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Economia
Quinta - 24 de Fevereiro de 2005 às 10:36
Por: ANTONIO PERES PACHECO

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Com a venda para o Exterior de 54,38 mil toneladas no ano passado, num total de US$ 100,74 milhões de dólares, a carne bovina passou a ser o terceiro produto da pauta de exportações de Mato Grosso, representando 3,96% do volume total negociado. A carne só perde para os complexos soja e madeira, outros dois produtos de ponta da produção mato-grossense.

Dono do maior rebanho do País, com mais de 26 milhões de cabeças, o Estado detém hoje a pecuária mais desenvolvida e competitiva entre os Estados brasileiros. E ser competitivo no setor significa, basicamente, ter um rebanho de apurada conformação e performance genética, alto grau de profissionalização na gestão administrativa do negócio e do manejo e, principalmente, excelência no controle da sanidade do rebanho. E nisso tudo, o pecuarista mato-grossense tem demonstrado estar na frente da concorrência.

A história de sucesso que a pecuária de Mato Grosso experimenta hoje, com a conquista de novos mercados internacionais a cada ano, é resultado de um projeto bem articulado e executado com muita determinação pelos pecuaristas e pelos Governos do Estado e da União.

O ponto de partida é a adoção, pelo Governo do Estado, de um programa de combate, controle e erradicação da febre aftosa. A doença tem alto poder de disseminação e é uma das que mais oferecem risco à saúde animal e humana, entre as enfermidades a que o rebanho brasileiro está exposto. Em parceria com os pecuaristas, os Governos Estadual e Federal vêm, há pelo menos duas décadas, travando uma verdadeira guerra dentro e fora das fazendas para erradicar de vez a aftosa.

Até agora, essa batalha está sendo vencida pela vigilância irredutível das autoridades sanitárias e pela determinação dos pecuaristas. Os resultados positivos são colhidos a cada ano sem registro da doença em território mato-grossense. O Estado é reconhecido pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), desde 2000, como área livre da febre aftosa com vacinação. Ou seja, há nove anos, não se registra um só caso de aftosa em Mato Grosso.

As campanhas de vacinação têm estruturas equivalentes às de um exército efetivamente em guerra. A cada nova investida para imunizar os rebanhos, são mobilizados pelo menos 1.500 servidores do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), principal agente do Estado de Mato Grosso na linha de frente dessas campanhas. Os investimentos, segundo o presidente do órgão, Décio Coutinho, ultrapassam a casa dos R$ 3 milhões por campanha. E são três campanhas por ano, realizadas em fevereiro, abril e novembro.

Além dos técnicos e fiscais do Indea, a logística das campanhas de vacinação contra a aftosa envolve ainda milhares de peões, veterinários, zootécnicos e até vendedores de laboratórios e lojas de produtos agropecuários. “Sem o esforço coordenado de todos, desde os técnicos do Indea e da Delegacia Federal do Ministério da Agricultura, até os peões das fazendas e lojistas que comercializam as vacinas, não teríamos atingido o grau de eficiência e cobertura de vacinação que alcançamos no ano passado, que chegou a 98% do rebanho”, explica Décio Coutinho.

Neste mês de fevereiro, apesar das dificuldades causadas pelas chuvas, está em pleno andamento a campanha para vacinar os cerca 6,5 millhões de bezerros com idade de zero a 24 meses, espalhados pelas fazendas do Estado. A atenção à bezerrada é uma prioridade, pois estão mais sujeitos a contrair a aftosa. Aliás, foram três bezerros doentes no longínquo Município de Monte Alegre, no Estado do Pará e a mais de 700 quilômetros da fronteira com Mato Grosso, que levou a Rússia a embargar, no ano passado, a compra de carne mato-grossense. Do episódio, ficaram a lição do prejuízo e o alerta aos pecuaristas de que nenhum cuidado é excessivo quando se trata de garantir o acesso aos mercados internacionais.

