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"Me decepcionei com a Yara", diz Helena Ranaldi
O sorriso franco e cativante sempre foi uma das marcas registradas de Helena Ranaldi.
Nos últimos meses, porém, a atriz tem tido poucos motivos para sorrir.
Embora a novela Senhora do Destino seja um inegável sucesso de audiência - com média de 50 pontos e "share" de 73% - , sua personagem na trama ficou aquém do esperado.
Desde que a executiva Yara Stein foi despedida da empresa em que trabalhava e apareceu na casa de Plínio - personagem de Dado Dolabella - com o filho nos braços, Helena não consegue disfarçar uma pontinha de frustração.
"Na verdade, sempre achei que ela fosse uma mulher mais forte e independente. Nunca passou pela minha cabeça que, um dia, ela se sujeitaria a morar por uns tempos na casa do Plínio", queixa-se a atriz.
Aos 38 anos de idade e 15 de tevê, Helena fala com saudades da Yara dos primeiros capítulos. Daquela executiva sensual e pragmática, que assumiu a responsabilidade de ter um filho de produção independente.
"Curti muito as cenas em que ela dominava a situação. Sentia que lavava não só a minha, mas a alma de várias mulheres que torciam com os foras que a Yara dava no Plínio", lembra.
Das muitas personagens que interpretou na tevê, como a veterinária Cíntia de Laços de Família e a professora Raquel de Mulheres Apaixonadas, Helena aponta Yara como a mais diferente de todas.
"A figura paterna é fundamental na criação de um filho", argumenta ela, separada há quase um ano do diretor Ricardo Waddington e mãe de Pedro, de seis anos.
Durante a entrevista, Helena só esboça o sorriso quando começa a falar de seus projetos para depois de Senhora do Destino. Ainda esse ano, ela pretende voltar a fazer teatro, com a peça As Preciosas Ridículas, de Moliére, e estrear no cinema, com o longa Bodas de Papel, de André Sturm.
Vontade de fazer cinema, aliás, ela sempre teve. Só não fez Mil e Uma, de Suzana Moraes, e O Homem Nu, de Hugo Carvana, porque sempre rolava algum imprevisto. "Fazer cinema é um sonho antigo. Todo mundo que conheço já fez e diz que é uma delícia", admite. Leia a seguir a entrevista com a atriz:
P - O Aguinaldo Silva já declarou que a primeira opção dele para interpretar a Yara foi a atriz Letícia Spiller. O que motivou você a fazer a personagem? R - Geralmente, o que me motiva a fazer esse ou aquele trabalho é a personagem mesmo. No caso da Yara, ela era diferente de tudo que eu já tinha feito. Era uma personagem de infinitas possibilidades. Em segundo lugar, sempre levo em consideração também as pessoas com quem eu vou trabalhar. Na verdade, eu estava de férias quando o Wolf (Maya, diretor) fez o convite: "Olha, Helena, eu sei que você está de férias, mas eu tenho uma personagem aqui que eu gostaria muito que você fizesse". Como já era o segundo convite que ele me fazia, resolvi aceitar. Em Kubanacan, já estava tudo acertado com o Carlos Lombardi, quando o Maneco disse que criou a Raquel pensando em mim. Na época, não consegui recusar um convite desses.
P - Você se queixa da falta de subsídios para compor a Yara. Desde o início, sempre foi assim?
R - Logo no início, o Wolf me deu uma sinopse da novela com um breve resumo da personagem. Mas muita coisa que está na sinopse ainda não aconteceu e, sinceramente, nem sei mais se vai acontecer. Na verdade, achei que a Yara fosse uma mulher mais forte e independente. Nunca imaginei que, um dia, ela se sujeitaria a morar por uns tempos na casa do Plínio. Sei muito pouco dela. Muito pouco mesmo. Se você, por exemplo, conversar com o autor, vai saber mais da Yara do que eu mesma. Aí, quando sair a sua matéria, vou ficar sabendo de tudo o que vai acontecer com ela.(risos)
P - Em algum momento, você experimentou ligar para o Aguinaldo e conversar com ele sobre a Yara?
