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Repórter News - reporternews.com.br
Esportes
Domingo - 26 de Dezembro de 2004 às 22:43

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Ele é o mais azarado. A sorte é por ter uma vaga na melhor equipe da Fórmula 1 na atualidade, a Ferrari. O azar, por conseguir tal feito justamente quando o time italiano conta com o melhor piloto de todos os tempos da categoria, pelo menos estatisticamente, o heptacampeão Michael Schumacher.

Rubens Barrichello tem essa consciência. Ele se orgulha de poder bater o rival, em determinadas provas, e garante que se sente em condições de brigar constantemente e ser campeão enquanto o alemão ainda está na Ferrari.

O brasileiro fala sobre o relacionamento com Schumacher, dentro e fora das pistas. Revela, também, que não vê mais a F-1 como via antigamente e que quase abandonou a categoria, quando passou por dificuldades na Jordan, em 1996. O destino, segundo ele, por pouco não foi a Champ Car (ex-F-Indy/Cart).

Barrichello revelou ainda que não gosta das mudanças que a F-1 está impondo às equipes, como o único jogo de pneus por corridas (medida para diminuir a velocidade e aumentar a disputa na categoria). Segundo Barrichello, isso seria um retrocesso.

O piloto brasileiro disse também que acha que a F-1 está muito mais disputada, apesar das 15 vitórias de sua escuderia em 18 corridas da temporada.

Confira a entrevista:

Você está de férias. Quando começa a bater a vontade de guiar um carro de F-1 de novo?

A F-1 não é uma obrigação, é uma paixão. Então, a partir do momento em que você está parado, sente aquela vontade de andar. Tive um ano atribulado, cheio de coisinhas, e agora eu estou vivendo um momento especial, vendo o crescimento do Eduardo, vendo as coisinhas novas que ele fala, aprende. Então essa é a paixão do momento. O fato de andar de kart é uma maneira de desviar um pouco a atenção no sentido de guiar um F-1.

Você fala em um ano "atribulado". O que teve de bom e ruim na sua temporada na F-1?

O melhor foram as vitórias, novamente terminei o campeonato melhor do que comecei. E o pior, talvez, foram os momentos de início de campeonato, de não conseguir rebater o que meu companheiro de equipe estava conseguindo. Demorou um pouco para me acostumar com o chassi, foram andadas, mexendo em set up, até fortalecer meu lado.

Qual o seu pensamento a cada começo de temporada? É sempre pensando na conquista do Mundial?

O pensamento é o mais positivo possível. Você tem uma liberdade muito rande de imaginar o que quiser. Mas acho que você tem de se focar muito e ser aberto a todas as situações. É difícil falar, mas você entra como vencedor da temporada. Daí, vai desenvolvendo o ano como qualquer outro. Porque acontecem coisas. É como numa largada: você está largando em primeiro e fica pensando se vai para o meio, esquerda... Não, o importante é se deixar aberto para ver o que acontece.

Mas dá para ser campeão enquanto o Michael Schumacher estiver na Ferrari?

Tenho consciência de que o Michael é um cara muito bom, fenomenal por tudo aquilo que faz, mas se eu consegui batê-lo em uma, duas provas, consigo bater mais freqüentemente. As pessoas interpretam o que querem, mas o dia que eu achar que ele é melhor do que eu, é o dia que eu tenho de parar, mesmo.

Como é seu relacionamento com o Schumacher, fora das pistas?

A gente não tem um contato diário, mas em treinos ou momentos em que estamos juntos, para algum trabalho de patrocínio, a gente se diverte bastante. Dois brasileiros se dão melhor pelo fato de ser uma característica brasileira, de você querer ser amigo. Agora, para um alemão e um brasileiro, da maneira como eu tenho amizade pelo Michael, acho que temos uma relação boa.

Diria que, como ele mesmo disse, vocês são mais amigos do que rivais? Com certeza. Lógico que quando a gente está fechado em reuniões, tentamos o melhor para a Ferrari. Mas estou pensando em ganhar dele e ele, de mim, isso é óbvio. Acho que nossos trabalhos juntos fazem uma Ferrari muito mais potente. Sem falsa modéstia, um tentando puxar o outro faz o evento ficar mais importante para nós e o carro, mais potente. Nosso trabalho é único.

Você correria em outra categoria, como a Champ Car ou IRL?

Hoje em dia, não. No passado, cheguei até a pensar em correr na Cart. Acho que a vida nos EUA é melhor do que na Europa, pelo simples fato de vida, não categorias. Mas a F-1 sempre foi a minha intenção.

Você quase deixou a F-1, então?

