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Cidades/Geral
Segunda - 28 de Fevereiro de 2005 às 06:36
Por: Weronika Garcia

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Maria Auxiliadora, 26 anos, quatro filhos, a mais velha delas com seis anos e a mais nova três meses, retrata bem as famílias que fazem parte dos 40% mais pobres mostradas pelas pesquisas do IBGE.

Ela mora no bairro Novo Paraíso, periferia de Cuiabá. Em sua rua não há saneamento básico e nem pavimentação asfáltica. A casa em que reside possui apenas dois cômodos.

Maria informou que só mora nessa casa porque sua tia pagou dois meses de aluguel adiantados para o proprietário. "Se não fosse isso, acho que estaria morando na rua. E procuro não pensar quando esses dois meses de aluguel vencerem."

Em sua "casa" existe apenas três panelas e um fogão não-utilizado, porque não há botijão de gás. Ela improvisou no pequeno "quintal" nos fundos da casa um fogão a lenha feito com dois tijolos e uma barra de ferro, e com um buraco no meio, onde ela cozinha os alimentos, uma cama de solteiro, dois colchões também de solteiros um ventilador emprestado e um "armário" feito por ela mesma com algumas tábuas que encontrou pelo bairro, onde guarda algumas mudas de roupa e o pouco alimento que possui.

Gambiarra

Ela informou que não paga água nem luz devido à gambiarra que seu vizinho fez a pedido dela. "Não tenho dinheiro nem para comer, imagina para pagar água e luz. Meu ex-marido agora é que conseguiu emprego e de vez em quando compra o que comer para os meninos. Ele ganha pouco. Meu leite secou, o médico disse que isso aconteceu porque não me alimento direito. Minha filhinha de três meses é obrigada a se alimentar com leite de vaca porque graças a Deus meus vizinhos não deixam faltar, não tenho nem fralda para pôr nela", comentou quase chorando.

Ela informou que não consegue vaga na única creche que existe no bairro para seus filhos, e que não tem com quem deixar as crianças para procurar emprego.

"Esses dias, quando já estava entrando em desespero porque não tinha mais nada para dar para meus filhos comerem, consegui fazer uma faxina e ganhei R$ 15. Para isso tive que deixar meus três filhos sob os cuidados de minha filha mais velha (seis anos). Esse dinheiro foi o que me salvou. Todos aqui no bairro são pobres e às vezes tiram comida de dentro de casa para doar para minha família, Não tenho como agradecer", lamentou.

Hérnia

Maria Auxiliadora disse que o que mais dói em seu coração é saber que sua filha mais velha possui uma hérnia no umbigo, que cresce cada dia mais.

"O médico disse que não pode operar minha filha porque ela sofre de anemia profunda justamente por não se alimentar como deveria. Tenho medo que a hérnia cresça muito e estoure. O pior é que ela já está ficando complexada, quase nunca fica sem camiseta. Sofro demais em ver isso, em ver meus filhos passarem necessidade e não poder fazer quase nada".




Fonte: Folha do Estado

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