R - Olha, não tenho esse hábito. Não costumo ligar para os autores. Não gosto de incomodá-los. Só sei o que vai acontecer com as minhas personagens através dos capítulos que recebo em casa.
P - Mas você nunca ligou, por exemplo, para o Manoel Carlos, com já trabalhou três vezes?
R - Ah, mas com o Maneco é diferente! Com ele, eu tenho uma relação de amizade. Até mesmo por já termos feito vários trabalhos juntos, viramos amigos. Já o Aguinaldo, para ser sincera, eu nem conheço. Nunca me encontrei com ele. Com o Maneco, eu tinha uma relação mais pessoal. Eu cheguei até a ir na casa dele em algumas ocasiões. Até porque o Maneco tem esse hábito. É ele quem liga para o elenco. Na verdade, acho que nunca liguei para o Maneco para falar de trabalho. Ele é que gosta de telefonar para os atores com quem trabalha para conversar coisas do tipo: "E aí, está gostando? Escrevi a tal cena pensando em você... O que achou?". A gente acaba tendo uma certa liberdade para conversar sobre trabalho. Já com o Aguinaldo, nunca liguei para ele para conversar sobre o que quer que fosse. Nem eu, nem ele.
P - Mas o que você achou da tão prometida "reviravolta" na trajetória da Yara? Ela já estava prevista desde o início da trama?
R - Sim, estava. Desde o início, já sabia que a personagem apareceria na história, sumiria por uns tempos e, mais adiante, voltaria até o final da trama. Honestamente, gostei muito da Yara num primeiro momento. Gostava das cenas que fiz com o Dado.
Gostava das cenas em que a Yara dominava a situação e, principalmente, aquele garoto, que era um autêntico "galinha". A Yara tinha um comportamento meio masculinizado. Ela era muito interessante de fazer: uma mulher segura, determinada.
Sinto que lavava não só a minha, mas a alma de várias mulheres que torciam com os foras que a Yara dava no Plínio. Quando ela voltou à trama, o fato de ter perdido o emprego, estar numa pior e, ainda por cima, ter um filho para criar fragilizou a personagem. A personagem que era forte e determinada ficou frágil.
P - Mas agradava a idéia de, pelo menos, os dois brigarem na Justiça pela guarda do filho?
R - Sim, agradava e muito. Achava bacana a idéia de o personagem do Dado lutar pelo filho. Na minha opinião, a figura do pai é fundamental na criação de um filho. E a Yara sempre quis ter uma produção independente. Ela achava que a figura do pai não era assim tão importante. O fato de os dois brigarem na Justiça mostraria que o Dado também tem vocação para ser pai. Achava interessante.
P - Na época de Mulheres Apaixonadas, a Raquel cumpriu importante papel social ao denunciar maridos que cometiam violência doméstica. Alguns deles, inclusive, até proibiram as mulheres de assistirem à novela. O que você acha que a Yara teve de bom para passar para o público?
R - Sempre achei a idéia da Yara de optar por uma "produção independente" bastante ousada. Sempre falei isso. Mas há mulheres que não conseguem casar ou, quem sabe, ainda não encontraram o homem ideal para ter um filho. Nesses casos, então, se a mulher quer ser mãe e pode assumir a criança sozinha, acho que tem de ter.
P - Pessoalmente, o que você pensa do assunto? É a favor ou contra a "produção independente"?
R - Particularmente, sou a favor da criação pai e mãe. Nunca teria um filho através de "produção independente". Volto a dizer, a figura paterna é fundamental na criação de um filho. Quando quis ser mãe, foi uma coisa pensada, desejada, com o meu marido.
P - Apesar de pensarem diferente quanto à "produção independente", você e a personagem têm algo em comum?
