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`A política econômica do governo só favorece aos bancos´
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) afirmou ontem que a política econômica do governo federal só favorece aos bancos, enquanto nada ou muito pouco é feito pelo social. "(O governo Lula) está com uma política econômica que só favorece os bancos.
Os bancos cada vez crescem mais e o povo cada vez sofre mais, porque não há uma política social correta", afirmou ACM. O líder político baiano disse ainda que a Bahia, assim como todo o Nordeste, sofre com a falta de investimentos do governo federal, principalmente nas áreas sociais, como educação e saúde, onde o governo do estado arca com os investimentos. As afirmações do senador foram feitas em entrevista ao programa Balanço geral, do apresentador Raimundo Varella, ontem, na TV Record. ACM criticou o projeto de transposição do Rio São Francisco, afirmando que se trata de uma "obra de fachada", apenas para beneficiar os empreiteiros.
Ele defendeu uma reforma ministerial, enfatizando que o presidente Lula deve convocar os mais competentes, independente de partidos, para ajudá-lo na tarefa de governar o Brasil. Sobre as eleições na Câmara e no Senado, o senador reafirmou que o ônus da eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP/PE) para a presidência da Câmara dos Deputados é do PT e do governo do presidente Lula, que não se empenhou na eleição do seu candidato, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP), e para acabar, desde o início, com a candidatura avulsa do petista Virgílio Guimarães (PT/SP). "No dia da eleição, Lula estava na Venezuela com (o presidente) Hugo Chaves, em vez de estar aqui vendo o resultado da eleição e como ela se desenrolava". No cenário local, ACM destacou as suas relações com o governador Paulo Souto e desejou boa sorte ao prefeito João Henrique Carneiro (PDT).
PERGUNTA - A eleição na Câmara Federal. Como foi que o senhor se posicionou, com se posicionou a bancada da Bahia? Enfim, como o senhor vê a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados?
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - A maioria da bancada baiana votou em (Luiz Eduardo) Greenhalgh. O Severino pode até ser um homem bom. Entretanto, não seria jamais um homem para ser presidente de um Poder no Brasil. Faltam-lhe condições essenciais para isso. Evidentemente, o Legislativo tem o direito de eleger aquele que achar conveniente. Mas aquilo foi produto de erros graves do PT e de (o presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva). No dia da eleição, Lula estava na Venezuela com (o presidente) Hugo Chávez, em vez de estar aqui vendo o resultado da eleição e como ela se desenrolava. Também o PT deixou a candidatura do (deputado) Virgílio (Guimarães), quando o PT e Lula deveriam proibir essa candidatura porque só assim a candidatura do Greenhalgh não teria nem competidor. A não ser o (José Carlos) Aleluia, que se julgou competidor, mas demonstrou realmente que não deveria ter entrado na disputa.
Acho que hoje ele jamais entraria numa eleição como esta, porque ter 53 votos - alguns do PSDB e de outros partidos. Logo, ele não teve sequer 35 votos do PFL, de modo que isso não ficou bom nem para ele, nem para o PFL. Mas o Aleluia tem o seu jeito de ser, tem as suas qualidades, inegavelmente, é capaz e julgou que poderia enfrentar quando na realidade não deveria ter sido candidato. Ficou mal para ele, para o partido e, sobretudo, para o Brasil, com a eleição de Severino. Mas, mesmo assim, ele (Aleluia) foi o quarto colocado.
P - Numa destas pequenas rádios que existem por aqui, ele (Aleluia) deu uma entrevista falando mal do senador Antonio Carlos e achei aquilo um absurdo. Se pudesse reformar o Código Processual colocaria o crime de ingratidão. O senhor tomou conhecimento disso?
ACM - Dizer que não tomei conhecimento seria inverídico. Agora, não sei do que ele falou e por que ele falou. Se ele quiser falar, poderíamos fazer um debate aqui comigo, para um falar do outro. Aí seria muito interessante o que eu poderia falar sobre ele. Agora, você disse uma coisa verdadeira. O padre Manoel de Bernardes, se não me engano, dizia que o ingrato, além de desumano, é um desnaturado, porque a natureza é pródiga em dar exemplos de gratidão. Eu tenho tido tantos ingratos na vida e acredito que isso não vá crescer muito mais ainda. Mas pode ser que cresça. Acho que eles é que sofrem, à noite, o remorso da ingratidão, pensando no que estão fazendo contra o seu criador.
