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Nacional
Segunda - 03 de Janeiro de 2005 às 08:50
Por: Denise Madueño e João Domingos

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Brasília - A rebeldia da bancada de vereadores do PT em São Paulo, que não respeitaram o acordo para eleger Ricardo Montoro (PSDB) presidente da Câmara Municipal, poderá alterar a tendência dos tucanos de apoiar o candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) à presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília. "Isso é lamentável e terá de ser avaliado. É um fato novo que perturba o ambiente e o entendimento anterior", afirmou o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Custódio Mattos (MG).

Ontem, na última hora, o PT deu apoio à eleição de Roberto Tripoli para o cargo de presidente da Casa. Ele foi eleito e, por conta disso, poderá ser expulso do PSDB. O candidato do partido e do prefeito José Serra era Montoro. Com isso, as rusgas surgidas numa Câmara Municipal foram parar no Congresso, detonando uma crise que pode ter conseqüências negativas para o governo federal. O PFL já lançou José Carlos Aleluia (BA) para concorrer com Greenhalgh. E Aleluia vai atrás dos votos do PSDB, que antes estavam assegurados para o PT.

A atuação dos petistas na Câmara de São Paulo ainda reflete a radicalização da campanha de Marta Suplicy e de José Serra. Primeiro, os petistas criaram problemas com o teto do orçamento municipal. Ameaçaram reduzir para 5% o limite de remanejamento de verbas orçamentárias. No fim, acabaram aceitando os 15% originais. Consciente de que a atitude da bancada petista em São Paulo poderá prejudicar a eleição de Greenhalgh - e, por extensão, a governabilidade -, o presidente do PT, José Genoino, anunciou que vai tentar reconquistar o PSDB.

"Vou me reunir com os presidentes dos partidos aliados e dos partidos de oposição, como o PFL e, principalmente, o PSDB", disse Genoino. "Todo mundo sabe que o Greenhalgh e eu trabalhamos pela eleição do vereador Montoro. Nós chegamos a mostrar ao PT paulistano que essa era a nossa intenção, mas o PT local fechou questão e votou no Tripoli", afirmou Genoino.

O PT de São Paulo é presidido por Ítalo Cardoso, ligado à ex-prefeita Marta. Existem informações de que Marta estaria por trás da derrota de Serra. Mas Genoino prefere atribuir isso a especulações. "Não há nada que ligue a Marta ao episódio", declarou. Genoino disse que vai propor à instância máxima do PT que sejam estabelecidas diretrizes segundo as quais todos os petistas terão de obedecer às regras da proporcionalidade, que garantem a presidência dos parlamentos ao maior partido.

"Reconheço que há um desconforto, que não temos o que exigir do PSDB e que erramos no passado, porque lançamos candidatos em desrespeito à proporcionalidade. Mas não fomos só nós. O PSDB também fez isso. Só no governo de Marta, por duas vezes. Ninguém pode alegar que nunca fez isso", afirmou Genoino.

Nas duas vezes em que o PT desrespeitou as regras da proporcionalidade partidária, em uma o candidato foi o próprio Genoino e, em outra, foi o hoje senador Aloizio Mercadante (SP). Genoino afirmou que vai argumentar com os presidentes de partidos que a presidência da Câmara é uma questão nacional e que a regra da proporcionalidade tem sido sempre obedecida, tanto é que o atual presidente, João Paulo Cunha (PT-SP), foi eleito sem dificuldades em 2003 porque o PT é o maior partido.

Greenhalgh declarou que defendeu publicamente o respeito do PT à regra da proporcionalidade e que disse ao prefeito José Serra e a Aloysio Nunes Ferreira, secretário de Governo, que sua influência no diretório municipal petista era muito pequena. "Imagino que o PSDB nacional não será revanchista nesse assunto sobre a minha candidatura", afirmou Greenhalgh.

Em conversa com Greenhalgh e com emissários petistas, Custódio Mattos já havia dito que a tendência da bancada tucana era a de adotar uma atitude institucional, valorizando a política da proporcionalidade, pela qual o partido que detém a maior bancada indica o presidente da Casa, no caso da Câmara, o PT; do Senado, o PMDB. Nas conversas, Mattos também alertou o PT de que a atitude do partido, especialmente em São Paulo, teria influência na decisão.

"O fato de o PT não ter seguido a prática institucional certamente levantará discussão e polêmica no PSDB", disse. Para o líder tucano, além da bancada, a questão deve ser discutida também pela executiva do PSDB. "Não vamos tomar uma decisão de retaliação e de paixão."




Fonte: Agência Estado

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