ONG ensina produzir hortas orgânicas

O terceiro setor se organiza mais a cada dia, assumindo características de um segmento da economia. Em Mato Grosso, as associações e entidades empregam 13.392 pessoas, que se somam a quase 1,5 milhão de brasileiros. Mas em 77% delas não há qualquer funcionário registrado, um indicador de trabalho informal ou voluntário.

“Uma entidade é igual a uma empresa: tem que funcionar dentro dos bons princípios empresariais, tem que ter políticas de capacitação, remuneração, tem que pagar impostos e cumprir as leis”, atesta o coordenador executivo do Instituto Centro Vida (ICV), Sérgio Guimarães.

O ICV surgiu como a maioria das ongs. Em 1991, um grupo de engenheiros, biólogos, advogados, médicos e funcionários públicos se uniu para atuar em questões ligadas ao meio ambiente. Treze anos depois, o instituto foi referência em questões importantes em Mato Grosso, como a criação do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, a hidrovia Paraguai-Paraná e a Usina de Manso.

Não é fácil continuar. Para trabalhar nos projetos, as entidades dependem de financiamentos, a maioria deles com algarismos para acabar e data para terminar. “Cada dia é uma batalha”, afirma Sérgio. O desafio atual é conseguir recursos para o projeto Quintais Produtivos, cujas verbas acabaram este ano.

O projeto começou em 2000 e atua nos bairros Novo Paraíso e Jardim Vitória. Atualmente, 154 famílias são atendidas com assistência técnica e insumos para produzir hortas orgânicas (sem qualquer produto químico) nas próprias casas. “Partimos da pobreza e do histórico dos bairros. Aqui foi garimpo e não tem solo agricultável”, explica o permacultor Erlon Marcelino Bispo.

Não se trata apenas de ajudar a produzir. “Fazemos treinamento, capacitação, trabalhamos a auto-estima e o fato da criança também querer ficar dentro de casa”, explica. As famílias aprendem a plantar cebolinha, alface, couve, beterraba, rabanete etc. E passam a valorizar a própria capacidade de produzir.

“Não damos o peixe, ensinamos a pescar”. O jargão ajuda a definir a atividade. Na hora de implantar a horta, os técnicos fazem questão de elaborar o projeto com o morador. “Fazemos junto para que a pessoa assuma que aquilo é dela. E a pessoa, mesmo sem saber ler nem escrever, faz o projeto”, afirma.