P - Outro que deitou falação foi Marcos Medrado...
ACM - Marcos Medrado? Quem é, heim?
P - É um vereador...
ACM - Ah! Um vereador... Confesso que tinha me esquecido deste rapaz...Fui elogiado. Quando ele fala mal é um elogio. Estou contente. Manda ele falar mal de mim. Agora que me lembrei quem é Marcos Medrado!
P - Agora, o que eles dizem, ou tentam dizer ao povo: primeiro, que o senhor não comanda mais o PFL. Que o senhor não é mais um líder nato e que as pessoas conseguem se desvencilhar de sua autoridade. Inventam histórias. Por exemplo, eu queria saber do senhor mesmo: a relação do ACM com o governador Paulo Souto? São tantas fofocas que a gente ouve por aí.... Como estão as relações de vocês dois?
ACM - Olha, de minha parte e dele, muito boa. Da parte dos intrigantes, muito mal. Os intrigantes têm feito tudo para um rompimento, um afastamento de Paulo Souto comigo. Paulo Souto, tenho certeza, tem caráter e sabe o quanto fui importante na vida dele desde o início e jamais seria um homem ingrato comigo. Agora, Paulo Souto é governador, é dono da sua vontade; de coisas que quer, coisas que eu aprovo e bato palmas, como o hospital de Ribeira do Pombal, que é um excelente hospital. Mas acho que ele tem alguns auxiliares que não deveriam estar lá. Mas ele acha que deve e quem manda é ele, e tenho que me conformar com isso. Agora, é ruim para o próprio Paulo Souto. Paulo Souto é um homem competente, sério, digno e tenho boas relações com ele. Viajei sexta e sábado com ele e trocamos as amabilidades costumeiras.
P - A eleição no Senado, com Renan Calheiros?
ACM -No Senado é tudo diferente. Foi uma eleição consensual. O meu candidato era (o ex-presidente da Casa, senador José) Sarney e, fora de Sarney, era Renan Calheiros. Logo que o Lula não ajudou na reeleição do Sarney nem do (ex-presidente da Câmara dos Deputados) João Paulo (Cunha) -, fingiu que queria e não fez nada em favor, embora tenha me dito que ia reeleger ambos -, eu disse a Sarney que ficaria com o Renan e, tanto quanto possível, ajudei ao Sarney a quebrar qualquer aresta com o Renan, que vai ser um bom presidente do Senado. Ele é forte no seu estado, assim como eu sou forte na Bahia, queiram ou não queiram. Eu queria dizer o seguinte: a minha liderança ninguém tira. Aumentei a voz para que todos ouçam: ninguém tira. E assim eles acabam querendo me fazer governador e eu não quero ser. Quero ser senador. Talvez o meu governador seja Paulo Souto. Mas, se quiserem que eu seja, eu acabo sendo candidato a governador.
P - O senhor assume mesmo a Comissão de (Constituição) Justiça (e Cidadania) no Senado?
ACM - Na época dos "severinos", nada é tão fácil. Agora, todos os partidos me indicaram para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, cuja eleição será amanhã (hoje). Mas eu só falarei sobre a comissão depois de eleito. Vou fazer um bom trabalho na comissão, a mais importante do Senado.
P - A questão da relação do governo Lula com a Bahia. Outro dia vi o governador Paulo Souto se queixando...
ACM - E com toda razão...
P - Com toda razão. Por que está acontecendo isso? Lula foi bem votado (na Bahia), o senhor pediu para votar em Lula, todos nós votamos em Lula...
ACM - Lula foi bem votado, mas não está sendo correto com a Bahia. Não está sendo correto com o Nordeste, ele que é originário do Nordeste, está com uma política econômica que só favorece os bancos. Os bancos cada vez crescem mais e o povo cada vez sofre mais, porque não há uma política social correta. Aqui, o governador Paulo Souto procura suprir, inclusive, o combate à pobreza e à fome com essa rede hospitalar, sem nenhum auxílio do Ministério da Saúde, que boicota o governo Paulo Souto. Mesmo assim, o governador Paulo Souto faz um bom trabalho. Daí você vê que (um bom trabalho) depende da pessoa. Ele faz um bom trabalho sem nenhum auxílio. Tiram o dinheiro da Bahia, como o do Fundef, por exemplo, e não mandam de volta, numa atitude absurda. Isso, ao meu ver, não pode continuar. Nós temos que reagir. Nós baianos todos, inclusive os do PT, para que a Bahia seja contemplada como deve pelo governo federal. E o Nordeste também.