R - Acho que a única semelhança que existe entre nós é o fato de que tanto eu quanto ela - cada uma à sua maneira, é claro! - querem muito ser mãe. É impressionante como chega um momento na vida de toda mulher em que o sentimento de maternidade fica forte. Aos 27 anos, comecei a ter vontade de ser mãe. Ficava emocionada só de ver grávidas e crianças. Com 31, tive o Pedro. Quanto ao resto, a Yara é completamente diferente de mim. Talvez ela seja, inclusive, a mais diferente de todas que fiz até hoje. Não sou assim tão determinada e fodona. Ops! (risos) Desculpe! Ela é uma executiva, já começa por aí. O trabalho dela é completamente diferente do meu. A postura dela em relação à maternidade também difere da minha. Não temos nada em comum.
P - Você está trabalhando, pela primeira vez, com o Aguinaldo Silva. O que você teria a dizer do trabalho dele?
R - Olha, eu tenho uma participação muito pequena nessa novela. Então, é complicado responder a essa pergunta porque não tive um envolvimento maior na novela. A minha personagem, inclusive, é de participação. Tanto que meu nome só entra nos créditos como participação especial. Acho que, se eu tivesse tido um personagem de maior destaque na trama, eu poderia responder melhor a essa pergunta.
P - E quanto ao Wolf Maya? Já se arrependeu de ter interrompido as suas férias para fazer Senhora do Destino?
R - Não, estou adorando trabalhar com o Wolf. Não fui dirigida por ele muitas vezes, mas acho o Wolf muito bacana. Na verdade, trabalhamos mais no comecinho da novela, na fase de criação da personagem. O importante é que a novela é um sucesso e as pessoas estão gostando dela. É isso o que importa.
Brincadeira de criança
A paixão de Helena Ranaldi Nogueira pela arte de representar é antiga. Aos dez aninhos, ela já gostava de se trancar no quarto da mãe e brincar de atriz na frente do espelho. Por horas a fio, experimentava roupas, perucas, maquiagem. Às vezes, fazia caras e bocas tentando reproduzir alguma cena de novela. "Meu palco era o closet da minha mãe. Era um lugar sagrado para mim", lembra.
Anos depois, quando teve de optar por uma carreira no vestibular, ficou na dúvida entre Marketing e Educação Física. Na última hora, escolheu a segunda opção. "Representar não chegava a ser uma profissão. Era mais uma brincadeira de criança", ri.
Mas Helena não chegou a concluir a faculdade. Lá pelas tantas, começou a trabalhar como modelo e a fazer os primeiros comerciais. "Com a grana que ganhei, paguei o curso de teatro do Antunes Filho", recorda.
Quando completou 23 anos, deixou a casa dos pais em São Paulo para arriscar a carreira de atriz no Rio. Na nova cidade, mandou logo um currículo para a extinta Manchete. Três dias depois, já embarcava para Santa Catarina, onde interpretaria a simpática Stefânia em A História de Ana Raio e Zé Trovão. "No começo, era muito crítica e perfeccionista. Hoje, tento lidar com o sucesso e o fracasso da mesma forma", filosofa.
Na Globo, Helena estreou em 92, quando fez a mecânica Nina em Despedida de Solteiro. No ano seguinte, conheceu o diretor Ricardo Waddington durante as gravações de Olho no Olho. No meio da novela, começaram a namorar e, seis meses depois, se casaram.
Desde então, repetiram a parceria em Quatro por Quatro, Anjo de Mim, Laços de Família, Presença de Anita, Mulheres Apaixonadas e Coração de Estudante.
No currículo da atriz, uma curiosidade: em 96, ela dividiu a bancada do Fantástico com Pedro Bial. "Desde que me entendo por gente, sempre vi o Fantástico. Nunca imaginei que, um dia, estaria lá", brinca.
Parceria de sucesso
A atriz Helena Ranaldi não esconde uma certa predileção pelo autor Manoel Carlos. Juntos, os dois fizeram duas novelas e uma minissérie. Não por acaso, a atriz elege a romântica Lúcia Helena, de Presença de Anita, e a sofrida Raquel, de Mulheres Apaixonadas, como as suas favoritas. "É fácil acreditar nos personagens que o Maneco inventa. Todos eles existem de verdade", elogia.
