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Economia
Domingo - 26 de Dezembro de 2004 às 10:40
Por: Mariana Carneiro

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A nova fronteira do crédito pessoal, o empréstimo com desconto em folha para aposentados e pensionistas guarda peculiaridades que fariam o fundador do pensamento liberal, Adam Smith, tremer. Embora ofereçam menor risco de inadimplência para os emprestadores, os aposentados pagam taxas mais elevadas do que os funcionários públicos da ativa e os trabalhadores do setor privado. Pelo período de 36 meses (três anos), os aposentados e pensionistas encontram taxas em torno de 3,5% ao mês. Já os empregados do setor privado arcam com juros de até 2,3%.

Se a diferença percentual pode parecer pequena, no bolso ela é dolorosa. Em um empréstimo de R$ 2 mil, por exemplo, o funcionário do setor privado pagaria prestações de R$ 82,30 e o aposentado, R$ 98,57. No fim do período, o segundo já teria pago R$ 3.548, quase o dobro do valor pedido.

A taxa de inadimplência nos empréstimos para aposentados e pensionistas, segundo estimativas do Bradesco, gira em torno de 1%. No mercado como um todo, ela é de cerca de 5%. No entanto, os juros cobrados a este tipo de consumidor são bem maiores. No recente parceiro do Bradesco, Bonsucesso - o convênio foi firmado na última semana -, a taxa oferecida para o período de três anos é de 3,45% ao mês para aposentados e pensionistas.

- Nenhum dos riscos que incidem sobre o funcionalismo ou sobre o empregado do setor privado ocorre entre os aposentados. Não há exoneração, demissão, a pensão segue para o dependente e há seguro em caso de morte. As possibilidades de inadimplência são ainda mais remotas do que no funcionalismo estadual e municipal, onde existe o risco de o governante atrasar o salário - afirma o vice-presidente do Banco Bonsucesso, Paulo Henrique Pentagna Guimarães.

Esse ''mapa da mina'', segundo ele, tem privilégio sobre os demais tomadores do banco. As taxas oferecidas aos servidores estaduais ficam em torno de 4% e nem sequer há possibilidade de empréstimo ao empregado privado.

- Atendemos à demanda de um conjunto de pessoas (aposentados e pensionistas) que nunca tiveram acesso ao crédito, que sempre ficaram de fora do mercado bancário - opina.

No mercado, entretanto, esta vantagem dos aposentados desaparece. No próprio Bradesco, que já opera empréstimos consignados (termo técnico para o desconto em folha) com uma carteira de R$ 990 milhões, os empregados do setor privado e os servidores encontram taxa de 2,9% para 36 meses. Se o empregado for sindicalizado e filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), pode conseguir uma taxa de 2,3% em bancos conveniados.

- Bancos, governo e sindicatos estão buscando o barateamento das taxas para o setor privado. Por isso, é possível oferecer crédito a essas taxas, mesmo com garantias menores. Isso porque os empregados da iniciativa privada têm um turnover (rotatividade) maior - justifica Décio Tenerello, vice-presidente do Bradesco.

O economista Fábio Gallo, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), dá pistas sobre a lógica que pode explicar a distorção no mercado financeiro.

- O custo sempre poderia ser mais baixo. O banco acaba formando uma cesta em que compõe as operações que dão mais e menos dor-de-cabeça e compensa prejuízos no segundo grupo. Quanto mais transparente e na direção de atitudes concretas para criar concorrência, maior é a tendência de queda nas taxas.




Fonte: JB Online

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