P - Eu não entendo que um país que tem um déficit social tão grande e a gente ainda fale de projetos como a transposição do rio São Francisco. Qual a opinião do senhor sobre o assunto?
ACM - Trata-se de uma grande farsa. A obra é inexeqüível, não terá financiamento de nenhum órgão estrangeiro, porque não dará resultado, vai prejudicar a irrigação dos estados onde o São Francisco passa e não vai resolver o problema de milhões de brasileiros dos outros estados nordestinos. É uma obra de fachada. Como Lula não fez nada até agora e (o ministro da Integração Nacional) Ciro Gomes, neste caso, não tem sido um ótimo ministro, ao contrário, já deveria estar muito mais ligado ao Nordeste do que está, já que ele foi candidato do Nordeste, foi governador do Ceará. Então, ele fica querendo fazer esta obra, como o (ex-ministro) Aloysio Alves quis. Essa obra é boa para empreiteiro, mas é muito ruim para o povo.
P - As revistas nacionais têm feito matérias sobre `ministros que já deveriam ter voltado para casa´. Qual a sua opinião sobre isso?
ACM - Eu não vou citar nomes, mas pelo menos dez a 15 ministros de Lula já deveriam estar em casa ou cuidando dos netos; se não tiverem netos, cuidando dos filhos; e se não tiverem nem filhos ou dos netos, cuidando de alguma coisa que não fosse o Brasil.
P - Tem que retornar uns 15...
ACM - Uns 15. Agora, o que Lula deveria fazer nesta hora era escolher os melhores, pertençam a que partido pertencer ou pertençam a nenhum partido. Não é ficar negociando maioria seja no Senado ou seja na Câmara por ministérios ou por verbas do Orçamento. Esse Orçamento, meu caro Varella, você, que clama tanto, precisa conhecer como é que se faz Orçamento no Brasil. É uma vergonha. Não se pode, realmente, viver com um Orçamento que é malfeito desde o início, quando é mandado para a Câmara. A Câmara piora - existem deputados e senadores que ficam até 6 horas da manhã. De meia-noite às 6 horas, tudo acontece, enquanto os outros santinhos vão para casa dormir. E o Orçamento da República é uma ficção. Vamos para o Orçamento impositivo. O Orçamento impositivo é aquele que, votado, ninguém pode deixar de cumprir. Tem que pagar as verbas. A receita quem diz é a União. Agora, continuam teimando em não fazer o orçamento impositivo. Mas hoje já há uma consciência, tanto na Câmara quanto no Senado, de fazer o Orçamento impositivo. E, neste ponto, eu bato palmas para o Severino (Cavalcanti), porque ele é a favor.
P - Senador Antonio Carlos, me lembro de França Teixeira que chamava o senhor de "o Pelé branco das construções", o "prefeito do século". Não posso fugir a esta pergunta: Salvador e a sua gestão atual?
ACM - Olha, não posso fazer juízo ainda da gestão do prefeito João Henrique (PDT). O tempo é curto. Acho, entretanto, que a maneira de formar o secretariado foi extremamente confusa e ele vai ter que ter muito pulso para controlar a sua equipe. Ainda há pouco vi aqui mesmo alguns problemas nos bairros, que ele não é culpado porque são problemas que existem há muito tempo. Mas, se ele não resolver, ele passa a ser culpado também. Nesse caso que você citou (uma matéria anterior sobre os problemas relacionados às chuvas no Bairro da Paz) -, e você faz este grande favor a todos os prefeitos e aos governos da Bahia em dizer todas essas verdades -, nesse caso que você citou, ele é obrigado a resolver, porque você chamou atenção para os problemas de uma população carente que está vivendo daquela forma. Agora, se disser que ele é um mau prefeito, estou fazendo um juízo apressado; e se disser que ele é um bom prefeito, também estou fazendo um juízo também apressado e não gostaria disso. Eu gostaria de fazer um juízo dele daqui há seis meses. Que Deus o ajude a fazer uma boa administração.