Foi nos momentos difíceis, final de Jordan, a Stewart ainda era muito nova, Sauber... Estava nessa situação, entre Stewart, Sauber ou Cart. Mas não tinha nenhuma proposta. Era um momento de conversas, teria de ter evoluído muito mais. Foi a minha época de maior dificuldade na F-1, até por estar desacreditado. Mas foi um momento que mais me ensinou em toda a carreira. Hoje, tudo isso que você vê, essa serenidade, se deve àqueles momentos difíceis que passei. Aprendi com isso.

Quando será a hora de parar?

Tenho contrato até 2006, acho que está muito em aberto a situação. Provavelmente a Ferrari, ou outras equipes, devem começar a falar em negociações no final do ano que vem. Acredito que Deus olha por nós de forma muito igual, e a gente que tem de reger os nossos papelzinhos aqui na Terra. Tenho muita tranqüilidade. Se em 2006 eu vir que não é isso ou aquilo, que não tenho chances de ganhar, pode ser por ali. Senão, me vejo correndo mais quatro ou cinco anos numa boa.

Correr na Ferrari, você sempre disse, era um sonho. É um sonho, também, encerrar a carreira lá?

O sonho é ser campeão do mundo, não importa a equipe em que esteja. Você tem de lutar pelo campeonato do mundo, é assim que encaro. Hoje é a Ferrari que mais dá condições para isso. A Williams foi uma das equipes com quem conversei, mas a Ferrari foi a melhor escolha.

Muito se fala da criação de uma categoria paralela a F-1 a partir de 2008. Você acredita nisso?

A F-1, hoje em dia, não é tão estável como já foi anos atrás. Isso, para mim, é um pouco feio, chato. Há algumas regras acontecendo que, na minha opinião, não são favoráveis. A contenção de custos tem de tomar posse, mas há certas coisas que acontecem que eu não gostaria de ver na F-1. Isso pode causar um certo descontentamento da parte de alguns pilotos, você pode ver que hoje em dia a gente não fala muito nisso porque a F-1 é eficiente. Acho que o campeonato ainda é disputado, por mais que a Ferrari tenha ganho 15 das 18 provas, mas espero que não vire uma loteria, como o que eles imaginam no futuro.

O que é desagradável?

Não gosto do fato de ter de correr com um pneu só. Isso é voltar muito no tempo. Usar um motor a cada duas provas cria um pouco de loteria que dá chances para um e outro, isso é legal. Mas correr com um pneu só não tem valor nenhum.

Você vem tentando impor uma personalidade forte, de tempos para cá. Que pessoa você quer ser?

Sou uma pessoa determinada, teimosa. As pessoas podem falar: "Onde ele consegue enxergar que pode ser melhor que o Michael?" Mas se não fosse essa minha teimosia, eu teria comido poeira durante cinco anos. E, apesar de ele ter sido campeão nesses cinco anos, eu fiz história. Fui o primeiro cara a classificar uma Ferrari na frente dele, a largar na pole position em cima dele. Ou seja, coisas pequenas, pouco valiosas, mas que fizeram com que minha história melhorasse na Ferrari. Então, acho que minha principal característica é esse minha determinação e positivismo. Defeito a gente tem. Cometemos erros no dia-a-dia. O importante é aprender com eles.

O Schumacher disse que você é injustiçado no Brasil. Você se sente assim?

Isso é indiferente, na minha opinião. Talvez apenas alguns darão valor àquilo que eu fiz no dia que eu parar. Aconteceu muito com o Ayrton. Ele só virou o herói que é depois que morreu. Um herói que sempre existiu para mim. Nesse sentido, é uma injustiça. Mas quanto a minha pessoa, não mexendo com a minha integridade, não falando da minha família injustamente, você está aberto para receber críticas e, se valerem, você aprende com isso. Há muita bobagem falada no Brasil, de gente que vive o ano inteiro sem noção nenhuma, que faz futebol e, de repente, no GP do Brasil é escolhido para falar de corrida. Aí, sai bobeira mesmo, entendeu? Até aí, acho que as pessoas têm de ter opinião. Mas o Brasil está ficando muito craque em vender matéria, não o fato de, realmente, descrever o que é o piloto. "Vamos vender aquela que vai ser comprada, que é polêmica". Acho que o Brasil tem um pouco disso. Em todos os lugares do esporte. Tivemos isso com o Guga, com a Daiane, com pessoas que trouxeram ouro e alegria para a gente. Por que não apoiar quando eles também estão em dificuldade? O Brasil peca um pouco nisso. Mas também tem muita gente boa, que entende, legal.

Em 12 anos de F-1, quem é ou foi o seu grande amigo? E desafeto?

Meu melhor amigo foi o Jackie Stewart. Uma pessoa com quem convivi bastante, um "feed back" muito bom. Desafeto eu não carrego para frente. Se alguém não gosta de você, você tira a limpo, se vale a pena. Se não vale a pena, deixa quieto.




Fonte: L! SportPress

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