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Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 22:24
Por: André Bernardo

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Apesar de já estar há quase um mês no ar, Mad Maria ainda não ganhou velocidade. A impressão que se tem ao assistir à minissérie é que falta "lenha" - ou melhor, "assunto" - para alimentar a caldeira da locomotiva. E a culpa é, em parte, do "maquinista" da minissérie, ou seja, do autor Benedito Ruy Barbosa.

Já foi dito e repetido que Mad Maria está pronta há 25 anos. Na época, por falta de recursos técnicos, tornou-se inviável a transposição da obra para a televisão. Quando Ricardo Waddington viabilizou o projeto, Benedito não se deu ao trabalho de mexer no roteiro. Do jeito que foi escrita em 1980, a minissérie ficou. Com sua vasta experiência na tevê, Benedito bem que poderia ter inserido novas tramas, criado outros personagens...

Por vezes, Mad Maria parece reunir duas minisséries numa só. Uma delas é ambientada em plena selva amazônica e narra o caótico dia-a-dia dos construtores da Madeira Mamoré. A outra, mais glamourosa e requintada, retrata os bastidores políticos da então capital federal, Rio de Janeiro, sempre repletos de conchavos, trapaças e maracutaias.

Como não poderia deixar de ser, os dois núcleos envolvem indefectíveis triângulos amorosos, o mais antigo dos recursos folhetinescos. Bem no coração da selva, Consuelo faz os corações do médico Finnegan e do índio Caripuna baterem mais rápido. Já no Rio, Luiza vai virar alvo de disputa entre dois adversários políticos, Juvenal de Castro e Percival Farquhar. Em comum, os dois triângulos são apenas resfolegantes...

O grande trunfo da minissérie é, sem dúvida, as cenas gravadas na Amazônia. Por motivos óbvios, o cenário tem sido pouco explorado na teledramaturgia brasileira. Mas Ricardo soube explorar bem a paisagem. Como soube explorar também os recursos de computação gráfica. O diretor fez bonito nas cenas que exigiram efeitos especiais. Como a da decapitação de um operário alemão ou da mutilação do índio Caripuna. Elas ficaram perfeitas, nos mínimos detalhes.

No núcleo da selva, aliás, o jovem Fidelis Baniwa já se destaca entre atores mais consagrados, como Fábio Assunção e Marcelo Serrado. Sua interpretação para o índio Caripuna é discreta, mas tocante. Já a sempre bela Ana Paula Arósio confirma que, mais do que obsessão por personagens de época, ela parece ter vocação para tipos sofridos, como a Giuliana de Terra Nostra e a Camilli de Esperança, ambas de Benedito. No capítulo em que recebe as partituras que haviam desaparecido no naufrágio, Consuelo derramou lágrimas que engrossariam o já caudaloso Rio Madeira.

Mas, se o núcleo da selva ainda não engatou, o do Rio de Janeiro também não é nenhum trem-bala japonês. Pelo menos, por enquanto. As intermináveis cenas à mesa, por exemplo, são longas e cansativas. No que diz respeito ao elenco, porém, o núcleo oferece gratas surpresas. Tony Ramos e Cláudia Raia chamam a atenção em papéis pouco convencionais. Habituado a fazer tipos simpáticos, Tony Ramos cativa o telespectador até quando interpreta um sujeito inescrupuloso como o empresário Farquhar.

Nos próximos capítulos, o embate político entre ele e Juvenal de Castro, interpretado por Antônio Fagundes, deve se acirrar. Afinal, Farquhar descobriu que o respeitável ministro tem uma amante, a ingênua Luiza, vivida pela sestrosa Priscila Fantin... No núcleo da selva, um motim organizado por operários alemães também promete sacudir a minissérie. Revoltados com as péssimas condições de trabalho, Günter e Johnathan, entre outros, planejam fugir do acampamento. Para tanto, levam Finnegan e Consuelo como reféns...

Como "maquinista do trem", Benedito Ruy Barbosa pode não ter o que comemorar no ano em que completa quatro décadas de carreira. Afinal, a audiência de Mad Maria, que estreou com 31 pontos no dia 25 de janeiro, já derrapou para 25. Um índice bem abaixo do registrado por Hoje É Dia de Maria, de Luiz Fernando Carvalho, que fechou a microssérie com 32 pontos. Se não ganhar ritmo, Mad Maria se arrisca a descarrilhar a qualquer momento.





Fonte: TV Press

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