Os bancos cada vez crescem mais e o povo cada vez sofre mais, porque não há uma política social correta", afirmou ACM. O líder político baiano disse ainda que a Bahia, assim como todo o Nordeste, sofre com a falta de investimentos do governo federal, principalmente nas áreas sociais, como educação e saúde, onde o governo do estado arca com os investimentos. As afirmações do senador foram feitas em entrevista ao programa Balanço geral, do apresentador Raimundo Varella, ontem, na TV Record. ACM criticou o projeto de transposição do Rio São Francisco, afirmando que se trata de uma "obra de fachada", apenas para beneficiar os empreiteiros.
Ele defendeu uma reforma ministerial, enfatizando que o presidente Lula deve convocar os mais competentes, independente de partidos, para ajudá-lo na tarefa de governar o Brasil. Sobre as eleições na Câmara e no Senado, o senador reafirmou que o ônus da eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP/PE) para a presidência da Câmara dos Deputados é do PT e do governo do presidente Lula, que não se empenhou na eleição do seu candidato, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP), e para acabar, desde o início, com a candidatura avulsa do petista Virgílio Guimarães (PT/SP). "No dia da eleição, Lula estava na Venezuela com (o presidente) Hugo Chaves, em vez de estar aqui vendo o resultado da eleição e como ela se desenrolava". No cenário local, ACM destacou as suas relações com o governador Paulo Souto e desejou boa sorte ao prefeito João Henrique Carneiro (PDT).
PERGUNTA - A eleição na Câmara Federal. Como foi que o senhor se posicionou, com se posicionou a bancada da Bahia? Enfim, como o senhor vê a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados?
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - A maioria da bancada baiana votou em (Luiz Eduardo) Greenhalgh. O Severino pode até ser um homem bom. Entretanto, não seria jamais um homem para ser presidente de um Poder no Brasil. Faltam-lhe condições essenciais para isso. Evidentemente, o Legislativo tem o direito de eleger aquele que achar conveniente. Mas aquilo foi produto de erros graves do PT e de (o presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva). No dia da eleição, Lula estava na Venezuela com (o presidente) Hugo Chávez, em vez de estar aqui vendo o resultado da eleição e como ela se desenrolava. Também o PT deixou a candidatura do (deputado) Virgílio (Guimarães), quando o PT e Lula deveriam proibir essa candidatura porque só assim a candidatura do Greenhalgh não teria nem competidor. A não ser o (José Carlos) Aleluia, que se julgou competidor, mas demonstrou realmente que não deveria ter entrado na disputa.
Acho que hoje ele jamais entraria numa eleição como esta, porque ter 53 votos - alguns do PSDB e de outros partidos. Logo, ele não teve sequer 35 votos do PFL, de modo que isso não ficou bom nem para ele, nem para o PFL. Mas o Aleluia tem o seu jeito de ser, tem as suas qualidades, inegavelmente, é capaz e julgou que poderia enfrentar quando na realidade não deveria ter sido candidato. Ficou mal para ele, para o partido e, sobretudo, para o Brasil, com a eleição de Severino. Mas, mesmo assim, ele (Aleluia) foi o quarto colocado.
P - Numa destas pequenas rádios que existem por aqui, ele (Aleluia) deu uma entrevista falando mal do senador Antonio Carlos e achei aquilo um absurdo. Se pudesse reformar o Código Processual colocaria o crime de ingratidão. O senhor tomou conhecimento disso?
ACM - Dizer que não tomei conhecimento seria inverídico. Agora, não sei do que ele falou e por que ele falou. Se ele quiser falar, poderíamos fazer um debate aqui comigo, para um falar do outro. Aí seria muito interessante o que eu poderia falar sobre ele. Agora, você disse uma coisa verdadeira. O padre Manoel de Bernardes, se não me engano, dizia que o ingrato, além de desumano, é um desnaturado, porque a natureza é pródiga em dar exemplos de gratidão. Eu tenho tido tantos ingratos na vida e acredito que isso não vá crescer muito mais ainda. Mas pode ser que cresça. Acho que eles é que sofrem, à noite, o remorso da ingratidão, pensando no que estão fazendo contra o seu criador.
