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Agronegócios
Quinta - 06 de Janeiro de 2005 às 09:03
Por: Mariana Peres

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Um decréscimo de 13% em menos de um mês. Ao contrário de safras passadas, quando o grão super precoce adquiria um sobre preço de até 20% em relação a cotação da saca, os sojicultores estaduais, pioneiros na oferta das primeiras toneladas da nova safra da oleaginosa, viraram o ano apenas com uma certeza, de que a cultura tem preços desvalorizados, e se certificam a cada dia de que os custos não serão cobertos.

Há um mês a saca de 60 quilos na região de Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao Médio Norte de Cuiabá) estava cotada há R$ 28, e ontem, os mesmos 60 quilos com entrega para o final deste mês, estão fixados em R$ 24,50. A defasagem pode chegar a 33%, se comparar os atuais valores, com a média adotada há um ano, de cerca de R$ 36,50 na região.

O analista de mercado da AgRural, em Cuiabá, Seneri Paludo, confirma que o mercado vem recuando em velocidade impressionante. "Da mesma forma que os preços das commodities subiram, como uma flecha, nos primeiros meses de 2004, despencam como raio agora. Em janeiro do ano passado, a saca da super precoce foi comercializada até a R$ 37, e agora, tem média de comercialização de R$ 24,50", explica.

Com grãos de ciclo mais curto, 90 dias, as primeiras toneladas estão sendo retiradas do solo desde a segunda quinzena de dezembro aqui no Estado. Além de contabilizar perdas de 5% a 10% na produtividade, o grão da safra nova não está tendo espaço e nem preço diferenciado no mercado nacional.

Para a secretária de Agricultura de Lucas do Rio Verde, Luciane Copetti, que também é produtora, "temos uma incógnita pela frente, além de preços baixos, não há mercado para absorver o grão super precoce", frisa.

Paludo concorda com a crítica da secretária e completa explicando que de fato os preços estão muito abaixo da expectativa dos sojicultores e que eles estão reticentes com relação a comercialização do grão. "Querendo ou não a safra vai bem, exceto esta lavoura mais precoce, tudo indica que por mais um ano teremos um safra recorde, próxima das 17 milhões de toneladas (t). Com isso temos uma queda de braço, de um lado o produtor cauteloso em entregar seu produto a preços abaixo do seu custo e de outro há os compradores, que sabem da evolução das lavouras. Precisam de soja agora, mas sabem que daqui a 30 dias haverá grão suficiente e que com isso os preços estarão mais pressionados ainda", avalia.

Paludo frisa ainda que na safra passada houve uma valorização da saca, também refletindo na precoce, em função de uma perda de cerca de 35 milhões/t em todo o mundo.

"Para esta safra, com exceção de lavouras do Rio Grande do Sul que sofrem com a falta de chuvas, aqui em Mato Grosso, por enquanto, principalmente com a Ferrugem Asiática sob controle, teremos uma colheita muito boa", reforça o analista.

Janeiro é um mês crucial para o mercado, observa o analista. "Daqui a 20 ou 30 dias teremos como mensurar o que será a safra 04/05 de soja em Mato Grosso e são estas informações que vão ditar o ritmo do mercado, até os preparativos da próxima safra".

MAIS PREOCUPAÇÃO - A secretária de Lucas do Rio Verde, Luciane Copetti, alerta ainda para um outro fator que começa a preocupar os produtores, a intensificação das chuva. Ela explica que até a safra super precoce do ano passado, a média de produtividade era entre 45 a 50 sacas por hectare (ha) e que as primeiras colheitas revelaram uma média de cerca de 46 sacas/ha.

"Se os preços estivessem melhores, o rendimento cobriria os custos. Se já há esta defasagem, imagina quando as chuvas apertarem, ao ponto de atrapalhar a colheita em áreas mais precoces ou a aplicação de fungicidas no combate à Ferrugem?", alerta.

"A chuvas é como um fantasma para nós que sofremos muito na safra passada. Como administradora pública, temo pela falta de dinheiro em circulação que as perdas poderão trazer ao comércio local - dependente do agronegócio - e também para a arrecadação municipal", assevera.

Na safra 03/04, entre ataque da Ferrugem e chuvas, Mato Grosso contabilizou perdas de cerca de 1 milhão/t, ou, 10% da produção, que totalizou 14,9 milhões/t.

Até o final desta semana, a secretária, empossada na última segunda-feira, pretende ter reunido informações para ter um diagnóstico da situação da colheita desta variedades mais precoces e ter dados sobre o rendimento das lavouras. Nesta safra Lucas plantou 216 mil/ha, sendo 25% ocupados por variedades de ciclos curtos.




Fonte: Diário de Cuiabá

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