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Economia
Quarta - 22 de Dezembro de 2004 às 13:46

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Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrar 2004 com elogios à política econômica, a relação entre o Palácio do Planalto e a diretoria do Banco Central está em um momento ruim. Três diretores do BC estão insatisfeitos com o que julgam críticas injustas à política de juros básicos da economia (Selic).

Nos bastidores, existem rumores de que esses diretores do Banco Central poderiam até deixar o cargo por iniciativa própria, se o governo não estiver satisfeito com o trabalho deles.

Do Palácio do Planalto, especificamente do ministro José Dirceu (Casa Civil), existe um desejo de que eles sejam substituídos. Mas no curto prazo não existe previsão de troca.

Os insatisfeitos no BC são Afonso Sant'ana Bevilaqua, diretor de Política Econômica, Eduardo Henrique de Mello Motta Loyo, diretor de Estudos Especiais, e Alexandre Schwartsman, diretor de Assuntos Internacionais.

Além das críticas freqüentes de membros do governo à diretoria do BC, os diretores ficaram contrariados com a reportagem da Folha de sexta-feira passada que dizia que Lula avisara que o aumento da Selic em dezembro era o último da atual fase de elevação dos juros.

Não gostaram também de ver publicada a informação de que miram em uma inflação de 5,3% para o próximo ano, e não de 5,1%, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Tal dado, levado ao conhecimento de Lula pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, provocou naquele dia a queda da curva de juros futuros projetada pelo mercado financeiro. A elevação da Selic em 0,5 ponto percentual dois dias antes tivera o objetivo de elevar tal curva.

Na mesma sexta-feira, o Banco Central divulgou nota dizendo que continua a mirar numa inflação de 5,1%. Mas a Folha apurou que os cálculos do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão que se reúne mensalmente para fixar a Selic, apontavam que o recente processo de elevação dos juros objetiva uma inflação de 5,3% no ano que vem.

A meta oficial de inflação do próximo ano para o IPCA é de 4,5%. Há uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais, o que eleva o teto para 7% ao ano. O BC, porém, diz oficialmente que não vai mirar em 4,5%, mas em 5,1%. Na prática, porém, busca 5,3%.

Questionamentos

Bevilaqua se queixa reservadamente de ter ficado com a pecha do "malvado que sobe os juros e tolhe o crescimento econômico". Respeitado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, o diretor de Política Econômica é o homem forte da instituição e o responsável por ter elevado a Selic contra a vontade do presidente Lula, do ministro Dirceu e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Schwartsman perdeu poder para o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, na emissão de títulos no mercado externo, que voltou a ser uma responsabilidade do Tesouro. Aliado de Bevilaqua, ele também se incomoda com os petardos que recebe de Dirceu.

Loyo tem demonstrado a interlocutores desejo de sair do cargo. Ele, que se alia a Bevilaqua e a Schwartsman nas reuniões do Copom, é outro que reclama das críticas de membros do governo.

Em março, Palocci e Meirelles chegaram a fraquejar, questionando a consistência da política monetária. Bevilaqua, entretanto, a bancou. Argumentava que o BC acertara em 2003 e agora, ao final de 2004, repete tais alegações para refutar as críticas.

Hoje, Palocci e Meirelles reconhecem que a avaliação de Bevilaqua, de que a política monetária iria gerar crescimento no momento certo, estava correta no início do ano passado.

O ministro da Casa Civil, que viu ser inútil tentar minar Palocci e Meirelles perante Lula, passou a insistir num suposto conservadorismo da política monetária de parte da diretoria do BC. Dirceu avalia que tal política represa o crescimento.

Mais uma vez, Bevilaqua rebateu nas conversas reservadas essa avaliação, mas, pela primeira vez, demonstrou uma irritação acima da usual. Por isso, surgiram rumores de que poderia até deixar o BC. A interlocutores, Bevilaqua negou tal possibilidade.

O Copom tem nove membros. Os três diretores tidos como mais conservadores, numa postura que agrada mais ao mercado, são Bevilaqua, Loyo e Schwartsman. O diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, que chegou ao Banco Central faz pouco tempo, também se alia a eles. Ou seja, quatro "conservadores", na visão de Dirceu, seriam demais.

Os demais diretores, que na maioria das vezes fecham com a posição de Meirelles, são João Antonio Fleury Teixeira (Administração), Sérgio Darcy da Silva Alves (Normas e Organização do Sistema Financeiro), Paulo Sérgio Cavalheiro (Fiscalização) e Antonio Gustavo Matos do Vale (Liquidações e Desestatização), todos funcionários de carreira do Banco Central.




Fonte: 24 Horas News

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