P - Outro que deitou falação foi Marcos Medrado...
ACM - Marcos Medrado? Quem é, heim?
P - É um vereador...
ACM - Ah! Um vereador... Confesso que tinha me esquecido deste rapaz...Fui elogiado. Quando ele fala mal é um elogio. Estou contente. Manda ele falar mal de mim. Agora que me lembrei quem é Marcos Medrado!
P - Agora, o que eles dizem, ou tentam dizer ao povo: primeiro, que o senhor não comanda mais o PFL. Que o senhor não é mais um líder nato e que as pessoas conseguem se desvencilhar de sua autoridade. Inventam histórias. Por exemplo, eu queria saber do senhor mesmo: a relação do ACM com o governador Paulo Souto? São tantas fofocas que a gente ouve por aí.... Como estão as relações de vocês dois?
ACM - Olha, de minha parte e dele, muito boa. Da parte dos intrigantes, muito mal. Os intrigantes têm feito tudo para um rompimento, um afastamento de Paulo Souto comigo. Paulo Souto, tenho certeza, tem caráter e sabe o quanto fui importante na vida dele desde o início e jamais seria um homem ingrato comigo. Agora, Paulo Souto é governador, é dono da sua vontade; de coisas que quer, coisas que eu aprovo e bato palmas, como o hospital de Ribeira do Pombal, que é um excelente hospital. Mas acho que ele tem alguns auxiliares que não deveriam estar lá. Mas ele acha que deve e quem manda é ele, e tenho que me conformar com isso. Agora, é ruim para o próprio Paulo Souto. Paulo Souto é um homem competente, sério, digno e tenho boas relações com ele. Viajei sexta e sábado com ele e trocamos as amabilidades costumeiras.
P - A eleição no Senado, com Renan Calheiros?
ACM -No Senado é tudo diferente. Foi uma eleição consensual. O meu candidato era (o ex-presidente da Casa, senador José) Sarney e, fora de Sarney, era Renan Calheiros. Logo que o Lula não ajudou na reeleição do Sarney nem do (ex-presidente da Câmara dos Deputados) João Paulo (Cunha) -, fingiu que queria e não fez nada em favor, embora tenha me dito que ia reeleger ambos -, eu disse a Sarney que ficaria com o Renan e, tanto quanto possível, ajudei ao Sarney a quebrar qualquer aresta com o Renan, que vai ser um bom presidente do Senado. Ele é forte no seu estado, assim como eu sou forte na Bahia, queiram ou não queiram. Eu queria dizer o seguinte: a minha liderança ninguém tira. Aumentei a voz para que todos ouçam: ninguém tira. E assim eles acabam querendo me fazer governador e eu não quero ser. Quero ser senador. Talvez o meu governador seja Paulo Souto. Mas, se quiserem que eu seja, eu acabo sendo candidato a governador.
P - O senhor assume mesmo a Comissão de (Constituição) Justiça (e Cidadania) no Senado?
ACM - Na época dos "severinos", nada é tão fácil. Agora, todos os partidos me indicaram para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, cuja eleição será amanhã (hoje). Mas eu só falarei sobre a comissão depois de eleito. Vou fazer um bom trabalho na comissão, a mais importante do Senado.
P - A questão da relação do governo Lula com a Bahia. Outro dia vi o governador Paulo Souto se queixando...
ACM - E com toda razão...
P - Com toda razão. Por que está acontecendo isso? Lula foi bem votado (na Bahia), o senhor pediu para votar em Lula, todos nós votamos em Lula...
ACM - Lula foi bem votado, mas não está sendo correto com a Bahia. Não está sendo correto com o Nordeste, ele que é originário do Nordeste, está com uma política econômica que só favorece os bancos. Os bancos cada vez crescem mais e o povo cada vez sofre mais, porque não há uma política social correta. Aqui, o governador Paulo Souto procura suprir, inclusive, o combate à pobreza e à fome com essa rede hospitalar, sem nenhum auxílio do Ministério da Saúde, que boicota o governo Paulo Souto. Mesmo assim, o governador Paulo Souto faz um bom trabalho. Daí você vê que (um bom trabalho) depende da pessoa. Ele faz um bom trabalho sem nenhum auxílio. Tiram o dinheiro da Bahia, como o do Fundef, por exemplo, e não mandam de volta, numa atitude absurda. Isso, ao meu ver, não pode continuar. Nós temos que reagir. Nós baianos todos, inclusive os do PT, para que a Bahia seja contemplada como deve pelo governo federal. E o Nordeste também.
