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Segunda - 14 de Fevereiro de 2005 às 10:35
Por: Raquel Ferreira

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Os interessados em aprender a tocar a viola de cocho, instrumento tombado no final do ano passado como Patrimônio Cultural Nacional, podem se inscrever no Centro Cultural Casa Cuiabana até amanhã (15) para participar das aulas de iniciação musical nesse peculiar instrumento. O curso é gratuito, sendo patrocinado pelo Governo do Estado, como forma de estimular a preservação desta cultura.

As aulas serão às terças e sextas-feiras, das 19 às 21 horas. A única exigência para fazer o curso é a de que o(a) aluno(a) tenha mais de 10 anos. “O número de vagas é limitado”, informa o cururueiro Antônio de Freitas, professor credenciado para ensinar a viola de cocho. Antônio é papa-banana, natural de Nossa Senhora do Livramento, município situado na Baixada Cuiabana. Suas lides com o instrumento começaram na adolescência, quando ele tinha 16 anos. São mais de 40 anos de envolvimento com a viola, instrumento que integra rituais de destaque da cultura regional como o cururu e o siriri, ao lado do ganzá, espécie de reco-reco feito de taquara; e do mocho, banco com assento de couro percutido com baquetas.

Curso semelhante foi oferecido em 2002, porém, a procura foi insatisfatória. Para este ano a expectativa é boa, principalmente pelo destaque que a viola de cocho ganhou, em nível nacional, com o seu tombamento, e também pelo interesse do público feminino no aprendizado da viola. “Uma das novidades é que o curso está aberto às mulheres”, informa Regina Lobo, coordenadora da Casa Cuiabana, que faz um apelo às escolas para que incentivem alunos e alunas a participarem do curso. Ela aproveita para enfatizar que a Casa Cuiabana vem oferecendo também outros cursos à comunidade, como cavaquinho, violão, flauta doce, bateria, teclado, dança de salão, dança do ventre, balé infantil, técnica vocal e teatro.

‘Seo’ Antônio ressalta que o projeto prevê não apenas a preservação do tradicional instrumento, mas também os valores que ele agrega como a poesia e o próprio repente que, ao som da viola de cocho, se fazem presentes no cururu e no siriri. “Cantando e dançando com movimentos coreográficos por vezes elegantes, o cururueiro atravessa noites a fio sem parar... Ora recordando sua atividade de trabalho, ora saudando alguém, ora lembrando de amores presentes ou distantes, quando não entregando-se ao desafio do competidor, cuja poesia não raro demonstra perspicácia, argúcia e inteligência dos comparsas...”, assinalou o escritor e pesquisador Francisco Alexandre Ferreira Mendes (1897-1984), considerado um dos maiores conhecedores do folclore mato-grossense em todos os tempos.

Tombamento e produção - A viola de cocho foi tombada no início de dezembro do ano passado em cerimônia em Salvador (BA) que contou com a presença do presidente Lula, do ministro da Cultura; Gilberto Gil e do presidente do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Antônio Arantes. O instrumento foi tombado como bem cultural do patrimônio imaterial. Na mesma oportunidade também foram tombados o Terreiro de Alaketo e o Ofício da Baiana de Acarajé. A cerimônia marcou a abertura do Fórum Mundial de Turismo para a Paz e Desenvolvimento Sustentável.

A viola de cocho tem uma produção artesanal e o nome cocho diz respeito à escavação de uma caixa de ressonância em madeira, a semelhança dos cochos usados para depositar alimentos para animais. Tradicionalmente, para a confecção do instrumento são utilizadas matérias primas encontradas nos ambientes do cerrado e do pantanal. É um instrumento típico da região pantaneira, nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Originalmente, a produção da viola de cocho era feita a partir de madeiras como a ximbuva e o sarã-de-leite. Já para produzir outras peças da viola como o tampo, cravelhas, pestanas e cavalete, costumavam ser usadas madeiras como o cedro, aroeira e mogno. Para colar essas peças à viola empregava-se no passado, uma goma fabricada por meio de uma orquídea selvagem (batata-de-sumaré) ou pela bexiga natatória das piranhas. Os trastos eram feitos com cera de abelha e as cordas com tripas de ouriço-cacheiro (porco espinho), irara, macaco prego ou bugio.





Fonte: A Gazeta

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