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Quarta - 23 de Fevereiro de 2005 às 07:56
Por: Flávia Swerts

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O ator português Ricardo Pereira é de poucas palavras. E o "jeitão" introvertido, fruto de uma considerável timidez, se expressa através de um olhar quase sempre disperso. Leia o resumo da novela

Mas apesar de reservado e contido, o intérprete de Daniel Cascaes, em Como uma Onda, tem uma personalidade forte. E também pelo olhar, Ricardo deixa entrever que está "todo prosa" em ser o primeiro português a protagonizar uma novela na Globo.

O entusiasmo do ator com o papel é indisfarçável. Nem mesmo a mudança de país, - há seis meses ele trocou Lisboa pelo Rio -, a saudade da família e dos amigos, a consciência da abrangência da Globo e o receio de atuar para milhões de pessoas aplacam a empolgação do ator com a novela.

"Na hora da cena, o nervosismo se transforma em força para a minha interpretação", opina, o ator de 25 anos.

As dificuldades de Ricardo não parecem ir além de uma natural adaptação ao novo local de trabalho e ao público. Com relação à composição e à interpretação do personagem, ele não tem nenhum problema. Isso porque, segundo o ator, Daniel tem muitos pontos em comum com ele, o que facilita o trabalho. Entre eles estão a idade, o gosto pela vida e o fato de sair da terra natal para viver em um outro país sem conhecer quase ninguém e ter de se "virar" para organizar a vida.

O ator só precisa "carregar na tinta" para conseguir expressar o tom excessivamente "herói romântico" de Daniel, que não se parece em nada com seu jeito de ser.

Atualmente, Daniel mantém um romance proibido com Nina, de Alinne Morais, pois sua amada se viu obrigada a casar com J. J., vivido por Henri Castelli. Além disso, ele também faz de tudo para conseguir provar as falcatruas e vilanias do oponente. "Infelizmente, já não existem pessoas com os princípios românticos do Daniel", lamenta.

Mesmo vendo semelhanças com Daniel, o ator não abriu mão de um trabalho de preparação. Ricardo tem aulas com a "coach" Camila Amado, nas quais ele não só estuda interpretação e prepara algumas cenas, como também conversa com ela sobre Filosofia e aspectos teóricos da atuação.

O ator também garante que estuda seus textos diariamente em casa durante duas horas e sempre que possível gosta de passar as cenas com os colegas de elenco antes das gravações. Mas para Ricardo não há nada melhor para um ator do que prestar atenção ao comportamento humano. "Sou viciado em pessoas. Adoro observá-las", revela.

Outro dia, ele admite que ficou cerca de três horas em um hotel observando os gestos e a forma de trabalhar de alguns funcionários para dar mais veracidade ao Daniel como mordomo, função que ele passou a exercer após chegar ao Brasil.

O fato de a audiência de Como uma Onda estar aquém do esperado pela emissora não incomoda Ricardo - o máximo que a novela atinge são 30 pontos, mas já bateu em "pífios" 23 de média. A rigor, fica difícil para qualquer um que é alvo de assédio de fãs nas ruas se dar conta de que está numa novela malsucedida.

O ator, na verdade, está rindo de "orelha a orelha" com a repercussão de seu personagem, principalmente junto ao público feminino. Ele já é um dos campeões de cartas na Globo e a todo momento é abordado nas ruas. "A primeira coisa que as pessoas me falam é: 'E aí, portuga!'. Acho muito engraçado. Não tem como não ficar contente com esse feed-back", comemora.

Ricardo garante que está se adaptando muito bem ao Brasil. Mas, por enquanto, mantém o típico perfil de turista. Ele adora ir à praia, restaurantes e pontos turísticos. O ator também se encantou com a diversidade musical do Brasil. Ele já foi, por exemplo, a shows de forró, de funk, do Gilberto Gil e Sandy & Júnior.

Ricardo aproveitou também o período pré-carnavalesco para conhecer as quadras de diversas escolas de samba. "Quero conhecer tudo", exagera. O ator, que já fez três longas-metragens em Portugal, ainda não sabe se vai continuar no país depois da novela, mas revela que tem muita vontade de fazer cinema por aqui. "Vou estar onde tiver trabalho. Sou como uma onda", compara, em tom de brincadeira.

Desembarque casual

Ricardo Pereira nunca tinha pensado em atuar no Brasil. Mas quando esteve no Fashion Rio no início do ano passado para trabalhar como modelo, atividade que exerce há 10 anos, aproveitou para visitar o Projac. Lá, gravou um teste, que, na época, não rendeu nenhum papel.

Alguns meses depois, soube que a Globo procurava um ator português para a novela das seis em Lisboa. Ricardo foi lá. Concorreu com mais 20 atores, muitos dos quais já conhecia de outros trabalhos. E até estranhou por ter sido imediatamente escolhido para interpretar Daniel após um único teste. "Teste sempre envolve muito nervosismo. Achei que tinha ido mais ou menos", relembra.

Logo em seguida, Ricardo se mudou para o Rio. Morar em outras cidades não é exatamente uma novidade para ele. Por causa da carreira de modelo, ele já viveu em Milão, Paris, Barcelona e Madri e adorou essas experiências. Ricardo pretende continuar conciliando os trabalhos de ator e de modelo. "Adoro desfilar, andar para frente, para trás e tirar fotos", diverte-se.

Já a vocação para interpretar, Ricardo descobriu, por acaso, aos 17 anos, quando entrou para o grupo de teatro do colégio. Esse primeiro contato foi suficiente para Ricardo se apaixonar pela profissão e não parar mais de estudar interpretação. Ao ser perguntado sobre o que mais encanta em ser ator, Ricardo tem a resposta na ponta da língua. "É a possibilidade de fazer coisas diferentes todos os dias. Eu não conseguiria ficar trancado em um escritório ou consultório", frisa.

Apesar disso, Ricardo está prestes a terminar o curso de Psicologia, mas ele garante que não pretende exercer a profissão. Fez a faculdade pelo simples fato de gostar de estudar e querer compreender mais o comportamento humano.

Instantâneas

# Ricardo estreou na tevê portuguesa, em 2001, no seriado Bairro da Fonte, da emissora SIC. Depois, fez mais seis novelas em Portugal.

# O ator acha extremamente válido o intercâmbio de atores entre Brasil e Portugal, mas só gostaria que a cultura de seu país fosse mais difundida por aqui. "Muito pouco da cultura portuguesa chega ao Brasil", lamenta.

# Ricardo está muito satisfeito em trabalhar na Globo e conhecer de perto a estrutura e o "know-how" da emissora. Mas acredita que os recursos técnicos não são fundamentais para a atuação. "O ator tem de se adequar ao que tem e transmitir uma verdade", opina.

# O ator revela que tem de se controlar para não abusar do sotaque português durante as gravações. "Estou tentando falar um pouco mais abrasileirado", conta.

O ator português Ricardo Pereira vive o "bom moço" Daniel Cascaes em Como uma Onda




Fonte: TV Press

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