P - Eu não entendo que um país que tem um déficit social tão grande e a gente ainda fale de projetos como a transposição do rio São Francisco. Qual a opinião do senhor sobre o assunto?
ACM - Trata-se de uma grande farsa. A obra é inexeqüível, não terá financiamento de nenhum órgão estrangeiro, porque não dará resultado, vai prejudicar a irrigação dos estados onde o São Francisco passa e não vai resolver o problema de milhões de brasileiros dos outros estados nordestinos. É uma obra de fachada. Como Lula não fez nada até agora e (o ministro da Integração Nacional) Ciro Gomes, neste caso, não tem sido um ótimo ministro, ao contrário, já deveria estar muito mais ligado ao Nordeste do que está, já que ele foi candidato do Nordeste, foi governador do Ceará. Então, ele fica querendo fazer esta obra, como o (ex-ministro) Aloysio Alves quis. Essa obra é boa para empreiteiro, mas é muito ruim para o povo.
P - As revistas nacionais têm feito matérias sobre `ministros que já deveriam ter voltado para casa´. Qual a sua opinião sobre isso?
ACM - Eu não vou citar nomes, mas pelo menos dez a 15 ministros de Lula já deveriam estar em casa ou cuidando dos netos; se não tiverem netos, cuidando dos filhos; e se não tiverem nem filhos ou dos netos, cuidando de alguma coisa que não fosse o Brasil.
P - Tem que retornar uns 15...
ACM - Uns 15. Agora, o que Lula deveria fazer nesta hora era escolher os melhores, pertençam a que partido pertencer ou pertençam a nenhum partido. Não é ficar negociando maioria seja no Senado ou seja na Câmara por ministérios ou por verbas do Orçamento. Esse Orçamento, meu caro Varella, você, que clama tanto, precisa conhecer como é que se faz Orçamento no Brasil. É uma vergonha. Não se pode, realmente, viver com um Orçamento que é malfeito desde o início, quando é mandado para a Câmara. A Câmara piora - existem deputados e senadores que ficam até 6 horas da manhã. De meia-noite às 6 horas, tudo acontece, enquanto os outros santinhos vão para casa dormir. E o Orçamento da República é uma ficção. Vamos para o Orçamento impositivo. O Orçamento impositivo é aquele que, votado, ninguém pode deixar de cumprir. Tem que pagar as verbas. A receita quem diz é a União. Agora, continuam teimando em não fazer o orçamento impositivo. Mas hoje já há uma consciência, tanto na Câmara quanto no Senado, de fazer o Orçamento impositivo. E, neste ponto, eu bato palmas para o Severino (Cavalcanti), porque ele é a favor.
P - Senador Antonio Carlos, me lembro de França Teixeira que chamava o senhor de "o Pelé branco das construções", o "prefeito do século". Não posso fugir a esta pergunta: Salvador e a sua gestão atual?
ACM - Olha, não posso fazer juízo ainda da gestão do prefeito João Henrique (PDT). O tempo é curto. Acho, entretanto, que a maneira de formar o secretariado foi extremamente confusa e ele vai ter que ter muito pulso para controlar a sua equipe. Ainda há pouco vi aqui mesmo alguns problemas nos bairros, que ele não é culpado porque são problemas que existem há muito tempo. Mas, se ele não resolver, ele passa a ser culpado também. Nesse caso que você citou (uma matéria anterior sobre os problemas relacionados às chuvas no Bairro da Paz) -, e você faz este grande favor a todos os prefeitos e aos governos da Bahia em dizer todas essas verdades -, nesse caso que você citou, ele é obrigado a resolver, porque você chamou atenção para os problemas de uma população carente que está vivendo daquela forma. Agora, se disser que ele é um mau prefeito, estou fazendo um juízo apressado; e se disser que ele é um bom prefeito, também estou fazendo um juízo também apressado e não gostaria disso. Eu gostaria de fazer um juízo dele daqui há seis meses. Que Deus o ajude a fazer uma boa administração.
Fonte:
Correio da Bahia
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/358105/visualizar/
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