RETORNO - A qualidade sanitária do rebanho, somada à excelência da conformação de carcaça obtida pelos cruzamentos de raças superiores como zebu e angus, das quais derivam a Nelore e a Brangus, que hoje predominam no rebanho bovino mato-grossense, e aos sistemas de criação à pasto e em semi-confinamento, tem assegurado a crescente predileção dos países importadores pela carne de gado produzida nas fazendas de Mato Grosso.

Nenhum pecuarista reclama do apetite estrangeiro pela carne aqui produzida. Mas, a maioria considera-se prejudicada pelas regras atuais de comercialização impostas pelas outras pontas da cadeia produtiva. Os pecuaristas lembram que, para atingir o atual estágio de qualidade do rebanho, eles foram chamados a modernizar as técnicas de manejo, aprimorar a conformação genética do rebanho, investir pesado em tecnologia, insumos, em sistemas de controle e gestão como o rastreamento, além de chamados a cumprir regras draconianas de sanidade animal. Tudo isso, nas asas da esperança de que tais empreitadas venham a agregar valor ao rebanho e assegurar um mínimo de equilíbrio entre os custos de produção e os preços pagos pelos frigoríficos e exportadores. Algo que, para muitos, ainda é só um sonho. “Temos feito tudo o que o mercado consumidor e o Governo nos pedem para ofertar carne de alta qualidade. Reconhecemos, inclusive, que a vacinação contra a aftosa é um investimento fundamental, indispensável. Mas, isso não tem sido fácil, pois o retorno financeiro é pequeno diante do tamanho do esforço que temos empregado”, revela o pecuarista Egberto da Paz, 39, de São José dos Quatro Marcos (315 km a Oeste de Cuiabá).

“Não há espaço, no mercado, para o pecuarista que não investe em sanidade de seu rebanho, que não trabalhe de acordo com as regras do mercado. Se tentar burlar as regras, acaba punido e punindo quem cumpre. Para nós, pecuaristas, só tem um caminho: continuar melhorando cada vez a qualidade do nosso rebanho e lutando para conquistar preços melhores junto aos frigoríficos”, emenda José Joaquim Pereira Teles, 51, também criado de gado em Quatro Marcos.

Em Mirassol D’Oeste (300 km a Oeste da Capital), de maneira geral, os pecuaristas já têm consciência sobre a importância do controle das doenças que ameaçam o rebanho, como a aftosa, a brucelose, entre outras. A adesão às campanhas tem sido praticamente unânime, segundo o coordenador do escritório do Indea na região, José René Vieira de Souza, 52, que também é pecuarista. “Aqui na região, conseguimos fechar a série de vacinações do ano passado com índice superior aos 98%. Com isso, os pecuaristas estão não apenas assegurando a manutenção da carne de Mato Grosso nos mercados internacionais já conquistados, mas investindo também para a expansão desta presença na União Européia, Leste Europeu, Ásia e até nos Estados Unidos”, argumenta.

“Sem o controle rígido da aftosa e de outras doenças, a pecuária de Mato Grosso não seria o que é hoje”, admite o criador Antonio Brassolatti Neto, 52, um dos principais pecuaristas de Mirassol D´Oeste. “Diante das exigências do mercado, ao pecuarista não resta outra alternativa senão cumprir as regras do jogo, aprender a perder o menos possível e se unir para enfrentar o monopólio dos exportadores, que hoje se resume a quatro ou cinco grandes grupos frigoríficos que atuam em nosso Estado”, revela o pecuarista José Emílio Zocal, 50.

VISÃO GLOBAL - Na propriedade de Luiz Roberto Zillo, 43, em Cáceres (225 km a Oeste de Cuiabá), quem olha apenas a aparência das instalações, típicas de uma fazenda do Pantanal, não desconfia que ali funciona uma das mais eficientes empresas rurais do País. Tudo é feito com base em um minucioso planejamento e sob rígido controle do jovem pecuarista.

