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Internacional
Domingo - 13 de Fevereiro de 2005 às 19:57

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Em 13 de fevereiro de 1965, Humberto Delgado, conhecido como o "general sem medo" por se opor ao regime ditatorial de Antônio de Oliveira Salazar, caiu em uma emboscada e foi assassinado em território espanhol pela polícia política portuguesa. O motivo deste assassinato de Estado foi que, em 1958, Delgado tinha se apresentado à presidência da República Portuguesa, o que sacudiu os alicerces do regime, pois ele conseguiu juntar grandes multidões que queriam mudanças para obter um regime democrático.

Américo Tomás, que liderava o partido que sustentava a ditadura de Salazar, foi declarado vencedor nas eleições com 75% dos votos, em um processo cheio de irregularidades.

No entanto, segundo observadores independentes, Delgado foi realmente o candidato mais votado.

Depois do resultado das eleições, Delgado foi expulso de seu cargo nas Forças Armadas e partiu para o exílio, primeiro no Brasil e depois na Argélia.

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide), que já tinha tentado matar Delgado no Brasil, não podia falhar novamente e planejou minuciosamente o assassinato do opositor na chamada "Operação Outono".

Na emboscada, Delgado pensava que se reuniria, em um escritório dos correios da cidade espanhola de Badajoz, com um grupo de opositores ao regime, que, no entanto, faziam parte de uma trama cuidadosamente preparada.

A emboscada começou meses antes, quando membros da Pide se infiltraram nos círculos de confiança do general e o convenceram de que ele tinha que viajar para Badajoz, saindo da Argélia, para tentar derrubar o regime.

Ele tinha tanta confiança de que tudo estava acontecendo dentro do previsto, que enviou do escritório dos correios quatro cartões postais a amigos residentes em quatro países diferentes, assinados com um pseudônimo e dizendo que continuava vivo e livre.

O assassinato do "general sem medo" foi realizado por quatro agentes da Pide que cruzaram a fronteira entre Espanha e Portugal usando passaportes falsos.

O grupo era comandado por Antonio Rosa Casaco, acompanhado por Agostinho Tienza, Ernesto Lópes Ramos e Casimiro Monteiro, este último autor dos disparos que mataram Humberto Delgado e sua secretária, a brasileira Arajaryr Moreira de Campos.

Anos depois, Rosa Casaco afirmou que ele e Lópes Ramos não sabiam do motivo real da missão e que apenas receberam ordens para deter o general Humberto Delgado, designação muito diferente da supostamente recebida por Monteiro e Tienza.

Depois do assassinato, Rosa Casaco telefonou para o chefe da polícia política do regime, o major Silva Pais, a quem confirmou as mortes.

Dois meses depois, e diante de denúncias dos amigos do opositor português, a polícia espanhola começou a investigar o fato e encontrou, 24 de abril de 1965, perto da cidade de Villanueva del Fresno, os corpos de Humberto Delgado e de sua secretária.

Em 27 de abril de 1974, dois dias após explodir a Revolução dos Cravos, Rosa Casaco abandonou Portugal e foi acusada e julgada à revelia, em 1981, por assassinato.

Em 1998, o ex-inspetor da Pide foi detido na capital espanhola, em cumprimento de um mandato de captura internacional emitido pela Justiça portuguesa. No entanto, ele não foi extraditado, pois a Audiência Nacional considerou sua "responsabilidade penal" prescrita, sentença ratificada depois pelo Tribunal Constitucional espanhol.

Casimiro Monteiro foi declarado como autor dos assassinatos à revelia, enquanto Silva Pais, outro dos sete acusados neste processo, não recebeu nenhuma condenação, pois morreu seis meses antes da sentença final.

Em 1990, o "general sem medo" foi nomeado a título póstumo como Marechal das Forças Aéreas, e seus restos mortais foram levados para o Panteão Nacional em Lisboa.

Para lembrar seu assassinato, no local exato onde Casimiro Monteiro apertou o gatilho de sua pistola, foi erguido em 1995 um monumento que simboliza o triunfo da liberdade sobre a morte.




Fonte: Agência Estado

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