A parceria entre Helena e Maneco começou em 1994, quando a atriz interpretou a fogosa Cíntia em Laços de Família. Na trama, a veterinária tentava domar o aparentemente indomável Pedro, de José Mayer. Um ano depois, os dois voltaram a contracenar em Presença de Anita.
No livro de Mário Donato, a personagem chamava-se simplesmente Lúcia. Mas a obsessão do autor por Helenas levou Maneco a acrescentar seu nome predileto ao da personagem.
Mas o trabalho mais marcante da carreira da atriz ainda estava por vir. Em Mulheres Apaixonadas, fez a sofrida Raquel, que vivia o drama de ter um companheiro violento. Em junho de 2003, o "Disque-Denúncia" bateu o recorde de ligações, com dez mil chamados. As denúncias contra violência doméstica ficaram atrás apenas das delações contra o tráfico. "Até mesmo pelo contexto social, a Raquel tornou-se muito especial para mim", sublinha.
Trajetória televisiva
# A História de Ana Raio e Zé Trovão, de Marcos Caruso e Rita Buzzar (Manchete, 90) - Stefânia
# Amazônia, de Jorge Duran e Denise Bandeira (91) - Andréa.
# Despedida de Solteiro, de Walter Negrão (Globo, 92) - Nina.
# Olho no Olho, de Antônio Calmon (93) - Malena.
# Quatro por Quatro, de Carlos Lombardi (94) - Suzana.
# Explode Coração, de Glória Perez (95) - Larissa.
# Anjo de Mim, de Walter Negrão (96) - Joana.
# Andando Nas Nuvens, de Euclydes Marinho (99) - Lídia.
# Laços de Família, de Manoel Carlos (2000) - Cíntia.
# Presença de Anita, de Manoel Carlos (2001) - Lúcia Helena.
# Coração de Estudante, de Emanuel Jacobina (2002) - Clara.
# Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos (2003) - Raquel.
# Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral (2004) - Lídia.
# Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva (2004) - Yara.
Nos últimos meses, porém, a atriz tem tido poucos motivos para sorrir.
Embora a novela Senhora do Destino seja um inegável sucesso de audiência - com média de 50 pontos e "share" de 73% - , sua personagem na trama ficou aquém do esperado.
Desde que a executiva Yara Stein foi despedida da empresa em que trabalhava e apareceu na casa de Plínio - personagem de Dado Dolabella - com o filho nos braços, Helena não consegue disfarçar uma pontinha de frustração.
"Na verdade, sempre achei que ela fosse uma mulher mais forte e independente. Nunca passou pela minha cabeça que, um dia, ela se sujeitaria a morar por uns tempos na casa do Plínio", queixa-se a atriz.
Aos 38 anos de idade e 15 de tevê, Helena fala com saudades da Yara dos primeiros capítulos. Daquela executiva sensual e pragmática, que assumiu a responsabilidade de ter um filho de produção independente.
"Curti muito as cenas em que ela dominava a situação. Sentia que lavava não só a minha, mas a alma de várias mulheres que torciam com os foras que a Yara dava no Plínio", lembra.
Das muitas personagens que interpretou na tevê, como a veterinária Cíntia de Laços de Família e a professora Raquel de Mulheres Apaixonadas, Helena aponta Yara como a mais diferente de todas.
"A figura paterna é fundamental na criação de um filho", argumenta ela, separada há quase um ano do diretor Ricardo Waddington e mãe de Pedro, de seis anos.
Durante a entrevista, Helena só esboça o sorriso quando começa a falar de seus projetos para depois de Senhora do Destino. Ainda esse ano, ela pretende voltar a fazer teatro, com a peça As Preciosas Ridículas, de Moliére, e estrear no cinema, com o longa Bodas de Papel, de André Sturm.
