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Esportes
Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 10:30
Por: Allen Chahad Luiz Maritan

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Assim como no futebol, o Brasil vem há anos se destacando como um dos melhores do mundo no vôlei e despertando a cobiça do mercado europeu. Prova disso é que os principais jogadores do País estão espalhados pelo planeta, enfraquecendo nossos campeonatos estaduais e nacionais.

A carência de estrelas nas quadras brasileiras só não é maior porque dois dos principais nomes da história do esporte ainda relutam em deixar o País: os consagrados técnicos Bernardinho e José Roberto Guimarães.

Os euros do badalado vôlei italiano, por exemplo, não seduziram os treinadores, que hoje travam uma batalha emocionante na Superliga feminina - o Rio de Janeiro, de Bernardinho, lidera o torneio, seguido de perto pelo vice-líder Osasco, de Zé Roberto.

"Os técnicos brasileiros têm mercado lá fora. O Bebeto (de Freitas, atual presidente do Botafogo) já dirigiu a seleção italiana. Eu tive sondagens da Europa e da China. Isso já acontece há algum tempo, mas acho que ainda é o momento de ficar. Ainda há muita coisa a ser feita", afirmou Bernardinho, em entrevista ao Terra Esportes.

"Tanto o Bernardinho como eu já fomos convidados para treinar fora, mas decidimos não ir. Outros foram, outros foram e voltaram. Ainda não senti que fosse o momento. Meu momento é o Brasil, é ficar perto da família. É de ficar", disse Zé Roberto, também ao Terra Esportes.

O técnico da Seleção feminina vai ainda mais longe na sua análise sobre o posicionamento do papel do treinador no vôlei mundial. Para ele, a mão-de-obra brasileira é a melhor do mundo também à beira da quadra.

"Acho que os técnicos brasileiros são os melhores do mundo. Nenhum treinador tem a criatividade que nós temos, até pelas dificuldades que nós enfrentamos. O técnico no Brasil vai atrás de resolver todos os detalhes, se doa, vive 24 horas por dias o vôlei. Somos da escola do fazer acontecer", afirmou Zé Roberto.

Bernardinho e Zé Roberto, no entanto, já tiveram oportunidade de trabalhar fora do País, na Itália. O atual técnico da Seleção masculina foi como treinador, no começo de sua carreira. Já o comandante do time feminino atuou como jogador, entre 1979 e 1981.

"Foi muito legal. Eu tinha 26 anos e viver fora do País, em um vôlei que estava crescendo, foi muito importante. Tinha muita gente da antiga cortina de ferro que estava jogando lá. Foi uma experiência muito proveitosa em termos de convivência, de ver outros jogadores, de trabalhar com outros técnicos", disse Zé Roberto.

"No início da minha carreira passei quatro anos na Itália. Mas agora, estar na Seleção, estar no Rio, estar com a família pesa para ficar no Brasil", completou Bernardinho.

A tentação do poder econômico europeu, no entanto, é grande. Embalados pela diferença econômica entre o Brasil e a Europa, os estrangeiros chegam ao País com propostas vantajosas.

"Financeiramente não dá para comparar. É uma questão de economia. O contrato em euros é muito maior que em real até pela diferença entre as duas moedas. Eles chegam a valores impossíveis de se competir no Brasil", afirmou Bernardinho.

Competência

O líbero Escadinha é um dos principais jogadores da era Bernardinho na Seleção masculina, mas nunca trabalhou com Zé Roberto. Mas isso não o impede de reconhecer a competência do treinador que deu o primeiro ouro olímpico ao País no esporte.

"É um grande técnico. Ele fez com que o voleibol brasileiro despontasse no mundo, principalmente com o ouro de 1992. Não tive o prazer ainda de trabalhar com ele, que é um técnico vencedor", disse.

Para Escadinha, a obsessão dos dois treinadores pelo trabalho é o principal segredo do sucesso. "O Zé Roberto também não ganhou nada por sorte. É um cara que trabalha bastante. Ele sabe tudo de voleibol. Todos que passaram pela Seleção sabem disso: se você não trabalhar forte não vai vencer. Por isso que eles têm essa primeira lição, que é o trabalho em primeiro lugar."

Considerado o melhor líbero do mundo, o jogador contou uma história para resumir o que pensa do Bernardinho: "Uma vez eu estava treinando sozinho com ele e só tinha 30 minutos de quadra. Treinei tanto que você não faz idéia! Ele acabou comigo... Às vezes você acha que pelo fato de estar sozinho e com pouco tempo não pode trabalhar direito. Isso não existe, você pode na verdade fazer o melhor treino da sua vida".

"Quando se trabalha com o Bernardinho, é preciso estar totalmente voltado para a dor e o trabalho do dia-a-dia. Ele é um cara mais do que perfeccionista. Se você tem mais dez minutos de pulmão para agüentar num treino, ele vai querer. Se você está dentro da quadra e tem 20 minutos, você vai deixar sua vida", completou.

Escadinha disse ainda que a resistência dos clubes estrangeiros em contar treinadores brasileiros está mudando. "Temos o caso do Chico, na Espanha, e o Marcelo, que está na França. É que às vezes se fala mais nos nomes mais badalados".

Sem comparação

A ex-jogadora Ana Moser, que trabalhou com os dois, não gosta da idéia de comparar os treinadores. Para ela, essa é uma polêmica sem razão.

"São trabalhos diferentes, mas são os dois melhores do Brasil. Trabalhei com os dois, que são marcos em vários momentos do vôlei brasileiro. São dois excelentes treinadores", disse.

Para Ana Moser, nem mesmo o sucesso de Zé Roberto e Bernardinho vai abrir as portas do mercado internacional para os brasileiros. Segundo ela, esta é uma questão cultural dentro dos principais clubes estrangeiros.

"É uma cultura em todos os esportes. O Brasil é pentacampeão de futebol e, na Europa, que é a área nobre, tem só dois treinadores (Vanderlei Luxemburgo, no Real Madrid, e Luiz Felipe Scolari, na seleção portuguesa). Do vôlei, tem até mais treinadores lá fora, como nas segunda e terceira divisões da Itália".

Sorte do vôlei brasileiro.





Fonte: Terra

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