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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 28 de Fevereiro de 2005 às 06:49

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Joselina Maria Campos, 47 anos, moradora do bairro Cidade Alta, desempregada há um ano, é apenas uma das dezenas de pessoas que "reaproveitam" alimentos descartados pelos comerciantes da feira do bairro Verdão.

Ela disse que acorda bem cedo todos os dias, pega sua bicicleta e algumas sacolas e se desloca até a feira, antes mesmo que muitos comerciantes tenham aberto seus estabelecimentos no local.

O motivo dessa "peregrinação" é pegar os alimentos considerados pelos feirantes como impróprios para a venda e conseqüentemente para o consumo, antes que estes sejam jogados no lixão da feira e triturados logo em seqüência.

Joselina informou que é graças a esses alimentos descartados que ela consegue alimentar seus seis filhos. Dentre eles, apenas um trabalha, o dia inteiro, e ganha um salário mínimo, R$ 260, que, segundo ela, é o que "salva" e mantém a despesa da casa.

A dona de casa informou ser muito doente, o que a impede de pegar trabalhos que exijam esforço físico, tais como faxina em residências ou cuidar de uma criança. Diz que o salário de seu filho dá no máximo para comprar arroz, feijão e pagar a água e a luz. E que quando sobra algum dinheiro, o que dificilmente acontece, segundo Joselina, é guardado para eventuais problemas como a necessidade de se comprar remédio.

"Há muito tempo que eu e meus filhos não sabemos o que é carne. A única coisa que não falta lá em casa graças a Deus é verduras e frutas que apanho aqui no lixão da feira. Alguns estão até em bom estado, outros na maioria, para falar a verdade, estão com quase metade já em estado de podridão, daí corto o que está estragado aqui mesmo [na feira] e procuro aproveitar ao máximo o que sobra desse alimento", comentou Joselina.

Ela acrescentou que muitas pessoas têm vergonha de assumir que vem até a feira para buscar alimentos que são desprezados pelos feirantes.

Quando a equipe de reportagem chegou ao local, ao menos 10 pessoas recolhiam verduras e frutas. Quando se deram contam de nossa presença, apenas duas pessoas continuaram a recolher os alimentos, entre elas Joselina.

"Não tenho vergonha de assumir que mais da metade da alimentação de minha família saí daqui do lixão. Antes vir aqui buscar esses alimentos considerados por muitos como estragados do que roubar", ressaltou.

Sem ter vergonha

A outra pessoa que também continuou a recolher os alimentos foi Cláudio Moura, que também afirmou não sentir vergonha nenhuma de estar ali. "Confesso que é a necessidade que me obriga a catar esses alimentos. Se tivesse condições financeiras, gostaria de comprá-los e não de reaproveitar. Até porque sei que meus filhos sentem muita vontade de comer outros tipos de comida, como carne ou ovo", afirmou, demonstrando grande tristeza.

Cláudio tem três filhos, o mais velho deles possui apenas 12 anos. Hoje Cláudio possui um "trabalho terceirizado" e às vezes consegue faturar até R$ 150 por semana. Ele trabalha em pinturas de carros em uma oficina que só o chama quando necessário.




Fonte: Folha do Estado

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