Vontade de fazer cinema, aliás, ela sempre teve. Só não fez Mil e Uma, de Suzana Moraes, e O Homem Nu, de Hugo Carvana, porque sempre rolava algum imprevisto. "Fazer cinema é um sonho antigo. Todo mundo que conheço já fez e diz que é uma delícia", admite. Leia a seguir a entrevista com a atriz:
P - O Aguinaldo Silva já declarou que a primeira opção dele para interpretar a Yara foi a atriz Letícia Spiller. O que motivou você a fazer a personagem? R - Geralmente, o que me motiva a fazer esse ou aquele trabalho é a personagem mesmo. No caso da Yara, ela era diferente de tudo que eu já tinha feito. Era uma personagem de infinitas possibilidades. Em segundo lugar, sempre levo em consideração também as pessoas com quem eu vou trabalhar. Na verdade, eu estava de férias quando o Wolf (Maya, diretor) fez o convite: "Olha, Helena, eu sei que você está de férias, mas eu tenho uma personagem aqui que eu gostaria muito que você fizesse". Como já era o segundo convite que ele me fazia, resolvi aceitar. Em Kubanacan, já estava tudo acertado com o Carlos Lombardi, quando o Maneco disse que criou a Raquel pensando em mim. Na época, não consegui recusar um convite desses.
P - Você se queixa da falta de subsídios para compor a Yara. Desde o início, sempre foi assim?
R - Logo no início, o Wolf me deu uma sinopse da novela com um breve resumo da personagem. Mas muita coisa que está na sinopse ainda não aconteceu e, sinceramente, nem sei mais se vai acontecer. Na verdade, achei que a Yara fosse uma mulher mais forte e independente. Nunca imaginei que, um dia, ela se sujeitaria a morar por uns tempos na casa do Plínio. Sei muito pouco dela. Muito pouco mesmo. Se você, por exemplo, conversar com o autor, vai saber mais da Yara do que eu mesma. Aí, quando sair a sua matéria, vou ficar sabendo de tudo o que vai acontecer com ela.(risos)
P - Em algum momento, você experimentou ligar para o Aguinaldo e conversar com ele sobre a Yara?
R - Olha, não tenho esse hábito. Não costumo ligar para os autores. Não gosto de incomodá-los. Só sei o que vai acontecer com as minhas personagens através dos capítulos que recebo em casa.
P - Mas você nunca ligou, por exemplo, para o Manoel Carlos, com já trabalhou três vezes?
R - Ah, mas com o Maneco é diferente! Com ele, eu tenho uma relação de amizade. Até mesmo por já termos feito vários trabalhos juntos, viramos amigos. Já o Aguinaldo, para ser sincera, eu nem conheço. Nunca me encontrei com ele. Com o Maneco, eu tinha uma relação mais pessoal. Eu cheguei até a ir na casa dele em algumas ocasiões. Até porque o Maneco tem esse hábito. É ele quem liga para o elenco. Na verdade, acho que nunca liguei para o Maneco para falar de trabalho. Ele é que gosta de telefonar para os atores com quem trabalha para conversar coisas do tipo: "E aí, está gostando? Escrevi a tal cena pensando em você... O que achou?". A gente acaba tendo uma certa liberdade para conversar sobre trabalho. Já com o Aguinaldo, nunca liguei para ele para conversar sobre o que quer que fosse. Nem eu, nem ele.
P - Mas o que você achou da tão prometida "reviravolta" na trajetória da Yara? Ela já estava prevista desde o início da trama?
R - Sim, estava. Desde o início, já sabia que a personagem apareceria na história, sumiria por uns tempos e, mais adiante, voltaria até o final da trama. Honestamente, gostei muito da Yara num primeiro momento. Gostava das cenas que fiz com o Dado.
Gostava das cenas em que a Yara dominava a situação e, principalmente, aquele garoto, que era um autêntico "galinha". A Yara tinha um comportamento meio masculinizado. Ela era muito interessante de fazer: uma mulher segura, determinada.
Sinto que lavava não só a minha, mas a alma de várias mulheres que torciam com os foras que a Yara dava no Plínio. Quando ela voltou à trama, o fato de ter perdido o emprego, estar numa pior e, ainda por cima, ter um filho para criar fragilizou a personagem. A personagem que era forte e determinada ficou frágil.