Nos cerca de 800 hectares de pastos, divididos em lotes de uniformização e acabamento, aproximadamente 1,5 mil cabeças de gado são mantidas em regime de semiconfinamento. Além do pasto de excelente qualidade, o gado de Beto Zillo recebe suplementação alimentar balanceada, que é preparada na própria fazenda. Bem cuidado, com todas as precauções sanitárias necessárias, o pecuarista vem conseguindo a terminação de lotes com 26 meses com peso médio de 16 arrobas.

A receita de Zillo não é segredo. “Procuro aliar tecnologia e gestão de ponta. Com isso, tenho conseguido manter em equilíbrio os custos e a taxa de retorno. Resumindo: é preciso ter uma visão global do negócio, avaliar constantemente as condições de mercado e ter uma boa administração da propriedade. Caso contrário, as oscilações bruscas nos preços pagos aos pecuaristas podem acabar tornando inviável a atividade para muitos produtores”, ensina.

Para Zillo, os investimentos feitos na sanidade do rebanho, como as vacinações obrigatórias, na melhoria genética e no aprimoramento dos sistemas de manejo e administração da propriedade, são imprescindíveis para quem deseja continuar no ramo da pecuária.

Na avaliação do pecuarista, a atividade exige cada vez mais uma profissionalização e especialização do pecuarista. No quadro de concorrência mundial como o atual, já não é mais viável, economicamente, cobrir todas as etapas da atividade, desde a reprodução até a engorda. “Os custos têm que ser diluídos ao longo do processo. E, no final, ainda é preciso mudar a forma de relação com os compradores, com os frigoríficos principalmente, que hoje são poucos e, unidos como são, acabam por impor aos pecuaristas exigências cada dia maiores, enquanto pagam preços muitas vezes abaixo do custo de produção”, pondera.

AMPLIANDO MERCADOS – Com base no sucesso obtido até agora, com o crescimento constante das vendas feitas no mercado internacional, os frigoríficos exportadores com plantas industriais em Mato Grosso e o próprio Governo do Estado estão otimistas com a possibilidade de ampliar o volume de exportações para os países da União Européia.

Para isso, estão mobilizados em conjunto com Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) para obter, junto à UE, a suspensão das barreiras sanitárias que impedem a exportação de carne de gado in natura das regiões do Pantanal e do Norte do Estado. Estas duas regiões são consideradas como áreas-tampão para o controle da febre aftosa, mesmo não havendo registros de casos da doença nestas regiões há quase 10 anos.

Segundo Moisés Campos, executivo de uma das maiores redes de frigoríficos que atuam no Estado, o objetivo de toda a cadeia da pecuária, agora, é convencer os enviados da União Européia que visitarão o Brasil no mês de abril a incluir Mato Grosso no roteiro da visita. “Conquistar a liberação total para a carne produzida no Estado é fundamental para a expansão da atividade. Mesmo porque não tem sentido essa limitação, pois Mato Grosso tem uma das mais elevadas taxas de imunização de rebanho do Brasil e há mais de nove anos que não se tem registrado casos de aftosa no Estado”, argumenta.

Com quatro unidades frigoríficas situadas dentro da área de restrição para exportar para União Européia, o grupo representado por Santos tem razões de sobra para torcer pelo fim das barreiras ao gado do Pantanal e do Nortão, onde se concentra o grosso do rebanho bovino mato-grossense.

“Nossas unidades trabalham abaixo de sua capacidade, que é de cinco mil abates por dia. A liberação das áreas, hoje restritas, abre perspectivas positivas para toda a cadeia produtiva da pecuária. Poderemos ampliar as vendas para a Europa, ampliar nossa presença nos mercados já conquistados e ir em busca de novos negócios. Com isso, todo mundo ganha. O Estado e a União com a entrada de mais divisas no País, o nosso grupo empresarial, os pecuaristas poderão receber até 5% a mais pela arroba. Enfim, todos os envolvidos na atividade só têm a ganhar”, avalia o executivo.





Fonte: Secom - MT

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