habitada por imigrantes europeus. O Uruguai resistiu à onda de privatizações que atingiu a América Latina nos anos 1990.
Mas o colapso da economia em 2002 convenceu a maioria de que o único modo de o Estado ajudar o 1 milhão de pobres do país, quase um terço da população, é criando as bases para um crescimento sólido. Para que isso ocorra, o endividado Uruguai terá de contar com a ajuda do setor privado.
"Não podemos acumular mais dívida. E nosso desempenho fiscal também tem limites. Não podemos fazer mágica. Então precisamos recorrer ao setor privado", disse Henry Willebald, economista da consultoria Oikos.
A coalizão da Frente Ampla — que agrupa socialistas, comunistas, social-democratas e ex-líderes guerrilheiros — chega ao poder com uma fama de pragmatismo e moderação. Vazquez foi o primeiro esquerdista a governar Montevidéu. Desde que assumiu, em 1990, a prefeitura contratou empresas privadas para administrar a coleta de lixo e os hotéis municipais.
Embora a maior prioridade de Vazquez seja combater problemas sociais como a desnutrição e o desemprego, muitos acreditam que o novo governo tome medidas semelhantes às tomadas em Montevidéu.
Tanto Vazquez quanto seu ministro da Economia, Danilo Astori, já disseram que estão abertos a parcerias das estatais com empresas privadas, apesar da oposição da coalizão.
O forte apoio popular ao novo governo pode ressuscitar o interesse em aprovar a lei que permita associações da petrolífera estatal Ancap com o setor privado, embora medida semelhante tenha sido rejeitada pelos eleitores em 2003. Um ano depois, os uruguaios votaram pela manutenção do controle estatal sobre o fornecimento de água.
Uma das razões do apoio às estatais é a qualidade do serviço, disse Agustin Canzani, um dos diretores do instituto de pesquisas Equipos MORI. No mercado de telefonia celular, que foi parcialmente privatizado, a Ancel, do governo, tem o quádruplo de clientes que a Movicom, privada.
Mas nem toda estatal é tão bem-sucedida. Canzani diz que a grande maioria dos uruguaios não mexeria nem um dedo para manter o uísque Mac Pay, notoriamente ruim. "Os uruguaios podem ser estatistas, mas não são burros", riu Canzani.
Mas o novo governo de esquerda que assume esta semana não vai dar conta do paternalismo tradicional, e deve abrir a economia à participação privada, de uma maneira que as gerações anteriores de conservadores nunca fariam, afirmam analistas.
"Não vai haver privatizações, mas haverá reformas importantes no Estado. E, de todas as forças políticas, a esquerda deve ser a que terá menor dificuldade para fazer isso", disse Gerardo Caetano, cientista político da Universidade da República.
O novo presidente Tabaré Vazquez tomará posse na terça-feira, no primeiro governo de esquerda em 175 anos no país.
O Estado paternalista do Uruguai tinha o objetivo de ser um "escudo para os pobres", como disse um líder do início do século 20, quando o país era uma nação agrícola próspera habitada por imigrantes europeus. O Uruguai resistiu à onda de privatizações que atingiu a América Latina nos anos 1990.
Mas o colapso da economia em 2002 convenceu a maioria de que o único modo de o Estado ajudar o 1 milhão de pobres do país, quase um terço da população, é criando as bases para um crescimento sólido. Para que isso ocorra, o endividado Uruguai terá de contar com a ajuda do setor privado.
"Não podemos acumular mais dívida. E nosso desempenho fiscal também tem limites. Não podemos fazer mágica. Então precisamos recorrer ao setor privado", disse Henry Willebald, economista da consultoria Oikos.
A coalizão da Frente Ampla — que agrupa socialistas, comunistas, social-democratas e ex-líderes guerrilheiros — chega ao poder com uma fama de pragmatismo e moderação. Vazquez foi o primeiro esquerdista a governar Montevidéu. Desde que assumiu, em 1990, a prefeitura contratou empresas privadas para administrar a coleta de lixo e os hotéis municipais.
Embora a maior prioridade de Vazquez seja combater problemas sociais como a desnutrição e o desemprego, muitos acreditam que o novo governo tome medidas semelhantes às tomadas em Montevidéu.
Tanto Vazquez quanto seu ministro da Economia, Danilo Astori, já disseram que estão abertos a parcerias das estatais com empresas privadas, apesar da oposição da coalizão.
O forte apoio popular ao novo governo pode ressuscitar o interesse em aprovar a lei que permita associações da petrolífera estatal Ancap com o setor privado, embora medida semelhante tenha sido rejeitada pelos eleitores em 2003. Um ano depois, os uruguaios votaram pela manutenção do controle estatal sobre o fornecimento de água.
Uma das razões do apoio às estatais é a qualidade do serviço, disse Agustin Canzani, um dos diretores do instituto de pesquisas Equipos MORI. No mercado de telefonia celular, que foi parcialmente privatizado, a Ancel, do governo, tem o quádruplo de clientes que a Movicom, privada.
Mas nem toda estatal é tão bem-sucedida. Canzani diz que a grande maioria dos uruguaios não mexeria nem um dedo para manter o uísque Mac Pay, notoriamente ruim. "Os uruguaios podem ser estatistas, mas não são burros", riu Canzani.
Fonte:
Reuters
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/356365/visualizar/
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