P - Mas agradava a idéia de, pelo menos, os dois brigarem na Justiça pela guarda do filho?
R - Sim, agradava e muito. Achava bacana a idéia de o personagem do Dado lutar pelo filho. Na minha opinião, a figura do pai é fundamental na criação de um filho. E a Yara sempre quis ter uma produção independente. Ela achava que a figura do pai não era assim tão importante. O fato de os dois brigarem na Justiça mostraria que o Dado também tem vocação para ser pai. Achava interessante.
P - Na época de Mulheres Apaixonadas, a Raquel cumpriu importante papel social ao denunciar maridos que cometiam violência doméstica. Alguns deles, inclusive, até proibiram as mulheres de assistirem à novela. O que você acha que a Yara teve de bom para passar para o público?
R - Sempre achei a idéia da Yara de optar por uma "produção independente" bastante ousada. Sempre falei isso. Mas há mulheres que não conseguem casar ou, quem sabe, ainda não encontraram o homem ideal para ter um filho. Nesses casos, então, se a mulher quer ser mãe e pode assumir a criança sozinha, acho que tem de ter.
P - Pessoalmente, o que você pensa do assunto? É a favor ou contra a "produção independente"?
R - Particularmente, sou a favor da criação pai e mãe. Nunca teria um filho através de "produção independente". Volto a dizer, a figura paterna é fundamental na criação de um filho. Quando quis ser mãe, foi uma coisa pensada, desejada, com o meu marido.
P - Apesar de pensarem diferente quanto à "produção independente", você e a personagem têm algo em comum?
R - Acho que a única semelhança que existe entre nós é o fato de que tanto eu quanto ela - cada uma à sua maneira, é claro! - querem muito ser mãe. É impressionante como chega um momento na vida de toda mulher em que o sentimento de maternidade fica forte. Aos 27 anos, comecei a ter vontade de ser mãe. Ficava emocionada só de ver grávidas e crianças. Com 31, tive o Pedro. Quanto ao resto, a Yara é completamente diferente de mim. Talvez ela seja, inclusive, a mais diferente de todas que fiz até hoje. Não sou assim tão determinada e fodona. Ops! (risos) Desculpe! Ela é uma executiva, já começa por aí. O trabalho dela é completamente diferente do meu. A postura dela em relação à maternidade também difere da minha. Não temos nada em comum.
P - Você está trabalhando, pela primeira vez, com o Aguinaldo Silva. O que você teria a dizer do trabalho dele?
R - Olha, eu tenho uma participação muito pequena nessa novela. Então, é complicado responder a essa pergunta porque não tive um envolvimento maior na novela. A minha personagem, inclusive, é de participação. Tanto que meu nome só entra nos créditos como participação especial. Acho que, se eu tivesse tido um personagem de maior destaque na trama, eu poderia responder melhor a essa pergunta.
P - E quanto ao Wolf Maya? Já se arrependeu de ter interrompido as suas férias para fazer Senhora do Destino?
R - Não, estou adorando trabalhar com o Wolf. Não fui dirigida por ele muitas vezes, mas acho o Wolf muito bacana. Na verdade, trabalhamos mais no comecinho da novela, na fase de criação da personagem. O importante é que a novela é um sucesso e as pessoas estão gostando dela. É isso o que importa.
Brincadeira de criança
A paixão de Helena Ranaldi Nogueira pela arte de representar é antiga. Aos dez aninhos, ela já gostava de se trancar no quarto da mãe e brincar de atriz na frente do espelho. Por horas a fio, experimentava roupas, perucas, maquiagem. Às vezes, fazia caras e bocas tentando reproduzir alguma cena de novela. "Meu palco era o closet da minha mãe. Era um lugar sagrado para mim", lembra.
