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Cidades/Geral
Sábado - 18 de Dezembro de 2004 às 08:14
Por: Alecy Alves

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Uma ação impetrada pela Advocacia Geral da União (AGU) requerendo a posse de terras do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, preso no Uruguai desde abril de 2003, pode acabar com um bairro e deixar dezenas de famílias sem teto em Cuiabá. O bairro Getúlio Vargas II, no Coxipó, surgiu de invasão há mais de dois anos e abriga cerca de 60 famílias.

As famílias ocupam parte de uma área de 26,9 mil hectares, com frente para a avenida Fernando Corrêa da Costa, adquirida pelo ex-bicheiro em agosto de 1986. Cada uma “grilou” um lote com tamanho que varia entre 250 e 300 metros quadrados. Através de cota, os invasores contrataram e pagaram uma empresa para abrir as ruas e arregimentaram outras pessoas para fazer as “gambiarras” (ligações clandestinas) de água e energia elétrica.

Esta semana, na primeira audiência do processo, a presidente da associação do bairro, Margarida Marques Ferreira, declarou que a área foi ocupada em 2002, antes da prisão de Arcanjo. Mesmo assim, conforme ela, nenhum morador foi pressionado a deixar o lote pelo ex-bicheiro ou representantes deles.

Entre os moradores do Getúlio Vargas II está Juliana Araújo da Silva, de 23 anos. Mãe de um menino de dois anos e grávida do segundo, Juliana mora em um barraco de um cômodo construído com restos de madeira. O marido, Alex Roberto de Freitas, de 23, trabalha como pintor de parede mas não tem emprego fixo.

Preocupada com a ameaça de despejo, Juliana diz que se perder esse lote não tem para onde ir. “Morávamos na casa de minha sogra, vizinha daqui, mas será impossível voltar pra lá”, reclamou. A casa de dona Francisca Fortes, onde Juliana vivia, tem apenas quatro peças, ocupadas por uma família de cinco pessoas.

Giselli Gonçalves, de 20 anos, vizinha de Juliana, está preocupada com a possibilidade de ter de deixar o lote e o barraco onde mora com o marido e o filho de um ano e meio. Antônio Alves da Silva, de 35 anos, com quem Giselli vive há três anos, trabalha como operador de máquinas e ganha R$ 600.

Como Antônio tem outros dois filhos para os quais paga pensão, Giselli diz que ficou difícil continuar morando de aluguel. Ela contou que foi avisada pela sogra sobre a invasão das terras de João Arcanjo Ribeiro e junto com o marido construiu um barraco no fundo do terreno fazendo planos de erguer uma moradia melhor.

Mas entre os moradores que precisam de um teto, há pessoas fazendo especulação imobiliária. Ao lado do barraco de Giselli, há uma casa de alvenaria à venda.

O juiz Julier Sebastião negou o pedido de liminar para reintegração de posse apresentado pela AGU, considerando a medida inviável, por ora. Mas acatou a ação, que agora obedecerá os trâmites processuais até o julgamento final do mérito.




Fonte: Diário de Cuiabá

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