Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Sexta - 24 de Dezembro de 2004 às 09:36

    Imprimir


Por que esperar pelos apelos comuns dessa época do ano, e só então se sensibilizar com a privação do próximo? Não que essa seja uma atitude reprovável, mas a verdade é que essas famílias que recebem doações no Natal precisam de ajuda durante o ano todo. Muitas delas para dispor do alimento à mesa, roupas, calçados, comprar medicamentos ou uma palavra de conforto.

Sensibilizados com a miséria do próximo nos outros meses do ano, milhares de mato-grossense optaram por ser voluntários de dezembro a dezembro.

Para eles, a falta de tempo ou de dinheiro não são problema na hora de decidir sobre fazer algo de forma continuada aos mais necessitados. Pessoas como a dona de casa Francisca Castro da Silva, de 58 anos, que aos sete anos já colaborava com a comunidade onde vivia.

Viúva, quatro filhos e seis netos, há mais de 15 anos dona Francisca mora no CPA IV. A história dela é de uma mulher simples, com sofrimentos e alegrias como todos os seres humanos, mas um grande exemplo de vida. Na infância, logo depois de ser alfabetizada pelos pais, dona Francisca começou a ensinar outras crianças a ler e em poucos meses assumiu a função de catequista.

Casou-se aos 17 anos e, mesmo com a chegada dos filhos e a escassez de tempo por causa das obrigações de mãe e dona de casa, continuou participando de movimentos comunitários. Ao mudar-se para uma cidade maior, em Goiás, hospedava em sua casa gestantes para pré-natal ou parto e outros ex-vizinhos em tratamento médico ou compras.

Atualmente, dona Francisca percorre bairros carentes nos quais atende famílias. Também visita doentes, idosos e conforta pessoas que perderam entes queridos. Além da palavra de fé, ela ajuda na coleta de alimentos, roupas e calçados para atender famílias cadastrada na comunidade regiliosa da qual faz parte.

Para dona Francisca, “oração sem ação não tem sentido”. Ministra e legionária de Maria na igreja Coração Imaculado de Maria, no CPA IV, ela contou que já enfrentou muitos perigos em suas peregrinações.

Uma tarde, contou, junto com outra missionária, entrou numa casa para fazer orações e descobriu que nela se escondiam dois fugitivos da justiça. Dois homens que haviam praticado assaltos. “Vimos armas, até uma metralhadora, mas não mudamos nossa missão e rezamos com a família. Fomos muito bem recebidos”, completou. Surpresa, dois dias depois ela soube pela imprensa que os assaltantes se entregaram à polícia.

Nas casas e empresas que percorre em busca de ajuda para campanhas permanentes, ela diz que às vezes percebe que está incomodando. Mas pela vontade de suprir a necessidade de alguma família, dona Francisca continuará sendo insistente. “Fico chocada com a miséria e por isso acho que tenho por obrigação continuar”, ensinou.

Nas poucas horas de folga, ela ainda encontra tempo para formar as fraudas que costuma doar às gestantes carentes ou para fazer artesanato para presentear crianças e idosos. Como as bonecas de lã com garrafas plástica que aprendeu com a neta numa recente visita à casa do filho, em Tangará da Serra.




Fonte: Diário de Cuiabá

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/362673/visualizar/