O julgamento do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes e outros quatro réus não será adiado e acontecerá no próximo dia 19 de novembro, se depender do Ministério Público (MP). O promotor do Tribunal do Júri do Fórum de Contagem (MG) Henry Wagner Vasconcelos Castro disse que vai se antecipar às possíveis e já divulgadas manobras de alguns advogados de defesa.
"Nós vamos tentar de todas as maneiras que o julgamento seja realizado. Foi noticiado não somente a mim, mas também à magistrada que preside o processo (juíza Marixa Fabiane), por um dos advogados do réu Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, que bastaria um olhar dele para o Bruno para que este último desconstituísse em plenário e no repente o seu atual defensor, que é o doutor Rui Caldas Pimenta, de modo a se provocar o adiamento do julgamento com relação a este réu", revelou.
Para evitar que os réus fiquem sem advogados no início do júri, como aconteceu com o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos no julgamento dele por outro crime, no último dia 5 de novembro, o promotor já solicitou à juíza Marixa Fabiane que ela comunique à Defensoria Pública para que o órgão providencie imediatamente novos defensores para Bruno, caso ele destitua os advogados no plenário.
"Se isso acontecer, sem sombra de dúvidas, a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais será acionada para promover a defesa do acusado Bruno", informou. Henry Wagner Vasconcelos Castro afirmou ainda estar pronto para enfrentar as manobras e também as provocações dos advogados, principalmente Ércio Quaresma e Zanone Manuel, que defendem Bola, e Rui Pimenta, que representa Bruno.
"(Estou) extremamente preparado. Conheço as provas, conheço os viezes da defesa e vou ao plenário buscar a condenação dos réus", garantiu.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
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