Anos depois, quando teve de optar por uma carreira no vestibular, ficou na dúvida entre Marketing e Educação Física. Na última hora, escolheu a segunda opção. "Representar não chegava a ser uma profissão. Era mais uma brincadeira de criança", ri.
Mas Helena não chegou a concluir a faculdade. Lá pelas tantas, começou a trabalhar como modelo e a fazer os primeiros comerciais. "Com a grana que ganhei, paguei o curso de teatro do Antunes Filho", recorda.
Quando completou 23 anos, deixou a casa dos pais em São Paulo para arriscar a carreira de atriz no Rio. Na nova cidade, mandou logo um currículo para a extinta Manchete. Três dias depois, já embarcava para Santa Catarina, onde interpretaria a simpática Stefânia em A História de Ana Raio e Zé Trovão. "No começo, era muito crítica e perfeccionista. Hoje, tento lidar com o sucesso e o fracasso da mesma forma", filosofa.
Na Globo, Helena estreou em 92, quando fez a mecânica Nina em Despedida de Solteiro. No ano seguinte, conheceu o diretor Ricardo Waddington durante as gravações de Olho no Olho. No meio da novela, começaram a namorar e, seis meses depois, se casaram.
Desde então, repetiram a parceria em Quatro por Quatro, Anjo de Mim, Laços de Família, Presença de Anita, Mulheres Apaixonadas e Coração de Estudante.
No currículo da atriz, uma curiosidade: em 96, ela dividiu a bancada do Fantástico com Pedro Bial. "Desde que me entendo por gente, sempre vi o Fantástico. Nunca imaginei que, um dia, estaria lá", brinca.
Parceria de sucesso
A atriz Helena Ranaldi não esconde uma certa predileção pelo autor Manoel Carlos. Juntos, os dois fizeram duas novelas e uma minissérie. Não por acaso, a atriz elege a romântica Lúcia Helena, de Presença de Anita, e a sofrida Raquel, de Mulheres Apaixonadas, como as suas favoritas. "É fácil acreditar nos personagens que o Maneco inventa. Todos eles existem de verdade", elogia.
A parceria entre Helena e Maneco começou em 1994, quando a atriz interpretou a fogosa Cíntia em Laços de Família. Na trama, a veterinária tentava domar o aparentemente indomável Pedro, de José Mayer. Um ano depois, os dois voltaram a contracenar em Presença de Anita.
No livro de Mário Donato, a personagem chamava-se simplesmente Lúcia. Mas a obsessão do autor por Helenas levou Maneco a acrescentar seu nome predileto ao da personagem.
Mas o trabalho mais marcante da carreira da atriz ainda estava por vir. Em Mulheres Apaixonadas, fez a sofrida Raquel, que vivia o drama de ter um companheiro violento. Em junho de 2003, o "Disque-Denúncia" bateu o recorde de ligações, com dez mil chamados. As denúncias contra violência doméstica ficaram atrás apenas das delações contra o tráfico. "Até mesmo pelo contexto social, a Raquel tornou-se muito especial para mim", sublinha.
Trajetória televisiva
# A História de Ana Raio e Zé Trovão, de Marcos Caruso e Rita Buzzar (Manchete, 90) - Stefânia
# Amazônia, de Jorge Duran e Denise Bandeira (91) - Andréa.
# Despedida de Solteiro, de Walter Negrão (Globo, 92) - Nina.
# Olho no Olho, de Antônio Calmon (93) - Malena.
# Quatro por Quatro, de Carlos Lombardi (94) - Suzana.
# Explode Coração, de Glória Perez (95) - Larissa.
# Anjo de Mim, de Walter Negrão (96) - Joana.
# Andando Nas Nuvens, de Euclydes Marinho (99) - Lídia.
# Laços de Família, de Manoel Carlos (2000) - Cíntia.
# Presença de Anita, de Manoel Carlos (2001) - Lúcia Helena.
# Coração de Estudante, de Emanuel Jacobina (2002) - Clara.
# Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos (2003) - Raquel.
# Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral (2004) - Lídia.
# Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva (2004) - Yara.
Fonte:
TV Press
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